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Ministério da Saúde adverte: circo faz bem à saúde
Marlene Querubim, diretora e fundadora do Spacial, conta sobre campanha de governo proposta pelo deputado Tiririca, fala do circo na TV Record e da presença de Patati Patatá em seu picadeiro
No domingo passado, 27/05, a equipe do Panis & Circus visitou a lona do Spacial para ver por mais uma vez o espetáculo e conversar com Marlene Querubim, diretora e fundadora do circo.
No início da entrevista, Querubim perguntou se já conhecíamos o novo programa do Ministério da Saúde, que promove o circo com o slogan: “Circo faz bem para a saúde”. Trata-se de iniciativa do deputado e artista circense Tiririca.
Em vídeo, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirma que é preciso que crianças e jovens circenses (que mudam com a lona que é itinerante) tenham acesso aos serviços de educação e saúde. Em entrevista ao Panis & Circus, o palhaço Tiririca relatou essa sua proposta de viabilizar o acesso a esses serviços.
Padilha acrescenta, no vídeo, gravado em comemoração ao Dia do Circo (27/03), que foram realizadas oficinas, no mês de março, para adotar parcerias que permitam usar o circo como espaço itinerante de educação popular e promoção da saúde.
O palhaço Pingolé, irmão da Marlene, Gilmar, contou que mostrou seu trabalho em “Gente de Circo”, apresentado no jornal da Record em 28/05. A emissora exibe programação sobre o circo até 1º/06. Em 29/05, a série também mostrou outros palhaços. Na próxima semana, o Panis & Circus trará edição de “Gente de Circo”, comentando o programa da Record.
Marlene Querubim ainda informou que a dupla de palhaços Patati Patatá está no Spacial neste final de semana: sexta (1º), sábado (2) e domingo (3 de junho).
Marlene estava animada e disse que seu sonho é produzir uma ópera circense em grande estilo, unindo música, dança e teatro com as artes do picadeiro. Ela tem o roteiro pronto, mas esbarra no custo do espetáculo.
Com um grupo de 70 profissionais fixos, Querubim não pensa em parar as viagens com a lona do Spacial pelo Brasil. Sobre a capital paulista, diz que há cinco bons terrenos para armar o circo hoje na cidade.
“Na zona leste, em frente ao metrô Itaquera; no Tatuapé, onde o Stankowich montou picadeiro; na zona norte, ao lado do Center Norte, onde ocorreu o encontro das lonas [que ficou famoso em São Paulo]; na zona sul, na represa Guarapiranga, e em frente ao centro de exposições Imigrantes.”
Empresária reclama da Lei Rouanet e diz que falta patrocínio para as artes circenses
O grande desejo de Marlene é que o circo seja reconhecido como patrimônio cultural brasileiro e ela luta para isso.
O poder de renovação constante do circo e a cultura democrática, que reúne sob a lona famílias das mais diversas idades e classes sociais partilhando a mesma emoção, encanta Marlene Querubim até hoje e reforça sua missão de destacar as artes circenses no Brasil.
Nesta entrevista de Marlene Olímpia Querubim ao Panis & Circus, a empresária e poeta relata como bravamente comemora 25 anos de lona.
Se ela não nasceu no trailer de um picadeiro, conforme conta abaixo, com todo esse tempo de dedicação ao circo, já está incluída na tradição dessa arte itinerante. Marlene disse que tem 35 membros de sua família que trabalham no circo, entre filhos, irmãos e sobrinhos.
Como atriz, Marlene Olímpia trabalhou no picadeiro com os Trapalhões, famosos como palhaços televisivos, e participou dos clássicos Vostok, Tihany e Garcia.
Como empresária, Querubim avalia o trabalho de seu circo, o Spacial, e define a dor e a delícia de viajar com a lona.
Marlene também fala de políticas culturais para o circo e reclama da Lei Rouanet: “A criação da Lei Rouanet dificultou muito o patrocínio do circo porque é destinada a alguns grupos e acabou fechando um pouco o círculo [de patrocínios]”.
Diretora de circo é engenheira, matemática e escritora. Leia a entrevista a seguir.
Marlene Olímpia Querubim é de família circense há cerca de 30 anos. Diretora e fundadora do Circo Spacial, a empresária mantém o circo faz 25 anos.
