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Brasileiros descrevem sua rotina em “Quidam”
Sete trapezistas e três técnicos brasileiros participam do espetáculo do Cirque du Soleil
Ivy Fernandes, de Roma
Panis & Circus entrou nos bastidores do Cirque du Soleil, durante o ensaio geral do espetáculo “Quidam”, em Roma, e conversou com artistas brasileiros que fazem parte do elenco. São 10 ao todo: sete trapezistas e três técnicos de um total de mais de 100 pessoas. “
“Quidam” é uma palavra em latim que significa anônimo, todos e ninguém, e dá nome ao espetáculo que gira em torno de uma adolescente solitária, Zoé, que busca refúgio no mundo da imaginação.
Rafael Munhoz, brasileiro de São Bernardo do Campo (SP), é um dos protagonistas de “Quidam” e interpreta o personagem “Boum Boum”, debaixo de uma pesada maquiagem. Na realidade, “Boum Boum” representa os sonhos íntimos de Zoé, que, atormentada pela atração que sente por ele, muitas vezes o vê como um anjo perverso. Ele tem 29 anos e está no elenco do espetáculo desde 2010.
Rafael está de bem com a vida e com o trabalho. “Sou otimista, extrovertido e vejo a vida como uma série de oportunidades. Eu estava treinando, por exemplo, na Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro, em 2009, quando soube da possibilidade de fazer um teste para o Cirque du Soleil, exatamente para o personagem de “Boum Boum”. No geral, a substituição de um artista dentro da engrenagem do Soleil dura mais ou menos três meses de treinamento em Montreal. Mas eu consegui entrar no personagem em apenas duas semanas, depois de um período intenso de exercícios. Sou trapezista, malabarista e trabalho com cordas e tecidos.”
Em 2010, oito meses depois do seu ingresso no Soleil, Rafael Munhoz voltou ao Brasil com a equipe do “Quidam” para uma longa temporada: “Foi maravilhoso voltar ao meu país com o grupo circense mais famoso do mundo”.
Munhoz explica que o atleta/artista que faz parte do Cirque du Soleil deve ser uma máquina perfeita. “Devemos saber como dosar a própria energia, para estar sempre no máximo. É necessário ter concentração física e psicológica, comer bem, dormir bem, procurar manter o equilíbrio interior e ter os músculos sempre aquecidos para entrar em cena de forma perfeita.”
Ana Carolina Valim, mais conhecida como Carol Valim, é trapezista e trabalha no Soleil há quatro anos e meio.
“Aqui, você tem que se preparar, treinar, estar em plena forma física e trabalhar o melhor possível. Qualquer problema que aconteça, eles tentam resolver para que seu trabalho não seja influenciado por qualquer fator externo. O apoio é de 360 graus, o que é muito difícil de ser encontrado em outros lugares. O Soleil é a melhor empresa do mundo.”
Carol é apaixonada pelo que faz no Cirque du Soleil: os voleios no ar. Ela nasceu em São Paulo, em 1982, e começou muito jovem sua carreira como ginasta. Em 2006, ficou sabendo que haveria audição para o Soleil, resolveu tentar e foi aprovada.
“Os testes são bastante difíceis”, afirma. A parte técnica deve ser perfeita – exercícios elaborados que precisam parecer ser fáceis – os testes psicológicos avaliam se o artista tem condições de acompanhar a vida itinerante, de colaborar com os colegas e de entrar na engrenagem do Cirque du Soleil que funciona como um relógio suíço”, acrescenta.
Depois de ter sido aprovada como trapezista, acrobata e ginasta, em números de cordas e tecidos, Carol esperou quatro anos antes de ser chamada a participar do elenco do “Quidam”, quando surgiu uma vaga.
“Funciona da seguinte forma: eles fazem os testes em vários países, examinam cuidadosamente os candidatos, aprovam alguns e depois se entra na lista de espera”, explica. “São candidatos do mundo que querem participar das 10 equipes do Soleil que se exibem simultaneamente em cinco continentes.”
Trio de São Paulo a mais de 20 metros do chão
Lais Gomes e Danila Bim são outras duas brasileiras, que são trapezistas e também nasceram em São Paulo, e formam com Carol um trio que abre o espetáculo “Quindam”: número de evoluções com rodas, cordas e tecidos, a uma altura de 20 metros, sem nenhuma rede de proteção, e que deixa o público boquiaberto.
Treinos diários que duram em média de 4 a 5 horas
Danila Bim relata como é o dia a dia do Cirque du Soleil. “Tudo funciona 24 horas por dia. Cada setor é bem organizado e o que é preciso fazer é arrumar a mala e partir de uma cidade para a outra. No geral, viajamos à noite, no domingo, após o espetáculo da tarde, que termina por volta das 19 horas. Segunda-feira e parte da terça, temos um dia e meio de descanso.”
