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Autor de “Velho Chico” fala da morte de Domingos

 

Bruno Luperi (ao centro), com os atores Renato Góes e Domingos Montagner / Foto Divulgação

 

“Não tivemos tempo de nos despedirmos do Domingos como gostaríamos, mas pelo menos tivemos essa oportunidade com o Santo. A arte nos proporcionou essa despedida”, diz Bruno Barbosa Luperi, 27, autor de “Velho Chico”, sobre os últimos capítulos da novela das 21h da Globo protagonizada por Domingos Montagner.

O ator de 54 anos morreu afogado no rio São Francisco, em Canindé (SE), numa folga das gravações no dia 15.

Para homenagear Montagner e preservar a história criada por Benedito Ruy Barbosa, 85, avô de Bruno, o diretor Luiz Fernando Carvalho decidiu usar o recurso da câmera subjetiva, ou seja, a lente funcionou como o olhar de Santo, “contracenando” com os outros atores.

“Domingos vivia um momento sublime na trama, seria impossível tirá-lo. Era um herói num país carente de heróis”, afirma Luperi.

O autor estreante cai no choro ao contar à Folha, por telefone, como foi a conversa com a viúva de Montagner, em que perguntaram o que deveria ser feito com o personagem dele, e ela disse que seguissem a história. A voz dele também embarga ao lembrar do dia da tragédia. Luperi estava em Canindé para as últimas gravações.

“Foi muito doloroso ter que mexer no texto. Eu me apoiei na força que recebi das pessoas”, fala.

Ele conta ter reescrito os diálogos em que Montagner estaria presente com perguntas retóricas. “As respostas ficaram subentendidas e encontraram uma direção luminosa. Foi uma energia conjunta de toda a equipe para canalizar o luto para uma coisa boa, para a arte.”

Nesta sexta (30), o público se despedirá definitivamente de Santo e de “Velho Chico”. O autor promete surpresas, tensão e muita emoção.

  

ELOGIO DO AVÔ

 

O folhetim criado por Benedito é o primeiro escrito por Luperi, que decidiu abandonar o trabalho como diretor de arte de publicidade para seguir o ofício do avô.

Benedito supervisionou o texto do neto, indicando rumos e diálogos, entre outras coisas. “Meu avô fez o maior dos elogios. Ele me disse: ‘Até parece que fui eu que escrevi isso'”, lembra Luperi.

O autor diz que termina o trabalho com sensação de dever cumprido. “Discutimos questões políticas, empoderamento feminino, novo código florestal, colocamos o rio em pauta. Exercemos uma função social grande”, fala.

E, segundo ele, a audiência, acima dos 30 pontos no Ibope em SP nesses meses finais (cada ponto equivale a 197,8 mil espectadores), mostrou que o público gostou. “Não tem assunto chato, tem abordagem chata.”

Ele rebate as críticas que a novela recebeu no início, pelo ritmo lento e pelas caracterizações de personagens como o coronel Saruê e a peruca de Antonio Fagundes.

Para Luperi, Fagundes foi “bode expiatório” e vítima de comentários maldosos de quem não entendeu a conceituação da trama.

“Foi algo novo lidar com o imediatismo do público. A impressão que deu foi que a pessoa ouviu a primeira frase da piada e já disse que não entendeu. Acho que as pessoas estavam acostumadas a ver atores atuando, não a acompanhar personagens.

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