Essa também atriz e escritora ajudou a fundar a Academia Brasileira de Circo e a União Brasileira dos Circos Itinerantes (UBCI), tendo cursado ciências com habilitação em matemática e engenharia.
Nas horas de lazer, o que Marlene Querubim gosta mesmo é de escrever poemas, crônicas e música. A vida nômade no circo é uma paixão que une trabalho e turismo pelo Brasil.
Panis & Circus – Você é paulistana? Como entrou para a vida no circo, por ser de família circense tradicional?
Marlene Olímpia Querubim – Nasci em Mariópolis (PR) e passei toda a infância no Paraná. Tenho sete irmãos. Não sou de família tradicional do circo, mas hoje toda minha família está no circo, eu trouxe toda a família para trabalhar junto comigo no circo.
Minha ligação com o circo começou por meio do teatro, comecei muito cedo, aos dez anos, a frequentar aula de teatro. Aos 13 eu já era uma profissional. Com 16 anos, participei de um festival com cem grupos na minha cidade e, por cauda do festival, conheci o circo.
Na minha região tinha o circo teatro Chimbica, e fui atriz algumas vezes nesse circo.
Circus – Você fez aula de artes do circo?
Querubim – Nunca fiz. Quando entrei no Circo Vostok, em 1978, dirigi o espetáculo e cuidei do departamento de marketing. Como eu tinha experiência de artes cênicas e artes plásticas, acabei cuidando desse lado. Atuei como atriz no picadeiro, com os Trapalhões. Nunca fiz aula de circo, mas conheço muito da atividade circense.
Circus – Como foi esse primeiro espetáculo na lona e o que a marcou?
Querubim – Há 32 anos, o conceito de circo era bem diferente do que é hoje. Naquela época, o que mais se viam eram os números com animais e grandes trupes com artistas internacionais.
Era uma época de muitas atrações internacionais. Meu primeiro contato com o circo foi com o Tihany, o Vostok, o Garcia que têm espetáculos monumentais, que não vemos hoje em circo nenhum.
O espetáculo mais próximo que vejo hoje é o do Tihany. Minha referência daquela época são os grandes espetáculos.
Circus – Qual é a sua formação?
Querubim – Eu me formei em teatro, fiz ciências e computação, matemática, depois, engenharia, marketing, relações públicas, fiz vários cursos.
Circus – Seus irmãos trabalham com qual atividade no circo? E nos bastidores?
Querubim – Eles trabalham nos bastidores. Um de meus irmãos é o palhaço Pingolé, os outros são técnico, sonoplasta, iluminador. Várias sobrinhas fazem trapézio e tenho dois filhos que são palhaços.
O mais novo é o palhaço Peteca, ele está em excursão no Havaí atualmente. Viajou pelos EUA e já morou por dois anos na Europa.
Meus sobrinhos todos fazem circo. Hoje são 35 pessoas da minha família que fazem circo, começaram todos comigo.
Circus – Qual é sua atual atividade circense hoje?
Querubim – É o Spacial. Nós também fundamos em São Paulo a Academia Brasileira de Circo, onde funcionam escola de circo e espetáculos em cartaz. Também sou vice-presidente da União Brasileira de Circo Itinerante.
Spacial não segue a cultura da TV
Circus – Como foi sua trajetória até chegar a ter o Circo Spacial?
Querubim – Viajei por três anos com o Circo Vostok aqui no Brasil e pela América Latina, em 1978, 79 e 80. Em 81 parei em São Paulo e dirigi o Circo Mágico, que estava montado no Anhembi. Depois foi pedido o terreno para que fosse construído o sambódromo.
Eu sentia a necessidade de criar um circo, foi aí que nós fundamos, em 1985, o Circo Spacial, que estreou em 9 de agosto de 85. Escolhemos a cidade de Valinhos por estar próxima a São Paulo.
Depois de seis meses fiz uma temporada na capital, que é um fato inédito no circo: iniciar e após seis meses fazer uma temporada na cidade, mas eu já tinha esse lado empreendedor de fazer um circo grande.
