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Caminho de sangue e estrelas

 

Cartaz do filme


“A Estrada da Vida” de Fellini fala das contradições humanas na história de artistas mambembes que percorrem a Itália

Janaína Leite, especial para Panis & Circus

Meu temperamento é cambiante, ora pende às interrogações, ora fica propenso aos pontos finais. De modo que não sei se posso atribuir a ele essa crença que carrego: a vida está além de um amontoado de acasos desprovidos de ligação e sentido. Aqui, na minha realidade, analogias e pistas são apresentadas o tempo todo, basta um pouquinho de disposição para percebê-las. Por isso, quando os quatro filmes que devo resenhar para o Panis & Circus chegaram, semana passada, dia desses, decidi fechar os olhos e apostar em uma ordem desconhecida. Que um deles me escolhesse. Às vezes, a vida quer contar algo do jeito dela, não do nosso. É preciso abrir espaços.

Eis que o sorteado acabou sendo “A Estrada da Vida”, nada menos que a obra tida como ponto de virada na carreira de Federico Fellini, o mestre. Confesso que na hora sorri. Adoro o cinema italiano, onde o trágico, o cômico, o encantado e o misterioso se alternam e se encadeiam sem esforço aparente. Adoro Fellini. Como todos os grandes contadores de histórias, ele brinca com os opostos, riso e choro, até que o preto e branco vire cinzas. E o circense permeia tudo, pois ele próprio, Fellini, é mágico, domador e atirador de facas, tudo ao mesmo tempo.

 

Gelsomina (Giulietta Masina) e Zampanò (Anthonny Quinn) em "La Strada" / Foto Divulgação

 

O roteiro de “A Estrada da Vida” (“La Strada”, no original) foi levado às telas em 1954. Conta a história de uma dupla de artistas mambembes que percorrem o interior de uma Itália devastada há pouquíssimo tempo pela II Guerra Mundial.  Zampanò (Anthonny Quinn) e Gelsomina (Giulietta Masina) não têm casa, nem referência. Sua arte é simples; suas atitudes, simplórias.

Gelsomina aprende a apresentar o número de Zampanò, feito na rua e em circos, onde ele mostra sua força ao arrebentar correntes.

A perspectiva de futuro limita-se às moedas que o público da rua jogará em seus chapéus. Ao longo do caminho, os dois conhecem os tipos mais variados, inclusive “O Louco” (Richard Basehart), um equilibrista talentoso e desaforado. Esse encontro mudará o destino de todos.

A película ganhou uma série de prêmios, inclusive o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1957. Não bastasse a direção precisa e a história cativante, a trilha sonora criada por Nino Rota é primorosa, marcante a ponto de ter sido gravada depois e se transformar em sucesso no repertório das Big Bands americanas. Os atores, por sua vez, estão excepcionais. Suas performances são únicas, inesquecíveis. Giulietta Masina foi apontada pelos críticos como “um Chaplin de saias”, por conta da pureza e da qualidade dos gestos que imprimiu em sua Gelsomina. Anthonny Quinn torna obrigatório mencionar Zampanò sempre que o retrato cinematográfico de um homem embrutecido vier à baila em uma conversa. Os dois estão tão convincentes em seus andrajos que é difícil imaginar que possam virar outra coisa, que neles exista vida fora dos dois andarilhos – como sempre, os grandes atores nos fazem cair do cavalo; “A Estrada da Vida” foi filmada antes de Masina ser aclamada por “Noites de Cabíria” e de Quinn imortalizar “Zorba, O Grego”.

 

Cena do filme mostra a alegria de Gelsomina / Foto Divulgação

 

Uma produção cheia de histórias

Cartaz da conquista do "Oscar" / Divulgação

 

Reza a lenda que os bastidores de “A Estrada da Vida” foram movimentados. O roteiro, estruturado nos contos medievais que envolviam cavaleiros e saltimbancos, começou a ser desenvolvido em 1951 por Fellini e Tullio Pinelli. Segundo este último, as personagens de Gelsomina e Zampanò apareceram diante de seus olhos durante uma viagem entre Roma e Turim, quando um imenso homem surgiu na estrada tentando dar a partida num daqueles veículos antigos muito frágeis, que mesclavam moto e auto. A carroceria estava coberta por uma lona onde aparecia pintada uma sereia, ao mesmo tempo em que uma mulher pequenina empurrava o carro. Fellini, por sua vez, estava interessado na história de artistas pobres que vivessem zanzando entre um lugar e outro.

 

Gelsomina, Zampanò e o palhaço no circo / Foto Divulgação

 

Fellini e Pinelli juntaram as duas vertentes, com a ajuda de Ennio Flaianno, mas penaram um bocado para encontrar alguém disposto a produzir o filme. O realismo italiano estava no auge e “A Estrada da Vida” continha elementos subjetivos que diferenciavam a fita do que ia às telas naquele momento. Além disso, os produtores implicavam com o elenco escolhido por Fellini, em especial a escalação de Giulietta Masina, mulher do diretor, para viver Gelsomina. Quem vê a obra só pode agradecer com todas as forças por Fellini ter resistido à pressão e batido o pé.

