Pé na Estrada
Conheça o Fringe: maior festival de arte de rua do mundo
“O evento é o resultado da liberdade de expressão de pessoas criativas do mundo todo”, afirma Kath Mainland, diretora do FFS (Edinburgh Festival Fringe Society)
Ivy Fernandes
O Fringe, Festival de Edimburgo, na Escócia, é o maior festival de artes de rua do mundo. Esse ano, a programação do evento começou em 2/8 e vai até 31/8. Durante essas três semanas, a cidade recebe 24 mil artistas do mundo todo. Espera-se um milhão de turistas. Em 2013, o Brasil participa do evento com quatro companhias: Teatro Amok, com a peça “Kabul”; Armazém Companhia de Teatro, com o espetáculo “A Marca d´Água”; Teatro Máquina, com o trabalho “Leonce e Lena”; e A Caixa do Elefante – Teatro de Bonecos, com a peça “A Tecelã” (The Weaver).
O Fringe surgiu como uma mostra paralela ao Festival Internacional de Arte de Edimburgo que foi criado logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1947, com o objetivo de ajudar a erguer o combalido estado de espírito europeu.
No mesmo ano, oito companhias teatrais organizaram um festival paralelo ao oficial, chamado Festival de Edimburgo ou simplesmente “The Fringe” – que consiste em apresentações de arte, música, teatro, circo e performances na cidade escocesa. O evento completa 66 anos, em 2013, e está em boa forma porque se renova sempre.
Festival Fringe Society divulga o Fringe
A partir de 1958, foi instituído a Festival Fringe Society (FFS), organização com a finalidade de fornecer informações, montar um estande central e divulgar a programação dos espetáculos – o que tornou o Fringe mais conhecido.
A primeira decisão do FFS em sua inauguração foi que não deveria ser exercido qualquer veto artístico aos espetáculos apresentados no festival e a regra vale até os dias de hoje. O Fringe atrai os grandes nomes do espetáculo de rua e cobre uma variedade de expressões artísticas, como teatro, cabaré, dança, música, circo, exposições e eventos.
O Fringe não convida e não remunera os artistas. Em 2012, o festival apresentou 2.100 espetáculos distribuídos em 265 locais diferentes. O humor ocupou o primeiro lugar com 35% da programação, em segundo, com 28%, veio a produção teatral e, com 16%, os espetáculos musicais.
O Fringe de 2013 ano deve ser ainda mais representativo, afirma o assessor de imprensa Wendy Niblok. “O evento deste ano será 6,5% maior que o gigantesco festival de 2012. Apresentamos cerca de 2.871 espetáculos com a participação de 24 mil artistas de todos os gêneros artísticos em 270 locais. Durante as três semanas, o público estimado é de cerca de um milhão de visitantes. Uma máquina enorme que deve funcionar como a engrenagem de um relógio perfeito.”
Fringe recebe imprensa com banquete
A direção do Fringe, como faz anualmente, organizou um almoço para a imprensa e pessoas ligadas aos espetáculos para divulgar a programação de 2013. Durante o almoço, um autêntico banquete, oferecido pela direção do Fringe à imprensa e pessoas ligadas aos espetáculos, afirmou a diretora do FFS (Edinburgh Festival Fringe Society), Kath Mainland: “The Edinburgh Festival Fringe não é importante apenas por ser o maior festival de artes do mundo ou por ser aberto totalmente ao mundo da arte, embora esses elementos sejam muito importantes. É mais importante e maravilhoso ainda porque é o resultado da liberdade de expressão de milhares de pessoas criativas de todo o mundo, de origens e idades diferentes e em fases diversas de suas carreiras e que representam todas as formas de arte”.
Para a Secretária de Cultura e Assuntos Externos de Edimburgo, Fiona Hyslop, “the Edinburgh Festival, o Fringe, é o festival mais vibrante do mundo e atrai anualmente milhares de visitantes para a capital da Escócia que voltam para casa encantados com a diversidade de espetáculos, criatividade dos artistas e com a abertura às expressões artísticas do cenário mundial do espetáculo”.
A Companhia Nacional de Dança de Siena é comandada por Francesca Selva (foto abaixo) e foi fundada em 1955. A coreografia dos espetáculos é inspirado na arte neoclássica, mas tem forte influência contemporânea. Com a colaboração de bailarinos e músicos estrangeiros apresenta-se neste ano no Fringe.
“Anna” deve gerar polêmica
O programa deste ano do Fringe é tão extenso que para o ler são necessárias muitas horas. Um dos espetáculos mais esperados do Fringe 2013 é “Anna”, que tem estreia mundial. Trata-se da história da vida, do trabalho e do assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaya.
Espera-se que essa estreia provoque reações tão intensas quanto o show “A Fábrica”, de Badac, encenada em 2012 no Fringe. O espetáculo apresentava como cenário uma espécie de celas de prisão que davam ao espectador a ideia do espaço, tempo e agonia de prisioneiros, o que impactou fortemente o público.
A Companhia Teatral Badac explora o tema dos direitos humanos e foi fundada, em 1999, por Steve Lambert e Dan Roob.
Em 2013, o espetáculo do grupo aborda a trajetória da jornalista russa Anna Polikovskaya. Quem quiser saber da programação clique aqui.
