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Artistas do Amarillo mudam a cara do circo
Musicistas e palhaços, eles participam da criação do Zanni
Os músicos e malabaristas Pablo Nordio e Marcelo Lujan (foto acima) compõem uma dupla de palhaços no Circo Amarillo há 15 anos. Ambos integram também o Circo Zanni, criado na virada do século 20 para o 21.
Atualmente o Circo Amarillo está em turnê pelo interior de São Paulo, patrocinado pelo Sesi. Realiza 34 apresentações do espetáculo “Sem Concerto” até julho.
O Zanni arma a lona para se apresentar em outubro deste ano no Memorial da América Latina, na capital paulista. A empresa Ticket compra os espetáculos e a Petrobras patrocina. “Faz seis anos que eles patrocinam o Zanni [leia abaixo sobre o Zanni]. A contrapartida do patrocínio é a criação de números novos pelos artistas”, disse Lujan.
Pablo Nordio toca saxofone e bateria. Marcelo Lujan é o diretor musical do Zanni e toca guitarra.
O Amarillo apresenta ainda o espetáculo “Experimento Circo”, e está em gestação o “Clack”, previsto para estrear em 2013, com incentivo do Proac, para viajar a cinco cidades do interior de São Paulo.
Marcelo Lujan e Pablo Nordio são argentinos de Córdoba, da província de Rio Quarto, e residem hoje na cidade de São Paulo.
Lujan e Nordio chegaram ao Brasil depois de percorrer várias cidades da América Latina. Aventuraram-se pelo Nordeste brasileiro até fixar residência aqui. Trabalharam no Sul do Brasil e moraram na Bahia e no Ceará.
Nesta entrevista, Marcelo Lujan conta como criou com Pablo Nordio o Circo Amarillo e fala de sua formação. Durante a adolescência, teve uma banda de rock. Autodidata nas artes do picadeiro, especializou-se em apresentações nas ruas, ao lado de Pablo, nos primeiros anos da juventude.
Na conversa com o Panis & Circus, Pablo Nordio, baterista de formação e especialista em técnicas aéreas no picadeiro, define sua arte e conta sobre sua trajetória, desde a época em que vivia na pequena cidade de Rio Quatro até se tornar um dos sócios do Circo Zanni.
A sociedade do Circo Zanni
Domingos Montagner, Fernando Sampaio, Marcelo Lujan, Pablo Nordio, Daniel Pedro, Bel Mucci, Erica Stoppel, Maíra Campos e Lu Menin criaram a companhia Zanni, sociedade de nove artistas. Em 20/11/2004, compraram a própria lona.
O Zanni estreou com o diferencial de fazer a releitura dos números tradicionais do picadeiro, sem descaracterizar essa arte clássica. Completa nove anos de atuações em 2012 e faz uma apresentação por ano na capital paulista.
De acordo com Marcelo Lujan, “Zanni” em italiano é sinônimo de um tipo especial de palhaço da commedia di zanni italiana, que existe provavelmente desde o século 16 e deu origem à commedia dell’ arte.
“Zanni” é ainda o nome de um personagem-palhaço que, quando é esperto, conduz a intriga e faz dupla com um zanni ingênuo.
O Zanni estreou no verão de 2003 para 2004 na praça do Pôr-do-Sol, em Boissucanga, litoral norte paulista, com apoio da Prefeitura de São Sebastião e de comerciantes locais. A prefeitura cedeu terreno, água e luz. Em três semanas com a lona alugada, cerca de 5 mil pessoas assistiram à forma peculiar de o Zanni fazer arte.
O patrocínio para a construção do espetáculo ocorreu pela Petrobras, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, para realizar por dois meses a temporada, nesse bairro de São Sebastião (SP) e no centro dessa cidade.
Em 20 de novembro de 2004, o Circo Zanni recebeu o Prêmio Funarte de Estímulo ao Circo e por esse fomento conseguiu realizar temporadas, com lona própria, durante um mês, na cidade de São Paulo.
