Old
Veja vídeo do Circo Zanni, especial para Panis & Circus
Mônica Rodrigues da Costa, especial para Panis & Circus*
O Circo Zanni continua lindo e lotando o picadeiro com sua lona armada na Praça do Povo, zona oeste da capital paulista. Com fila para duas sessões em 24/2. Artistas experientes e talentosos conseguem atrair a atenção de crianças, seus pais e pessoas conhecedoras das artes do circo. A temporada de 2018 do Zanni é o momento da “recollection” (termo difícil de traduzir para o português, mas que belamente expressa uma das muitas sensações do espectador). Os números do Zanni reúnem um conjunto de memórias, uma espécie de somatória da linha do tempo da arte circense.
No espetáculo atual, o número de equilíbrio dos pratos, de Erica Stoppel, é o que melhor traduz o que circo tem de popular e sincrético. Essa atração era vista nos anos 1960 nos picadeiros de todo o Brasil e parece ter origem na China, pois também é conhecida como “prato chinês”.
A equilibrista segue o ritmo da música e põe paulatinamente no ar, sobre uma vara fina, nove pratos, mantendo-os sem cair do início ao fim de sua apresentação. Duas bailarinas a ajudam ao lhe entregar pratos e varas, um a um. Na temporada anterior o palhaço Padoca (Fernando Sampaio) era o auxiliar da atriz e ficava ansioso quando algum prato ameaçava cair. Havia a fusão da atração com um número cômico. Desta vez é a plateia que ocupa esse lugar, essa expectativa.
A banda ao vivo da temporada “Circo Zanni Mostra 2018” traz na bateria o filho de Erica Stoppel com Fernando, o Tomás Sampaio, adolescente de 14 anos. Marcelo Lujan, Fernando Paz e Nereu Afonso fizeram falta, mas a banda atual mantém a qualidade sonora do show.
O elenco são os oito artistas sócios e alguns convidados, como Iara Gueller, na lira, Du Montovani e Simone Julian, na banda. O Zanni preserva o espetáculo da forma como o dirigiu Domingos Montagner (1962-2016), um dos fundadores desse circo, que neste ano completa 14 anos de pé na estrada.
Como em picadeiros típicos, há três plateias, o chão redondo cercado de uma mureta iluminada e a entrada dos artistas em posição central, fechada por uma cortina vermelha de veludo e azul purpurina. Um número se sucede ao outro e há entradas de palhaços entre uma e outra atração, conforme a tradição. Há exibição de força, equilíbrio, e o risco está presente em muitos quadros desse também teatro de variedades circense.
Notam-se duas diferenças dos circos tradicionais: o Zanni não tem números com animais (proibidos nos circos brasileiros desde 2010) e suas atrações reinventam números e aparelhos típicos do gênero circense.
Assim, Luciana Menin apresenta o número “Alfonsina” um solo musical, da banda, e físico, da bailarina, que fez evoluções com parada de mão em uma cadeira.
No trapézio fixo, na lira, no fio do arame tenso na corda e no tecido, Maíra Campos, Bell Mucci, Erica Stoppel, Luciana Lima e Luciana Menin giram graciosamente com suas saias rodadas, dão saltos mortais, enrolam e desenrolam o corpo e se prendem às liras de ponta-cabeça. No arame, Maíra dança e salta com leveza. Nenhuma dessas bailarinas erra seus números! A meta de todo circo bom é tirar zero erro nas atrações e fazer o espectador perder o fôlego com seus números arriscados e sem lonja (corda de segurança).
Quais são as outras atrações do Zanni 2018? No início do show há música excêntrica, que mescla ritmos latinos, brasileiros, rock, jazz e música urbana internacional, e nos números, sonoplastia vigorosa. O primeiro deles é a pirâmide humana, com os artistas com seus filhos no alto.
Os números de palhaçaria musical desta temporada ficam por conta do acróbata Daniel Pedro e do músico, malabarista e palhaço Pablo Nordio. Pedro e Nordio também tocam na banda, jogam malabares e fazem o número cômico da música de buzina e do box.
Com sua dança, as bailarinas constroem uma centopeia e na sequência sobem nas liras para exibir exercícios de força e flexibilidade. Os figurinos coloridos e variados imprimem uma cor bem brasileira ao espetáculo.
A artista convidada, Iara Gueller, combina corda e lira em sua apresentação.
Daniel Pedro entra em cena como um super-herói do picadeiro e faz o número da gangorra em que o artista voa quando, do seu lado oposto, cai um peso maior do que o seu próprio.
O número de arame, de Maíra Campos, é muito aplaudido e só ocorre depois do intervalo, assim como o do prato chinês e a luta de boxe dos palhaços (Daniel e Pablo).
A corda marinha é o último número e nele uma das bailarinas, Lu Lima, gira no ar sobre si mesma, segurando o peso do corpo no pescoço.
Tudo no Circo Zanni é bem acabado e realizado com primor.
A atual temporada do Zanni agrega apresentações dos artistas do Zanni que integram outros grupos, como o Circo Amarillo, Artinerant’s e La Mínima.
Crianças participam do espetáculo
Circo Zanni Mostra, em parceria com a Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, fica no Parque do Povo, até dia 11 de março.
Serviço
Em cartaz no picadeiro montado na Praça do Povo nos dias 4/3, 10/3 e 11/3. Sábado, às 17h e às 20h, e domingos, às 17h e às 19h30. 90 minutos com intervalo. Capacidade: 375 lugares. Classificação: Livre. Endereço: av. Henrique Chamma, 420, Chácara Itaim, região sul, s/tel. Ingresso: gratuito, com distribuição no local duas horas antes de cada sessão. Sujeito à lotação do espaço.
Ficha Técnica do Circo Zanni
Criação e direção artística: Domingos Montagner. Direção musical: Marcelo Lujan. Cenário e figurino: Dani Garcia. Direção técnica: Pablo Nordio. Produção de montagem: Daniel Pedro. Elenco: Daniel Pedro, Erica Stoppel, Fernando Sampaio, Luciana Menin, Maíra Campos, Marcelo Lujan, Pablo Nordio, Bel Mucci e Luciana Lima. Convidados: Du Mantovani, Fernando Paz, Filipe Bragantim, Tomás Sampaio e Renato Farias. Técnicos de montagem: Wagner Santos, Edi Silva e Everton Máximo. Técnico de som: João Sobral. Técnico de luz: Paulo Souza. Produção: Márcia Nunes.
*Mônica Rodrigues da Costa é jornalista especializada em infância, crítica de teatro e circo e doutora em Comunicação e Semiótica.