O Spacial era um circo pequeno, de 6 m², e fiquei com ele por seis meses. Depois já comprei a lona grande e o Spacial ficou maior. Sempre fui arrojada.
Circus – Qual é o ponto forte do Spacial?
Querubim – O circo hoje vive uma mudança muito grande, o próprio Spacial, durantes estes 25 anos, mudou seu conceito de espetáculo. Inicialmente começamos sem animais, depois trabalhamos com os animais por um determinado tempo e depois não usamos mais os bichos nas atrações.
O principal forte do espetáculo hoje é a habilidade humana, que valorizar o artista como um todo. O circo vive de ciclos, o público, também, então a inspiração se renova, tanto quanto a procura pelos espetáculos.
Hoje é maravilhoso, amanhã, pode não ser. Às vezes, é a tecnologia que chama a atenção, outras vezes, são as coisas simples. De época em época é preciso mudar o espetáculo e fazer uma pesquisa constante sobre o que agrada.
Muitas vezes o que é muito tecnológico agrada, outras vezes o que é muito simples agrada também. Muda de geração em geração.
Circus – Existe uma moda dentro do circo?
Querubim – Quem dita moda para o circo é a televisão. Quando vai alguma coisa do circo para a TV, o público começa a ver. Por exemplo, se vai um número de tecido para a televisão em determinado ano, todo mundo quer ver tecido no circo.
Com o filme “O Palhaço”, todo mundo quer ver palhaço no circo. Na época em que foi gravada a novela “Cambalacho”, com Marcos Frota, que tinha trapézio, todo mundo queria ver trapezistas.
O público brasileiro é influenciado pela cultura da TV e isso acaba influenciando o espetáculo. Muitas vezes você anda na contramão disso, se quer fazer um espetáculo bem produzido, diferenciado.
Se você faz um espetáculo que tenha alguma coisa que apareceu na televisão, todo mundo vai ver. Hoje o que está muito em moda no Brasil é o espetáculo temático, como o da Turma da Mônica, o da dupla Patati Patatá, o do programa “Cocoricó”.
Esses personagens são referências para as crianças. Todo espetáculo que foge disso tem mais dificuldade de atingir o público, mas também há público para todos os gêneros, depende do foco de cada espetáculo.
Circus – Qual é o público do Spacial?
Querubim – É família. Faço uma pesquisa anualmente para ver o que o público espera assistir e em cima disso a gente monta os espetáculos.
Circus – É difícil sobreviver da lona? Como vocês fazem isso?
Querubim – Muito difícil. Para viajar com a lona o circo tem que ir com 22 carretas, 3.000 lugares, 35 trailers, é uma minicidade. As dificuldades são muito grandes, tem que ter coragem, enfrentar os desafios do dia a dia.
Costumo brincar que a gente tem que matar um leão por dia para sobreviver. Claro que a gente tem um nome, uma força, experiência. São 25 anos, já sabemos quais os caminhos a percorrer, mas cada dia a burocracia tem dificultado mais a vida do circo itinerante em todos os sentidos, com a carga burocrática que existe para o circo itinerante.
Circus – O que acha que o Spacial tem de diferente dos circos tradicionais?
Querubim – Cada circo tem a sua marca, sua maneira de organizar o espetáculo. O Spacial é um circo inovador, sempre está adiante do seu tempo, sempre procura apresentar aquilo que os outros não estão apresentando.
Nós fazemos muitas pesquisas. Como [os espetáculos] do exterior trazem muitas novidades, então, estamos sempre apresentando novidades para o público.
Circus – Como funcionam essas pesquisas?
Querubim – Temos uma equipe, acho que com duas diretoras de espetáculos, uma área de marketing e alguns diretores associados na parte musical. Na área artística sempre estou em busca de contratar profissionais que contribuam com a pesquisa e o espetáculo.
Circus – Com a pesquisa fica mais fácil direcionar o trabalho?
Querubim – Depois que surgiu a internet, nosso público mudou completamente. A comunicação, que antes era feita localmente, hoje é nacional.
Temos hoje uma mudança radical na família brasileira. Antigamente a criança, o pai, a mãe não tinham acesso à internet, hoje já tem o acesso dentro de casa, podendo ver todos os espetáculos do mundo, então, fica mais difícil trazer novidades, tem que pesquisar muito para conseguir agradar a seu público.