Em 2006, o Zanni montava a lona no espaço onde estreou em 2004 na capital, ao lado da Casa das Caldeiras, com banda de música contemporânea e atrações clássicas.
A lona vermelha de 24 metros quadrados do picadeiro do grupo abriga 400 pessoas e é considerada de porte médio.
A trupe do Zanni mostra ao público a superação dos desafios a que os seres humanos se propõem, com números de força e equilíbrio, ao lado do humor.
Duplas de palhaços são fortes no grupo: Domingos Montagner e Fernando Sampaio, da Cia. La Mínima, e Marcelo Lujan e Pablo Nórdio, do Circo Amarillo.
Maíra Campos é a equilibrista que faz manobras no arame nesse picadeiro. Erica, Bell Mucci e Lu Menin fazem números aéreos e Daniel Pedro é acrobata. Eles também tocam na banda.
Com a proposta de construir um espetáculo diferente por ano, os integrantes realizam esquetes cômicas, números musicais, de trapézio, lira, tecido, arame, corda marinha e malabares.
Artistas de fora são convidados a cada temporada.
Vale destacar que as trilhas sonoras dos espetáculos do Zanni são compostas por Marcelo Lujan.
O Circo Zanni e a cia. La Mínima, em parceria, ganharam a Lei de Fomento ao Teatro, por meio de edital de julho de 2005 para Montagem e Pesquisa sobre Circo Teatro no Brasil. Ganharam também o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz – Grupo V.
Esses parceiros conquistaram o Prêmio Funarte Carequinha de Estímulo ao Circo, em 2007, para reforma dos mastros de sustentação da lona.
“A gente tem a sorte de ter o nosso circo e tenta fazer outro estilo de circo tradicional, mas clássico. O Zanni é uma releitura do circo clássico”, disse Lujan.
O palhaço-músico-malabarista anda no arame
Marcelo Lujan (foto acima) disse que sua paixão pela arte começou com a música e com as artes plásticas.
Na música Marcelo se considera eclético. Como algumas de suas influências, cita o músico e compositor Frank Zappa e Mike Phyton, que cantava no grupo Faiht No More, de rock pesado também.
Frank Zappa o ajudou a desconstruir a música que aprendeu como clássica. Foi o momento de descobrir que música não era só o que se estuda no conservatório e nas partituras.
Como argentino de coração, gosta de tango por ouvir enquanto crescia, principalmente por influência do avô.
Como se deu a reunião do conhecimento musical com as artes circenses e de rua? Lujan responde: “A música faz parte do movimento do palhaço. A cena é como uma partitura musical, você cria seus códigos, sua linguagem. É dessa maneira que ensino em minhas oficinas, a desenhar a cena, ler a cena, de um jeito musical”.
Na infância sentia necessidade de criar desenhos, imagens, quebrar, desmontar, refazer coisas. “Eu me caracterizava para contar histórias e fazer todo mundo dar risada. A satisfação de ver as pessoas rindo é muito boa”, contou.
Leia mais nesta entrevista.
Panis & Circus – A ideia da música é dar ao espetáculo uma partitura?
Marcelo – Ver o Circo Zanni é estar diante de uma partitura musical. A musicalidade no Zanni colabora com a cena. Aliada ao movimento físico, a música passa a outro plano, e as artes se combinam. A música combina com trapézio, malabares, arame, palhaçadas.
Circus – Quando você aprendeu a trabalhar com malabares?
Marcelo – Na escola de artes, por influência da body art, e ao estudar os movimentos artísticos; eu tinha uns 17 anos.
Circus – Aprender números circenses é difícil?
Marcelo – Estou aprendendo a andar para trás de bicicleta (risos). Quando aprendi a jogar malabares tive a mesma sensação. Eu estava conversando, pegava duas bolinhas e acontecia. Foi como andar no arame. Aprendi tudo junto e de repente. Jogava as coisas para cima e caíam na cabeça, hoje, é matemático.
Circus – Como explica a mistura de música com artes plásticas, artes do corpo, arte de rua e circo?