A filmagem só começou em 1953, após Dino De Laurentiis e Carlo Ponti unirem-se à empreitada. Anthonny Quinn, acostumado às regalias do cinema americano, abriu mão de qualquer conforto para caber no orçamento de “A Estrada da Vida”. Masina deslocou o quadril durante uma das cenas. Quando, enfim, o filme foi às salas, a crítica e a comunidade cinematográfica o receberam com desconfiança. O mundo vivia o auge da guerra fria e a maioria, de esquerda, defendia que o cinema deveria ser usado para difundir mensagens mais políticas.

 

Federico Fellini e Giulietta Masina com o "Oscar". Eles se casaram em 1943 / Foto Divulgação

 

O lançamento de “A Estrada da Vida”, ocorrido no Festival de Veneza de 1954, foi marcado pela competição acirrada. Naquele mesmo ano concorriam outras obras-primas, como “Os Sete Samurais” de Akira Kurosawa e “Sindicato dos Ladrões” de Elia Kazan. Os italianos, contudo, estavam de olho mesmo é na competição direta entre Fellini e Luchino Visconti, que participava com “Sedução da Carne” (“Senso”, no original), filme que trata da luta pela unificação da Itália diante da opressão austríaca. Visconti era tido pelos seus como um bastião do neorealismo e o representante da ala comunista contra os democrata-cristãos. Quando “A Estrada da Vida” ganhou o Leão de Prata e “Sedução da Carne” saiu sem prêmio, a temperatura subiu tanto que Moraldo Rossi, amigo de Fellini, trocou socos com Franco Zeffirelli, apoiador de Visconti. Para evitar problemas, a organização do Festival suspendeu a premiação das melhores atrizes. Giulietta Masina foi aplaudida pela audiência fora do teatro. A partir daí, conta-se, demoraria dez anos para Fellini e Visconti voltarem a se falar. Os dois nunca se dariam realmente. Anos depois, a atriz Claudia Cardinale, que trabalhou com ambos, diria publicamente que os “maestros” se odiavam.

(A partir daqui é spoiler, ou seja, trechos do filme serão revelados.)

 

 

Triângulo de amor e dor

Richard Basehart (o equilibrista) e Fellini e Cena do filme com Richard e Giulietta / Fotos Divulgação

 

Por tudo isso e mais um pouco, “A Estrada da Vida” é daqueles filmes que, uma vez assistidos, não vão embora da lembrança. As emoções humanas são tratadas de maneira forte e singela. Sentimentos submersos correm nas entrelinhas dos diálogos e é impossível, ao fim, deixar de pensar sobre as escolhas que fazemos diante da vida.

A história começa em um vilarejo à beira-mar, onde a pobreza do pós-guerra é onda que engole tudo. Gelsomina vive ali com a mãe viúva e os irmãos pequenos, até que surge Zampanò, brutamonte que vagueia de cidade em cidade fazendo pequenas apresentações de rua. Ele precisa de uma moça para substituir sua assistente anterior, Rosa, a irmã mais velha de Gelsomina, que morreu.

 

Cena do filme / Foto Divulgação

 

A profundidade do filme aparece desde a primeira cena, quando a mãe troca Gelsomina por um punhado de dinheiro, mesmo sem saber o que vitimou sua outra filha. O desespero causado pela falta de comida encobre a consciência, mas não por inteiro, como um cobertor curto demais que deixa os pés gelados. Sente verdadeiramente algo, aquela mãe, quando corre atrás do carro gritando pela filha que acabou de vender? O quê? A ética do desespero é a mesma da fartura? Ela achava que fazia o bem, ou queria se livrar de um peso?

Envolta em uma capa de soldado da Primeira Guerra (a quem pertenceria, ao pai, a um parente, a um passante que teve com a mãe?), puída e espontânea como um bobo medieval, Gelsomina vai-se com Zampanò, boçal monossilábico e controlador. Ela está dividida entre a tristeza de abandonar o conhecido e a esperança de se tornar alguém. “Vou trabalhar, aprender uma profissão e mandar dinheiro para casa. Eu também vou ser uma artista, vou dançar e cantar, como a Rosa”, diz a moça, pouco antes de partir. A audiência, protegida pela objetividade da terceira pessoa, cúmplice de Fellini, deduz imediatamente que Gelsomina terminará decepcionada. Mas o que seria de nós, humanos, se fosse preciso abrir mão dos sonhos logo de início? Como suportar uma realidade que se anuncia dolorosa sem que a imaginação nos coloque passos além, vitoriosos e satisfeitos, mesmo que apenas dentro da cabeça?