Circus – Quais os planos para 2012?
Querubim – O Circo Spacial está produzindo novo espetáculo para outubro deste ano. Estamos trabalhando no tema, mas vamos continuar a apresentar o espetáculo de aniversário por mais seis meses porque há muitas cidades que não o viram ainda.
Incentivos e o patrocínio com a Lei Rouanet pioram para o circo
Circus – O Circo Spacial tem patrocínio?
Querubim – Tivemos patrocínio ao longo de 15 anos das empresas Melita, Bauducco, Nestlé e outros patrocinadores de empresas privadas, nunca do governo.
A criação da Lei Rouanet dificultou o patrocínio do circo porque a Lei Rouanet é destinada a alguns grupos e acabou fechando um pouco o círculo. Eu sempre reclamo disso porque, antes dessa lei, o circo tinha muito patrocínio, e perdeu esses patrocínios em função de uma série de dificuldades.
Hoje você tem que apresentar o projeto com dois anos de antecedência, trazer o roteiro de como você vai fazer o espetáculo e com previsão daquilo que não sabe ainda.
É complicado, acho que o olhar do circo tem que ser um olhar diferente, o patrocinador do circo tem que ser um patrocinador que, independentemente da cidade ou local aonde você vá, a única certeza que o patrocinador tem que ter é a de um espetáculo para a família, a de haver público e a de que o produto dele vai ser anunciado.
Circus – Fale sobre o incentivo público…
Querubim – Temos feito um trabalho político há dez anos, juntamente com outras associações, e conseguimos ter uma Câmara Setorial do Circo em Brasília. Começamos a discutir o Plano Nacional de Circo e está evoluindo.
Existe um trabalho sério, de várias pessoas que se conscientizaram de que, se não houver união entre os circenses e tantos outros [profissionais] do circo, como os artistas, não teremos políticas voltadas para o circo.
Há cem anos de abandono do circo. Existe uma luta de dez anos contra isso, e o resultado é que já temos muitas coisas, como o Prêmio Carequinha, e já demos os primeiros passos.
Se cada um fizer sua parte vamos ter um circo forte, respeitado e com políticas públicas direcionadas à produção, circulação, formação, capacitação de nossos profissionais. Antes não tínhamos isso.
Todas as áreas da cultura possuem incentivos. A UBCI é uma entidade para políticas públicas tanto na esfera municipal como nas esferas estadual e federal. Temos que lutar na esfera nacional porque precisamos ter uma lei do circo nacional
A primeira coisa que conseguimos foi um fato histórico: uma monção dizendo que o circo é Patrimônio Cultural Brasileiro. É importante ter essa valorização e esse olhar público para o circo e para seu legado histórico.
Visita ao ministro da Cultura Houaiss foi desastrosa
Dediquei minha vida a isso e na primeira vez em que fui ao Ministério da Cultura, na década de 80, fazer uma visita ao ministro Antônio Houaiss (1915-1999), ele me perguntou: “O circo ainda existe?”.
Tive um desgosto tão grande de o ministro me receber perguntando se o circo existia. Um ministro da Cultura… O Ministério da Cultura não tinha uma lei de incentivo para o circo.
Daquele dia em diante decidi dedicar minha vida a mostrar ao poder público que o circo existe, tem força, é atuante na sociedade. Há hoje em torno de 2.500 circos no Brasil.
Existem mais de 30.000 circenses e um público enorme que assiste aos espetáculos circenses no Brasil. No passado, esse público já foi o maior [em relação às outras artes].
Eu me reuni com outras pessoas que tinham essa mesma visão que tenho para lutar pela valorização do circense e para que existam editais para o artista capacitado melhorar seus números, para se formar para o espetáculo.
Representação da lona itinerante
Circus – Na política como se conseguem incentivos?
Querubim – Somos articulados, organizados e temos várias entidades que representam o circense: a Cooperativa, que representa os artistas; a UBCI, que representa o circo; a Abracirco; a Aliança Pró-Circo. Hoje somos organizados oficialmente, temos uma força grande.
