Clip Click
Artistas de “Barlovento” conversam com Panis & Circus
O espetáculo é definido por eles como uma criação coletiva com identidade latina
Bell Bacampos, da Redação
Um árabe (Federico Galván), um italiano (Martín Umérez), uma francesa (Ana Clara Manera) e um russo (Juan Ignacio Rey) formam a tripulação de um navio que singra os mares e atravessa tormentas e calmarias – em uma analogia com a travessia da vida. A tripulação não fala a mesma língua, mas acaba se entendendo por gestos que traduzem sentimentos.
Essa é a síntese de “Barlovento” – em português barlavento – o lado que o vento sopra. O espetáculo premiado, e criado pela cia. argentina Hazmereir (de Mar del Plata) –, esteve pela primeira vez no Brasil, durante Circos – Festival Internacional Sesc de Circo 2015.
Após o espetáculo, numa quinta-feira 4/6, no Sesc Consolação, os artistas de “Barlovento” conversam com Panis & Circus.
Eles contam como surgiu a ideia de “Barlovento” – “que foi copiada”, brinca Juan Ignacio.
O espetáculo é resultado de criação coletiva e foi se delineando durante pesquisa e improvisações feitas ao longo de 2012, afirma Marin. A única ideia definida, acrescenta Ana Clara, era que tinha que ser em um barco a navegar no mar, às vezes, calmo, outras de águas turvas e ainda outras sujeito a ventos e trovoadas. Federico Galván explica que a trilha sonora foi composta especialmente para o espetáculo e considera que exista “um cenário convidativo para os artistas de circo na Argentina, Brasil e demais países da América do Sul. Muitos artistas vão estudar e trabalhar na Europa e depois voltam e acabam repassando o conhecimento”.
Para ele, “os latinos gostam de circo”, que, atualmente, vê refletida sua face contemporânea.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Panis & Circus: Como surgiu a ideia de “Barlovento”?
Juan Ignacio Rey: Foi copiada. (Risos)
Martín Umérez: Foi uma criação coletiva. Nós somos amigos há muito tempo. Tínhamos outros trabalhos, mas sempre a vontade de trabalharmos juntos. Foi assim que, em 2012, decidimos não aceitar diferentes propostas e nos dedicar à criação do espetáculo.
Juan Ignacio: 2012 foi um ano de pesquisa, de criação coletiva, de experimentação. A partir daí, a gente descobriu os personagens. E veio também com eles a brincadeira que um não compreendia a língua do outro. E foi parar nas mãos do diretor Alan Darling, que fez a dramaturgia do espetáculo, misturando e conectando o circo ao teatro.
Panis & Circus: Vocês têm origem no circo ou no teatro?
Ana Clara Manera: Nós temos nossas raízes no circo – tanto o de rua quanto o de escola. Nós tínhamos um espetáculo (ela e Martín) de rua e Juan Ignacio, outro. E Federico fazia apresentações com suas marionetes. Ao montarmos “Barlovento” queríamos que o espetáculo estivesse ligado a uma história – a uma dramaturgia. A linguagem circense uniu-se à teatral. O diretor de “Barlovento”, o Alan Gripp, é de teatro. Para criar o espetáculo reunimos artistas provenientes do circo e um diretor de teatro com o objetivo de mesclar as artes: as habilidades circenses à disposição da dramaturgia.
Após um processo intenso que durou o ano inteiro de 2012, estreamos, em 2013, na Argentina.
Panis & Circus: Os personagens – um italiano (Marco), uma francesa (Anik), um russo (Krauft) e um árabe (Abdul) – surgiram durante o processo de improvisação, conforme relatado. Mas vocês tinham um tema básico nessas improvisações?
Ana Clara: Quando começamos a única ideia básica era que o espetáculo acontecia em um barco que fazia sua travessia no mar.
,
Panis & Circus: Há quanto tempo vocês estão apresentando “Barlovento”? E é a primeira apresentação no Brasil?
Martín: Aqui é a primeira vez. Hoje (quinta-feira 4/6) é a nossa 78ª apresentação de “Barlovento”.
Panis & Circus: Como vocês chegaram ao Circos – Festival Internacional Sesc de Circo?
Ana Clara: Nós já tínhamos vindo com outros espetáculos para o Brasil e percorrido o circuito Sesc. Mas é a primeira vez que apresentamos “Barlovento” no Brasil.
Juan Ignacio: Foi por meio da produtora Difusa Fronteira, que é de Felipe França Gonzalez. Ele é um amigo, um grande colega e que conhece as culturas brasileira e argentina. E promove um entrelaçamento entre elas.
Panis & Circus: O produtor é brasileiro ou argentino?
Juan Ignacio: Ele é uma mistura. (Risos)
Ana Clara: É brasileiro, mas vive há muitos anos na Argentina. Estudou em Córdoba.
Panis & Circus: Em cena, vocês quatro jogam malabares, sobem no mastro chinês, entram na cabine do navio (que é uma caixa propícia ao ilusionismo) e usam e abusam do humor. Como foi a divisão dos papéis?
Juan Ignacio: É isso mesmo. A gente faz de tudo em cena e não faz nada também. (Risos). Mas, nós (eu e o Federico) estamos mais ligados à palhaçaria e eles (Ana e o Marin) à acrobacia.
Martín: Estamos ligados aos espetáculos de rua e também aprendemos a arte na escola. Eu conheci a Ana Clara na escola de circo La Arena.
Juan Ignacio: E eu e o Federico fizemos Circo Criolo – ambas na Argentina.
E é preciso enfatizar que nos espetáculos buscamos também a identidade latina, que valoriza muito sentidos e sentimentos.
Panis & Circus: E como foi feita a trilha sonora do espetáculo?
Federico Galván: A gente levou as imagens de vídeo para que fosse feita a trilha sonora – se tivesse uma cena de tormenta, a música deveria acompanhar e vice-versa em situação de calmaria. A música é original e criada, especialmente, para “Barlovento”.
Panis & Circus: “Barlovento” é um espetáculo mais teatral ou mais circense?
Ana Clara: É difícil falar qual arte se sobrepõe. É uma mistura das duas – acompanhada de música e dança.
Mas tudo o que fizemos tinha uma razão de ser. Uma cena só ficava no espetáculo caso tivesse justificativa na dramaturgia. Não se colocou a destreza acima de tudo só para se mostrar a destreza em cena. Todos os movimentos tinham ligação com a história que está sendo contada.
Panis & Circus: Como veem o cenário circense latino-americano?
Federico: Existe um cenário muito forte para os artistas de circo na Argentina, Brasil e demais países da América do Sul. Muitos artistas vão estudar e trabalhar na Europa e depois voltam e acabam repassando o conhecimento. Os latinos se interessam muito pelo circo.
Postagem – Alyne Albuquerque