 

Zampano e o número das correntes / Foto Divulgação

 

A estrada é a vida e por ela seguem os parceiros, em busca de trocados que lhes forneçam a ilusão de terem algum valor. “Este pedaço de corrente tem meio centímetro de espessura. O ferro puro é mais forte que o aço. Vou arrebentá-lo apenas expandindo os músculos peitorais”, diz Zampanò, envolvendo o torso nu com a corrente, diante dos curiosos transeuntes. “Obrigado, senhoras e senhores. Para isso vou encher os pulmões como uma câmera de ar. Se alguma veia estourar, espirrará sangue. Uma vez, em Milão, um homem que 120 quilos perdeu a vista assim. Isto aconteceu porque forçou demais o nervo ótico. E quando se perde a vista, se está acabado. Se alguém aqui for sensível, melhor não olhar. Poderá haver sangue.” 

Voilà, Fellini! O que é preciso saber sobre Zampanò é mostrado assim, de primeira, por ele mesmo. Um homem que “não usa a cabeça” (como dirá Gelsomina depois, tantas vezes), vale-se da força bruta, da resistência e, se preciso, de um pouco de trapaça. Um sujeito sempre em risco de explodir e de se tornar incapaz de enxergar, alguém que pode perder tudo se deixar o sangue nublar a vista. Olhos sensíveis devem tomar cuidado: ali existe apenas a dureza, a luta pela sobrevivência. Teria lutado na guerra e visto muitos horrores? Como entender sua agressividade, suas emoções calcificadas e seu mutismo? Ninguém sabe de onde veio. O passado é o mistério felliniano por excelência, pois sempre é possível remontá-lo de acordo com o que o presente exige.

 

 

Gelsomina e Zampanò. Ela aprende seu papel de assistente à custa de lambadas. Apaixona-se pelo companheiro, a despeito das grosserias e da ignorância com que é tratada – a ternura é sempre ávida por criar laços. “Por que você está comigo?”, ela questiona, sem nunca obter resposta. Zampanò limita-se a apresentá-la como “minha mulher”. E assim, entre a doçura dela, que se desvela cada vez mais, e a frieza prática dele, os dois seguem. Topam com prostitutas, viúvas, noivos, músicos, religiosos e tantos mais. Bebedeiras, abandonos, ciúmes, fugas, tabefes. Um pouco de tudo marca o caminho.

Muitas interpretações da obra de Fellini são possíveis. A mais evidente delas (e mais odiada pelo diretor e a esposa, Masina) é a metáfora sobre o casamento na sociedade patriarcal e a condição das mulheres antes do feminismo. Submetidas, humilhadas, fadadas a conviver sem toque, nem delicadeza, com a sexualidade frustrada. Eu, por exemplo, fiquei pensando em como o nome das coisas é importante. Zampanò diz a todos que Gelsomina é “sua mulher”. Mas a verdade é que eles não são um casal. São uma dupla e isso faz toda a diferença. As aspirações românticas e eróticas da moça não cabem no universo de Zampanò, ele é impermeável ao afeto, só conhece o sustento como mostra de apreço. Zampanò quer ser bonito, bem-vestido, respeitável, provedor. Para adiante disso, não compreende. Se a companheira está frustrada, isso não lhe diz respeito. Aos seus olhos, a jovem não existe enquanto indivíduo, apenas como uma engrenagem funcional que permite com que a vida dele próprio, Zampanò, continue da maneira fácil.

 

Gelsomina (Giulietta)no filme /Foto Divulgação

 

Até que aparece “O Louco”, equilibrista com asas de anjo e lágrima pintada no rosto. Ele é leve, gaiato, provocador, o contraponto de Zampanò. Os dois vivem às turras. Fellini deixa no ar todas as possibilidades e insinuações que expliquem o comportamento do Louco. Assim como a morte de Rosa, os motivos d’O Louco para espicaçar o musculoso são inexpugnáveis à audiência. Percebe-se apenas que a existência do jovem, filho de uma cigana, ameaça Zampanò de todos os jeitos.  

Talvez seja porque o Louco é um artista de verdade. Arrisca-se e tira o fôlego na corda bamba, mas respira de outro jeito quando olha Gelsomina. Ele age com bondade, apesar de seu temperamento ferino e inconsequente. Ensina a garota e a deseja, oferta e estimula, faz com que se sinta apreciada, útil, imprescindível. O Louco tem acesso a um universo que Zampanò não compreende: o reconhecimento do outro como alguém de valor, não só como incômodo, ameaça ou meio para obter algo.