Marcelo – Os principais incentivadores de toda uma geração de artistas muito bons foram as convenções, os festivais de malabarismo, de circo e de espetáculos de rua.
Eu me alimentei desses encontros entre palhaços, malabaristas, acrobatas, dançarinos, com profissionais cada vez mais diversificados.
Sem as convenções, eu não teria informação. Voltava desses eventos com repertório para trabalhar durante o ano inteiro, sem sair da minha cidade.
Eu trabalhava nos bares e na rua, inventava números, pensando sempre num jeito de trabalhar com as artes de circo. Nunca fiz curso para palhaço ou malabarista, foram só cursos livres.
Circus – Circo é arte?
Lujan – Para mim circo é tempo, como na música. Eu me formei em artes plásticas e sempre estive preocupado, em tudo que fazia, com o ritmo. Arte para mim é ritmo.
Circus – Em que momento surgiu o Circo Amarillo?
Marcelo – Deve ter sido em 1997, quando eu estava na escola de artes. Meus pais não me davam grana e eu vendia pinturas. Fui trabalhar nas boates com performances, fazia instalações, pintava nus.
Fiquei por cinco anos trabalhando com performances. Quando a história do circo começou a ficar mais forte, eu e Pablo fomos para Camboriu (SC).
Circus – Vocês ganhavam dinheiro passando o chapéu?
Marcelo – Sim. Na Argentina há essa cultura de passar o chapéu. Na Europa, o artista deixa o chapéu e as pessoas vêm até ele. Aqui, se eu colocar o chapéu, vão chutar o chapéu, um cachorro vai comer o chapéu.
Em Camboriu, Rosana, a gestora de um equipamento cultural, nos viu, apresentou-nos para o dono do teatro da cidade, Mário Haus. Fizemos uma prova com o público e ficamos lá. O teatro recebia mil pessoas em todas as noites. Isso durou três anos.
Então fomos para a Bahia, com amigos de São Paulo, mas sem conhecer ninguém lá, e ficamos em Salvador por seis meses.
Circus – Como foi se apresentar na Bahia?
Marcelo – Na Praça da Sé, trabalhamos para os bêbados, ladrões, pessoas que fumavam crack. Um mês antes do Carnaval, não havia público. Durante o Carnaval, a gente não acreditou, era muita gente.
Tive medo, quase desisti nessa época, eu não falava bem a língua, morava num lugar ruim, queria voltar para minha casa, abraçar minha mãe, dormir a siesta. Foi a primeira vez que fui parar no farol, nas ruas.
Eu me apaixonei pela Bahia, mas foi essa luta. De Salvador fomos para o Ceará para continuar a volta pela América do Sul, e a história se repetiu, foi mais uma prova.
Circus – Como era o circo da sua infância na Argentina?
Marcelo – Minha escola ficava em um terreno em que sempre se armava o circo. A gente acompanhava o movimento da chegada, a montagem, os espetáculos. Mas eu tinha medo do palhaço, todo pintado, com roupa de mau gosto.
Circus – Devido a esse medo você renovou a imagem do palhaço?
Marcelo – Pode ser, inconscientemente. Não gosto de palhaço que pinta muito o rosto e faz muitas caras.
Circus – Na chegada a São Paulo, vieram para um festival?
Marcelo – Era uma convenção, em 2002, 2003, a única feita aqui. Conhecemos todas as trupes e tribos, foi bom. Acabou a convenção e não tínhamos nada. Sem dinheiro, fomos de novo trabalhar nos faróis de trânsito.
Começamos a frequentar o Ibirapuera, as pessoas não estavam nem aí. A cidade precisa educar a população para receber a arte. Hoje há projetos como teatro e espetáculos gratuitos nos parques.
Circus – Por que o nome do circo é Zanni?
Lujan – Na comédia de arte italiana, existem pierrôs, arlequins, zannis. É o palhaço penteadinho, arrumado. Ele vira as costas e está rasgado, sujo.
Circus – Que espécie de palhaço é você?