Ela destaca um detalhe importante: “o horário de treinamento é estipulado pelo próprio artista. Você é responsável por sua forma física e deve repetir os exercícios até que sejam perfeitos e em sincronia com os seus colegas. Todos os dias fazemos exercícios durante 4 a 5 horas. Cada teatro, Palácio de Esporte ou Chapiteau (lona) em que nos exibimos, tem nos bastidores uma grande sala de exercícios, com todos os instrumentos necessários, onde se pode treinar a qualquer hora do dia ou da noite.”
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Danila conta que só dá tempo de conhecer um pouco o país que quando o espetáculo fica mais tempo num mesmo local.
“No nosso grupo, o de brasileiras, cada uma tem sua bicicleta desmontável que colocamos junto a bagagem e que segue nos caminhões. Quando podemos pegamos um mapa e vamos conhecer a cidade, muitas vezes, de bicicleta”.
Caravana que se move como uma enorme serpente
Nas viagens dentro da Europa são utilizados os ônibus da empresa, cinco ou seis que transportam toda a equipe (artistas e técnicos) além de 25 caminhões encarregados de movimentar toda a engrenagem: dois palcos móveis, trapézios, elementos de cena e o enorme guarda-roupa.
“Cada um cuida de sua maquiagem e dependendo da cena pode demorar de 45 minutos a mais de uma 1h30 para ser feita. É uma caravana que se move como uma enorme serpente”, afirma Danila.
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São 250 figurinos, 200 pares de sapatos e 130 chapéus canadenses
A brasileira Luana Ouverney é assistente de figurino, e responsável pelos trajes de cena além de perucas, sapatos, chapéus e toda a indumentária necessária para o show do “Quidam”. Luana é formada em Design de Moda pelo Senai, no Rio de Janeiro, e completou seu aprendizado com cursos de moda em São Francisco, nos Estados Unidos, e em Genebra, na Suíça. Criou alguns figurinos para o espetáculo e há um ano e meio faz parte da equipe técnica do “Quidam”.
“Todos os trajes, 250 figurinos, 200 pares de sapatos, 130 chapéus”, explica Luana, “são desenhados e confeccionados no Canadá, tudo, tudo mesmo, vem de lá, onde são registradas todas as medidas de cada artista e o figurino é fabricado sob medida para eles. Tem um número, na parte interna do vestuário que indica quem deve utilizar.”
Ela acrescenta que “no enorme salão dos trajes, atrás do palco nos coordenamos e consertamos tudo o que é necessário para entrar em cena. Por exemplo: os sapatos devem ser pintados a mão e retocados a cada espetáculo, também os figurinos passam por uma completa verificação de todos os detalhes. É um trabalho atrás dos bastidores que necessita de muita atenção.”
“Encontrei a minha estrada”
O brasileiro Guilherme Fortes tem 26 anos e faz parte do Cirque du Soleil há três anos e meio.
“Comecei a trabalhar ainda adolescente, queria viver e fazer uma carreira onde pudesse estar ao ar livre. Tentei como jogador de futebol, mas não deu certo, não tinha o talento necessário para ser um bom jogador. Desta forma pensei em seguir outra estrada. Aos 17 anos imaginei que poderia ter um futuro como ginasta, trapezista. Fisicamente, eu respondia a todos os critérios para ser um bom atleta e um artista circense. Deu certo, me apliquei, fiz muito exercício, horas e horas diárias de treinamento e quando apareceu uma oportunidade, me candidatei para o Soleil. Consegui ser aprovado e agora estou aqui. Encontrei a minha estrada.”
“Espécie de Alice no País das Maravilhas”
“O espetáculo “Quidam”, explica Carol, “é uma espécie de ‘Alice no País das Maravilhas’. Fala de uma adolescente, a Zoé, que têm pais que não se importam com ela e, por isso, se refugia no mundo dos sonhos, um universo fantástico onde sua imaginação cria personagens extraordinários que a acompanham e a transportam para um mundo mágico”.
“Quidam” foi apresentado pela primeira vez, em 1996, em Montreal. A partir desta data a produção visitou os cinco continentes.
É um espetáculo composto por 45 artistas, entre acrobatas, trazezistas, cantores, músicos, mais 45 pessoas que trabalham atrás dos bastidores. “Quidam” foi escrito e dirigido por Franco Dragone; a música é do compositor Benoît Jutras e os figurinos de Dominique Lemieux. A assessoria de imprensa fica a cargo de Jessica Leboeuf.
Cirque du Soleil: líder no setor de entretenimento
O Cirque du Soleil foi formado, no início de 1984, por um grupo de 20 artistas de rua, com base na cidade de Québec, no Canadá. Hoje a empresa festeja 30 anos de sucesso mundial e é líder no setor de entretenimento.
Postagem – Alyne Albuquerque
Tags: cirque du soleil
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