O mais importante é conscientizar a nova geração de circo, que é uma geração que já está atuando e percebe que existem muitas lutas. Precisamos de muita gente trabalhando e defendendo o circo, levantando sua bandeira e acreditando nele.
O circo ficou tanto tempo marginalizado porque as pessoas de circo estão sempre em “itinerância”, não tinham tempo de ficar lutando. Hoje, como a gente já tem o caminho traçado, a gente se dedica a trabalhar.
Temos as crianças, que estão de escola em escola, cidade em cidade, e muitas vezes não têm vagas garantidas.
Temos a questão da documentação. Não temos tempo de cumprir a burocracia, então, às vezes, temos que mentir que moramos em algum lugar para ter um atestado.
Somos nômades e temos que ser reconhecidos sem precisar mentir para conseguir um documento, e a maioria faz isso. O artista tem que tirar um R.G e diz que mora na cidade em que o circo está, mas ele mora no trailer.
Todas essas diferenças culturais do circo têm que ser respeitadas na sua essência: o pedido de Alvará, as dificuldades da vida do circense itinerante e do circo de modo geral. Vamos continuar a discutir, é a hora de a sociedade participar dessa discussão e de conhecer esse outro lado do circo.
Circo tradicional
Circus – O que caracteriza o circo tradicional e o que não pode faltar nele?
Querubim – O circo tradicional tem que ter os três elementos básicos do circo, que são o trapézio, o palhaço e o mágico, que são parte do imaginário do público.
Esses elementos lidam com o desafio que é o trapézio, com a magia e com a ilusão que são do mágico; o palhaço, que trabalha com a peraltice, a alegria, a risada espontânea, o humor infantil, digamos assim, aquele humor maravilhoso, são as coisas simples da vida que aprecio. O circo não pode perder isso.
Circus – Quais artistas fizeram história?
Querubim – Temos várias famílias brasileiras que fizeram história: as famílias Aires, Tangará, Silva, Neves, Portugal, Stankowich. Muitas famílias que vieram da Europa e trouxeram um legado para o Brasil.
Temos muitos artistas tradicionais que trabalharam e que deixaram um legado [cultural] muito bom.
Circo hoje e ontem
Circus – Como o paulista vê o circo?
Querubim – O paulista adora circo e gosto muito do paulistano, que tem uma cultura circense nata. Os paulistas aprenderam a gostar do circo com o Piolin, que tinha a lona montada no Largo do Arouche.
O paulistano está acostumado com grandes espetáculos, acompanhou diversos espetáculos, como os do Circo Garcia, do Orfei, do Tihany, do Moscou, que se apresentavam muito em São Paulo, então, os paulistas têm uma cultura de espetáculos circenses.
Circus – Qual é sua opinião sobre o circo hoje?
Querubim – O circo vive hoje um momento de transformação. Apesar de ser sempre contemporâneo, está mudando a cada década. Comparo com a Semana da Arte Moderna. Aquelas pessoas que participaram dela viram seu reflexo lá na frente.
Vivemos uma mudança muito grande, tanto na arquitetura circense como nos espetáculos, na formação do artista. Hoje a grande formação está nas escolas de circo e o resultado disso poderá ser visto somente daqui a dez anos. Acredito que vai ser um marco histórico, vamos viver dias muito melhores.
Estamos iguais ao cinema: chegamos ao fundo do poço com o circo em todos os sentidos e daqui para a frente só vai melhorar, porque a gente tem brigado muito para melhorarem as políticas públicas voltadas para o circo.
Circus – O circo ontem?
Querubim – Nostálgico. O circo romântico, aquele espetáculo em que a família se reunia, em que o circo levava informações para a cidade que ia, tanto da moda como da música, era precursor [das tendências culturais] nas cidades do interior.
A única forma de comunicação com a arte que a população tinha era o circo. Muitas cidades tinham o primeiro contato com a arte através do circo. Depois o público vinha a conhecer o balé, o teatro, a dança, mas o primeiro contato era com o circo, arte popular. O próprio cinema se via dentro do circo.
Circus – Você gosta do circo teatro?
Querubim – Maravilhoso, o circo teatro consegue juntar duas artes: o teatro e o circo. Tenho um carinho especial pelo circo teatro, o circo é o berço de todas as artes e o circo teatro era uma maneira que o público tinha de conhecer as peças de teatro.