Brasileiros no festival
O Teatro Amok, do Rio de Janeiro, é dirigido por Ana Teixeira e Stephane Brodt e se dedica à pesquisa da linguagem cênica desde que foi fundado, em 1998. Os espetáculos do grupo estão centrados em temas contemporâneos e apresenta “Kabul” no Fringe esse ano.
“Kabul” aborda a guerra e a execução da mulher de burca azul
“Kabul” aborda a guerra vista através da intimidade de dois casais que refletem o martírio de uma nação traumatizada por 20 anos de violência e entregue à tirania dos fundamentalistas. Quatro rostos da guerra, quatro retratos de um Afeganistão feito de dentro das casas, por detrás das cortinas, são descritos na peça.
“Kabul” é uma criação que partiu de duas fontes: um livro, “As Andorinhas de Cabul”, do escritor argelino Yasmina Kadra, e uma imagem real, de uma mulher coberta com uma burca azul sendo executada, publicamente, no estádio de Cabul, em novembro de 1999.
A imagem, feita a partir de um celular, correu o mundo e revelou um fato cruel e que inquieta ainda mais por parecer distante.
Ana Teixeira, às vésperas de sua partida para a Escócia, explica ao site Panis & Circus: “Decidimos aproximar e ir além da imagem, que desaparece no instante seguinte da notícia. Quem poderia ser a mulher por debaixo daquela burca? Qual o seu rosto? Qual a sua história? Levantar o véu… O que contamos em “Kabul” poderia ser a história desta mulher”.
“Kabul” recebeu o Prêmio APTR (da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro – um dos mais importantes do Brasil) na categoria especial, pela música composta por Beto Lemos, e o Prêmio Funarte – Myriam Muniz em 2009. Foi fundado em julho de 2003.
Teatro Máquina apresenta “Leonce e Lena”
O Teatro Máquina, de Fortaleza (CE), é uma trupe que se formou há dez anos e que se encontra diariamente para colocar em prática formas teatrais. O grupo produziu seis espetáculos e se apresenta no Fringe com a peça cômica “Leonce e Lena”, escrita em 1836 por Georg Büchner – única comédia desse dramaturgo alemão.
A peça conta a história de dois jovens nobres, o príncipe Leonce e a princesa Lena, que se encontram por acaso e se apaixonam sem chegar a conhecer o papel social que ocupam. Ambos estão comprometidos com casamentos arranjados que rejeitam e fogem deles.
Panis & Circus conversou por telefone com o produtor Levy Mota, que explica: “Em um trabalho contínuo de criação de espetáculos, realização de temporadas, participações em festivais e mostras, nós do Teatro Máquina, principalmente a partir de 2008, aprofundamos nossos processos criativos e as trocas com outros artistas e grupos. Dedicamo-nos também à articulação em rede com grupos de teatro em Fortaleza, no interior do Ceará, e em outras cidades do Brasil”.
“Marca D´Água”, do Armazém do Teatro
O Armazém Companhia de Teatro (Armazém Theater Company) foi criado, em 1987, em Londrina (PR). Em 1998, a sede do Armazém passou a ser o Rio de Janeiro. O grupo completa 25 anos de existência.
No Fringe, o Armazém apresenta a peça “Marca D’ Água” (Water Stain). A peça fala da vida monótona e metódica de Laura, de 40 anos, e que um dia no jardim de sua casa é surpreendida pela presença de um peixe enorme.
O fato leva Laura a relembrar sua infância e a personagem faz uma revisão da vida. Laura precisa escolher: ou se curar e voltar à à monotonia ou fazer um mergulho numa nova vida. O espetáculo trata do mundo real e do sonhado, da busca e do delírio do personagem.
“A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos” apresenta “A Tecelã”
“A Tecelã” mostra uma mulher capaz de criar um universo imaginário alinhavando cenas de teatro de bonecos, vídeo, dança e ilusionismo.
O nome da companhia “A Caixa de Elefante Teatro de Bonecos” é inspirado na vida dos elefantes que percorrem longas distâncias, costumam viver em grupo e possuem excelente memória. Fazem parte do imaginário exótico no Ocidente e são venerados por diversas culturas. Para os hindus representa “Ganesh”, o deus do sucesso e superação de obstáculos e está associado ainda ao aprendizado, à prudência e à força.
“A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos”, a exemplo desses paquidermes, tem percorrido o mundo com seus espetáculos, transportando na bagagem toneladas de poesia e divertimento. A companhia porto-alegrense, fundada em 1991, em Porto Alegre, é hoje uma das companhias de teatro de bonecos mais atuantes e de maior destaque no panorama artístico nacional. Tem um delicado trabalho de construção e manipulação de bonecos. Suas premiadas montagens, direcionadas tanto para o público infantil como para o adulto, foram apresentadas em países da Europa, América do Norte e América do Sul, representando e valorizando, em cada um deles, a essência da cultura brasileira.
Mário de Ballentti, fundador da Caixa do Elefante, interpreta o mestre de cerimônias do festival Sesi Bonecos do Brasil/Mundo, apresentando-se em todas as capitais do país. A trilha sonora da peça é de Nico Nicolaiewsky. Os efeitos especiais do ilusionismo são de Erc Chartiot e do elenco fazem parte Carolina Garcia, Valquiria Cardoso e Viviana Schames, com direção de Paulo Balardim.
Postagem: Alyne Albuquerque
Tags: Festival de Edimburgo, Fringe