Lujan – No Circo Zanni, o Domingos Montagner faz o branco (clown) e Fernando Sampaio faz o augusto. Eu faço o contra-augusto, o excêntrico.
O contra-augusto dá uma de bobo, mas controla as técnicas, sabe tocar um instrumento, fazer uma brincadeira, andar no arame; o contra-augusto sabe onde parar, sempre se dá bem. O augusto nunca se dá bem, mas ele tenta enganar o branco. O excêntrico dá uma de que não sabe o que acontece, mas sai ileso. É mais ou menos essa a leitura do palhaço contra-augusto.
Circus – Qual é o segredo do palhaço?
Lujan – Trabalho com comicidade e gosto de perguntar: qual o segredo da comédia? É o tempo. Para ser palhaço tenho de dominar o tempo da comédia.
No ateliê você se acha engraçado, mas descobre se é engraçado mesmo, ou cômico, diante do público. Aquele tempo, em que você dá a cara para bater, na hora, é o segredo da comédia.
Circus – Uma de suas contribuições para o Circo Zanni é a música?
Lujan – A música do Zanni traz um mundo diferente. Você não entra no picadeiro e solta o CD de uma música americana. A música ao vivo que a gente toca no Zanni a gente trouxe do Circo Amarillo.
Antes de tudo fui músico, de estudar música erudita, de estudar violão clássico, a gente já carregava isso na mala. Não tem uma coisa do meu repertório que venha sem música. A música me inspira a ter ideias.
O baterista Pablo Nordio (foto acima) é o palhaço que casou com a trapezista, Lu Menin, como manda a tradição. Eles têm um filho, o Gael, com dois anos, e que já faz pontas no espetáculo.
A seguir Nordio fala da infância, de sua arte e dos planos para o futuro.
“Tudo vem do palhaço, mas me defino como artista circense porque a gente faz de tudo, tanto acrobacia, malabarismo, como números de palhaço, de trapézio, de equilíbrio. Se falo que sou palhaço, eu não seria as outras coisas”, disse.
Confira.
Panis & Circus – Fale de sua formação e trajetória.
Pablo Nordio – Rio Quarto, na província de Córdoba, é uma cidade pequenininha. Morei lá até quase 20 anos, mudei para a capital do Estado, Córdoba, e saímos, eu e Marcelo Lujan, viajando pelo mundo. Paramos pouco em Buenos Aires. Paramos mais em Santiago do Chile do que em Buenos Aires.
Aprendi música na adolescência, fiz aulas de bateria. Quando comecei com a arte circense me interessei pela música, época em que eu já estava no mundo do circo, das artes de rua, do teatro.
Circus – Você fugiu com o circo?
Nordio – Quase… rsrs… fugimos com nosso grupo, eu e Marcelo Lujan mesmo, quase que fugimos da cidade, foi quando ocorreram as crises na Argentina, em 2001. A ideia era dar a volta pela América Latina, passar pela América Central e descer de novo até a Argentina.
Virei artista circense quando tinha entre 18 e 19 anos. Comecei a universidade, mas não cheguei a acabar nada. Fiz também um pouco de artes plásticas.
A gente tinha um grupo, que chamava de circo porque as técnicas eram circenses, mas não tinha o circo, a lona ou a casa do circo.
Um dia, passou um cara pela nossa cidade – a gente fazia body art, que tinha aprendido na escola de artes, fazia batucada, que eram os ritmos brasileiros lá –, era um cara grande, ele fazia malabarismo. A gente nunca tinha visto circo apresentado na rua e passando o chapéu.
O cara ensinou algumas coisas básicas e falou: “Ó, todo ano tem uma convenção de circo em Buenos Aires, vão lá que vocês vão aprender muita coisa”.
Em 1998, a gente foi à convenção de circo e alucinou com a lona montada, a quantidade de espetáculos de rua, de teatro e de circo.
Nesse ano a gente se interessou realmente pelas técnicas circenses e depois foi para Santiago do Chile. Lá, frequentamos a escola Circo del Mundo (Circo de Todo o Mundo, em português), uma organização internacional.