 

Giulietta Masina como Gelsomina toca tambor antes da apresentação de Zampanò / Foto Divulgação

 

“Eu sou um ignorante, mas li alguns livros. Tudo que existe neste mundo tem um propósito. Veja aquela pedra, por exemplo”, diz O Louco. “Qual?”, pergunta Gelsomina. “Qualquer uma. Até esta pedrinha serve para alguma coisa”, ele responde. “E para que serve?”, espanta-se a moça. “Serve… Sei lá! Se soubesse, saberia por que estou aqui. O Pai Eterno é quem sabe tudo. Quando se nasce, quando se morre… Ninguém sabe. Não… Não sei para que serve esta pedra, mas deve servir para algo. Pois se ela for inútil, então tudo é inútil. Até as estrelas. Quem sabe… E até você. Até você serve para alguma coisa, com sua cabeça de alcachofra”, resume ele.

Uma vez armado, o triângulo levará a um desfecho trágico para todos os envolvidos. O Louco provoca Zampanò sem piedade e puxa sobre si a ira que desembocará no próprio assassinato. Gelsomina, que antes existia apenas para agradar Zampanò, não suporta o crime e enlouquece gradualmente, até que o grandalhão a abandona no meio da Estrada. Olhos muito sensíveis, bom recordar, não foram feitos para ver sangue.

 

Zampanò (Anthony Quinn) toca trompete em "La Strada" / Foto Divulgação

 

Anos passados, de volta à região em que a largou, Zampanò descobrirá que Gelsomina morreu sozinha, sempre cantarolando a música que costura o filme. Ao fim, as coisas terminam como começam: à beira-mar. Mas se início havia luz, agora a escuridão reina. Zampanò arrepende-se. Ele sente, finalmente. De que isso vale, porém? Qual é a intensidade da purgação para a plateia? O que cada um largou pelo caminho e faz tanta falta? O que nunca mais voltará, a não ser como tormento e aprendizado triste?

Pauline Kael, a famosa crítica da revista New Yorker, comparou Zampanò ao corpo, O Louco à mente e Gelsomina ao espírito. Outros talvez vissem as pinceladas de Fellini delineando traços da Commedia dell’Arte (misturando o Pantaleão, a Colombina, o Arlequim e o Pierrô). Há ainda a menção aos modelos clássicos de palhaço, o Augusto, cheio de picardia, e o Branco, aquele que se pretende sério, ambos rivais e complementares.

Para mim, Gelsomina representa o mundo das crianças – o riso, o encantamento, a dependência e o amor incondicional, o desejo puro, o coração entregue. O Louco está ligado ao mundo dos adolescentes – a dificuldade para se equilibrar, a vontade de correr riscos, o chiste e a provocação, o enfrentamento dos mais fortes, o amor platônico não correspondido. E Zampanò, assim, tem fios com o mundo dos adultos. Está atrelado ao dinheiro, ao poder, ao sexo desprovido de conexão sentimental, à força e à repressão.

Quando o adulto mata os sonhos adolescentes e abandona a integridade da criança, surge o velho que perdeu a oportunidade de amadurecer sábio, fadado a rodar por aí sozinho, sob pressão e sem respostas, derrotado em frente a um mar de sentimentos e sensações sufocadas. O oceano de seus futuros perdidos é tão largo e abissal que o homem fragmentado só consegue nele adentrar até as canelas. Como testemunhas da tragicomédia da vida, nós, os espectadores, a Lua e as nuvens, onde, dizem, moram os pensamentos dos loucos. E as estrelas, aquelas em que são gravados os nomes dos grandes – como Fellini, Masina e Quinn, por exemplo.

“A Estrada da Vida”, meu sorteio, veio sim em boa hora. Espero que para você também.

 

Cena em que Gelsomina mostra a ternura ávida por criar laços com Zampanò / Foto Divulgação

 

 

 

Postagem: Alyne Albuquerque

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2 Responses to "Caminho de sangue e estrelas"

  1. claudia freitas disse:

    Que bom seria, Janaína Leite, se você assistisse todos os bons filmes e nos conduzisse pelas mãos assim, desse jeito sensível, inteligente, perspicaz.

  2. Marineide Miranda Oliveira disse:

    “Quando o adulto mata os sonhos adolescentes e abandona a integridade da criança, surge o velho que perdeu a oportunidade de amadurecer sábio, fadado a rodar por aí sozinho, sob pressão e sem respostas, derrotado em frente a um mar de sentimentos e sensações sufocadas. O oceano de seus futuros perdidos é tão largo e abissal que o homem fragmentado só consegue nele adentrar até as canelas. Como testemunhas da tragicomédia da vida, nós, os espectadores, a Lua e as nuvens, onde, dizem, moram os pensamentos dos loucos. E as estrelas, aquelas em que são gravados os nomes dos grandes – como Fellini, Masina e Quinn, por exemplo.¨
    “A Estrada da Vida”, meu sorteio, veio sim em boa hora. Espero que para você também.”. VEIO!

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