Dor e delícia do circo clássico
Circus – Qual é a maior dificuldade para o circo?
Querubim – É o preconceito mesmo. De um lado, somos elogiados pela mídia, pela classe artística, do outro, o preconceito é muito grande contra o circo, então, vivemos esses dois lados.
Circus – O que mais gosta na vida do circo e o que menos gosta?
Querubim – O que eu mais gosto é de viajar, da mudança, gosto de chegar à nova cidade e conhecer sua cultura, a comida, passear pela cidade, ver os pontos turísticos.
Gosto muito de viajar, então, enquanto estou na estrada, estou feliz. A vantagem do circo – sempre existe uma vantagem – é a de fazer turismo, conhecer a cultura local, aproveita-la e usá-la sabiamente para lhe fazer uma pessoa mais feliz. É também a universidade da vida, em que você adquire conhecimentos.
Circus – Qual cidade você recomenda para passeio?
Querubim – Fora do país, eu recomendo Nova York, lá tem o Big Apple Circus, que está sempre em cartaz e com um espetáculo maravilhoso.
No Brasil temos uma nova geração formando grupos de circos. Recomendo São Paulo, que tem o Circo Zanni. Gosto também do Circo Roda e da irreverência do Circo Vox. A diversidade do circo brasileiro é maravilhosa.
Circus – Quais foram o melhor e o pior momento que você teve com o circo?
Querubim – O melhor momento foi quando fizemos um espetáculo no Maracanã (RJ) para 220 mil pessoas. Todo o elenco do Circo Spacial entrou e todo mundo começou a gritar: “Circo Spacial, Circo Spacial”. Foi um momento inesquecível na minha vida.
O pior momento foi quando eu tive que ficar interditada na cidade de Indaiatuba por birra do prefeito, que não deixou o circo estrear. Eu estava autorizada legalmente, mas tive que recorrer à Justiça e aguardar por dez dias para trabalhar só porque o prefeito não queria o circo na cidade.
Animais no picadeiro
Circus – Quais animais havia em seu circo antes?
Querubim – No Circo Spacial, já apresentei elefante, chipanzé, cachorros, cavalos, pôneis, vários animais. Nós os tiramos em função da pressão que teve da própria condição de vários municípios, que não deixavam apresentar animais, contrariando uma própria determinação.
A lei do circo diz que o artista circense que é o domador tem que ter seu próprio animal para exercer sua profissão, mas teve uma campanha que desvalorizou e ridicularizou os espetáculos com animais.
Puro preconceito contra o circo porque, enquanto o circo não pode usar animais, todas as outras áreas usam: o jóquei, a TV, o cinema, as exposições, a Polícia Militar. Então, todo mundo pode usar os animais menos o circo.
Circus – Qual a sua opinião sobre animais no circo?
Querubim – Tem que ser feita a regulamentação, uma lei ditando regras, com obrigações e multas se o dono do circo ou os domadores não cumprirem o que a lei determina.
Existe uma lei tramitando no Congresso há dez anos e que não foi aprovada ainda por pressão das ONGs. O que fizeram contra o circo foi uma perseguição porque tiraram os animais do circo, levaram para o zoológico e eles morrem lá, então, qual é a diferença? Por que todos os animais que tiraram do circo morreram no zoológico?
Cirque du Soleil
Circus – O que acha dessa grande indústria que é o Cirque du Soleil?
Querubim – O Cirque du Soleil estava no momento certo na hora certa. Quando houve a explosão da internet e da TV mundial, ele estava ali. O que aconteceu com o Cirque du Soleil poderia ter acontecido com qualquer outro circo.
Se tivesse outro circo no lugar do Cirque du Soleil, explodiria igual, porque o Soleil tem mais condições financeiras que o circo brasileiro, patrocínio e apoio do governo canadense, o que ajudou no momento em que ele precisava se tornar a indústria que é hoje.
O circo que tiver respaldo financeiro consegue chegar ao nível do Cirque Du Soleil. Nós estamos sem condições nenhuma, sem apoio, somos o que somos hoje, e imagine o que seríamos se tivéssemos patrocinadores e incentivadores, seriamos muito melhor que o Soleil.