No primeiro ano ficamos seis meses aprendendo as técnicas de acrobacia de dupla, que se chama “mão a mão”, com todos os tipos de malabares, com diabolô, com bolas, com claves, com aros, e técnicas de trapézio e perna de pau.
Naquela época a gente não tinha condições de pagar escola ou de viajar para a Europa para estudar. Como a gente fez muitas amizades com diretores, professores e monitores, que eram da mesma idade da gente, para a gente era tudo gratuito.
Circus – Como conseguiam dinheiro?
Nordio – Em Santiago, aos sábados e domingos, a gente se apresentava na rua, no Parque Florestal, e passávamos o chapéu. É louco isso, porque a gente conhecia pessoas que diziam: “Nossa, adorei esse número. Tenho uma boate, não querem se apresentar lá na sexta e no sábado à noite? Pago tanto para vocês”. Assim, fomos sobrevivendo.
Circus – Lembranças?
Nordio – Eu me lembro que os circos que passavam por nossa cidade eram grandes, circos clássicos, que rodam. Havia malabaristas que jogavam muito rápido e isso chamava muito a atenção.
Hoje a gente tem a mistura do malabarista tradicional com o malabarista de rua. O malabarista tradicional de circo joga muito rápido, a destreza dele é a velocidade.
O malabarista de rua é mais lento, mas faz movimentos diferentes, com mais suingue. O malabarista tradicional joga tão rápido que não pode mexer um pé. A gente encontrou um ponto no meio, entre o malabarista tradicional e o de rua.
Lembro-me também do trapézio. Entre todos os trapezistas sempre tinha uma menina que, com certeza, era a mulher de algum trapezista. O último ato do circo era o trapézio, momento em que o circo fala: “AH!”, e vem aquela adrenalina.
Quando eu tinha cinco, seis anos, queria passar por debaixo da lona. Às vezes pagava entrada, outras vezes ia por trás, tentava falar com alguém: “Por favor, deixa a gente entrar”.
Nunca imaginei que acabaria fazendo o que os caras faziam.
Circus – Quando nasceu a parceria com Marcelo Lujan?
Nordio – Eu estava passando na rua de bicicleta, com 17, 18 anos, e Marcelo me parou e falou: “Ó, vem aqui, a gente vai fazer um negócio numa boate, pintar uns corpos, você não quer participar?”. Fui.
Havia uns cabeções, tipo aqueles bonecos mamulengos, de Recife, de cabeças gigantes, com o corpo pintado. Esse foi o começo da história de nosso grupo. Primeiro eram 30 pessoas, depois passaram a ser 20 pessoas, e a gente foi fechando e ficaram três pessoas, o Marcelo, o Martim e eu.
Nesse grupo ainda trabalhava o irmão do Marcelo, Marcos, uma menina e um músico. Durou vários anos. Começou com outro nome: “Magdala Show”. O primeiro espetáculo se chamava “Circo Amarillo” porque tinha uma mistura de música, batucada, body art e já entrava nas partes circenses, que eram os malabares.
A primeira técnica que a gente aprendeu foi a de malabares e pernas de pau. Depois que a gente fez esse espetáculo, muitas pessoas saíram, foi aí que ficamos seis integrantes no grupo, então, decidimos que o grupo se chamaria Circo Amarillo, em 1999 e 2000, ainda na Argentina.
O primeiro espetáculo do Circo Amarillo foi “Los Hermanos Musculosas” (“Os Irmãos de Regatas”). Os irmãos eram eu e Marcelo: eu era de Córdoba, da Espanha, e ele era de Córdoba, da Argentina. As apresentações eram sempre na rua.
A gente fez esse espetáculo no balneário Camboriu em 1999, na rua. Durante o ano, a gente criou “La Voz del Siglo” (A Voz do Século).
Depois desse espetáculo, o grupo se separou – éramos seis pessoas em 2001. Quando veio a crise na Argentina, a crise no nosso grupo, crise em todo canto. Eu e Marcelo ficamos com o nome e levamos o nome até hoje, saímos da Argentina com o Circo Amarillo em 2001.