O Brasil fornece muitos artistas para o Soleil, temos o elemento básico, que é o talento. Os artistas brasileiros são muito criativos e se adaptam a qualquer circunstância. Se temos os melhores artistas do mundo, tanto no globo do trapézio quanto como palhaços, nós podemos ter também o melhor circo do mundo se tivermos condições para isso.
O público brasileiro se acostumou a valorizar os espetáculos de fora, porque somos doutrinados para o circo estrangeiro. Temos que inverter um pouco isso e valorizar o que é nosso.
As pessoas pagam 400 reais por um ingresso, e a gente poderia pagar 50 reais pelo mesmo número e assistir a um espetáculo de circo no Brasil.
Marlene Querubim recomenda livro, filmes e espetáculo
Circus – Um livro que recomenda para um artista circense?
Querubim – “Água para Elefantes”, fantástico, acho que todo artista circense deveria ler.
Panis- Filmes?
Querubim – “O Palhaço”, “O Maior Espetáculo da Terra” e “Água para Elefantes”. Deste filme, gosto das cenas de montagem e desmontagem da lona.
Circus – Qual foi o melhor espetáculo de 2011?
Querubim – O melhor espetáculo que vi em 2011 foi o do Circo Dreams, em que meu filho estava trabalhando, nos Estados Unidos.
História do Circo Spacial
Tradicional picadeiro brasileiro, o Circo Spacial mantém atrações tradicionais com malabaristas, pernas de paus, trapezistas, contorcionistas, acrobatas de tecido e solo, ilusionistas e outras atrações. Reune música, dança, teatro e tem as clássicas apresentações dos eternos palhaços.
Sua lona tem capacidade para abrigar até 3.000 espectadores em cadeiras. Foi um dos primeiros circos do Brasil a apresentarem espetáculos sem animais.
Em 2010, completou 25 anos de existência, quando Jacson Querubim, um menino de quatro anos, sonhou com uma viagem em uma nave espacial, símbolo do Spacial, levando alegria e fantasia para pessoas de todas as idades.
O sonho envolveu sua mãe, Marlene Querubim, que, na época, trabalhava na área de marketing e conhecia vários empresários , inclusive circenses.
Em 1985 o sonho de Jacson se realizava: Marlene fez o primeiro espetáculo do Circo Spacial, com artistas, parentes, amigos e outros profissionais que embarcaram no sonho.
Hoje o circo inclui mais de 35 famílias e percorre todo o Brasil, com mais de 120 integrantes, vinte carretas, carro de som, trailers, lonas, praça de alimentação, e muitos outros equipamentos para conseguir fazer rodar essa minicidade.
O Spacial já se apresentou no Maracanã (RJ) para 220 mil pessoas em 1987. É o único circo brasileiro que recebeu a visita de um presidente da República do Brasil, Itamar Franco (1930-2011; foto abaixo), e a sediar sessão solene da Câmara de Vereadores de São Paulo, em 27 de março de 2007.
O irmão de Marlene Querubim, o Palhaço Pingolé
Na entrevista ao site, o palhaço Pingolé, do Circo Spacial, contou que está há 20 anos na lona. Antes de realizar trapalhadas no picadeiro, o ator era o bancário Gilmar, homem de pouco riso e muitas metas a cumprir.
Gilmar conta um pouco de sua história e mostra alguns de seus números no programa “Gente de Circo”, apresentado no jornal da Record em 28/05. A emissora exibe programação especial sobre o circo até sexta-feira, 01/06. Em 29/05, a série foi dedicada também aos palhaços.
Na próxima semana, o Panis & Circus trará edição da série “Gente de Circo”, compartilhando com o jornal da Record.
Panis & Circus visita Spacial
O time do site distribuiu flyers para divulgar a presença do Panis & Circus na web, há um mês e meio.
Fotos Asa Campos e Divulgação Circo Spacial
Tags: academia, animais, Antônio, brasileira, chimbica, circo, circos itinerantes, circus, deputado, Franco, gilmar, Houaiss, Itamar, Lei, Marlene, palhaço, panis, Patatá, Patati, patrocínio, pingolé, Querubim, rouanet, Spacial, tiririca, união
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