Circus – Como foram parar em Salvador?
A gente foi para Salvador com aquele intuito de dar a volta: começar pelo Brasil, passar pela Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Chile e voltar para a Argentina.
A gente se apresentava na rua, no Terreiro de Jesus e na praça do Elevador. Como éramos só nós dois, tínhamos nossas malinhas. Fazíamos seis apresentações por dia, das sete às dez e meia da noite, de segunda a segunda.
Decidimos subir para Fortaleza e ficamos entre sete e oito meses no Ceará, verão em pleno inverno, o sol partia a terra, 40 graus. Passamos perrengues nos dois lugares. Em Salvador, Marcelo pegou dengue. Tivemos problemas com as moradias. Em Fortaleza ficamos na casa de praia de uma senhora conhecida. Não é que o caseiro roubou todo o dinheiro que tínhamos?
Em Fortaleza começamos do zero de novo, só com dez reais no bolso. Ficamos mais uns três meses lá para juntar dinheiro. Nesse meio tempo fomos contratados para a mostra do Sesc Cariri: são de 24 a 36 horas ininterruptas de arte em três cidades próximas umas das outras, no lindo sertão do Cariri – Crato, Olinda e Juazeiro do Norte, com 50 graus na sombra.
Circus – Viram apresentações em picadeiros?
Nordio – No Morro de São Paulo, do palhaço Salsicha. O circo era de lona de saco de batatas. O cara costurou uma lona inteirinha, fez o teto inteiro da lona, e ele estava na ilha. A atração principal dele era um bode que andava no arame. A gente não acreditou que estava vendo aquilo no meio da nada.
No Ceará a gente viu o Le Cirquê, um circo grande, com hipopótamos e outros animais. Nessa época, em 2002, ainda havia animais no circo.
No Cariri soubemos que haveria uma convenção de circo em São Paulo. Entramos em contato com Emiliano Pedro, que hoje organiza o “TrixMix Cabaret”, e ele falou que bastava chegar, então a gente veio para São Paulo.
Circus – Como foi a convenção paulista?
Nordio – Conhecemos os artistas de rua, de circo, teatro. Os amigos nossos de hoje são daquela época: o La Mínima, a Pia Fraus, os Fractons, hoje, os Fratelli, o Kiko, o Marcelo, a velha-guarda do circo contemporâneo brasileiro, que são da escola de circo, como a gente, ninguém nasceu no circo.
A gente tinha o “Experimento Circo”, espetáculo de rua com números de diabolô, malabares de mão a mão, de acrobacia de dupla, um número cômico que se chama Acrobacia Russa, em que a gente entra de tutu (espécie de saia de bailarina).
O La Mínima tinha um número similar, das bailarinas. Sem conhecer o grupo, a gente fazia a mesma coisa e apresentava também um número de malabares com claves, com um tango bem bonito, do Piazzolla, e o número final de fogo, em que mexemos vários objetos e fazemos uma troca de passes com fogo em cima de monociclos.
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Anote
Cachimônia, espetáculo de circo contemporâneo, inovador e irônico, vai estar nesse sábado, 27/9, no Teatro Flávio Império, às 16h, av. Professor Alves Pedroso, 600, Cangaiba.
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Adorei a matéria, eles são talentosíssimos
Gostei muito da entrevista
adorei a entrevista do Marcelo Lujan, onde ele diz que adora fazer as pessoas rirem
Que entrevista incrível! Adorei o vídeo! Quero mais!
Eles são demais!! Transmitem tudo de maravilhoso que a música e a arte circense podem mostrar e ensinar!
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“Eu criança” reverencio com a minha alegria vossa arte. “Eu adulta” conto às minhas crianças (todas ao meu redor) que existe um mundo mágico, feliz, raiado de alegrias e arte de verdade no circo Amarillo! São lindos e talentosos. São a expressão genuína do Circo, da arte, da educação cultural do mundo. Vocês são grandiosos. Para vocês, meus aplausos, sempre – e em pé!