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Arte em Movimento

Erica Stoppel, a trapezista do Circo Zanni

Erica Stoppel, em entrevista ao site Panis & Circus/ Foto Asa Campos

 

Erica Stoppel experimenta equilíbrio com pratos no novo espetáculo do Zanni

A artista Erica Stoppel é argentina, mora no Brasil faz 20 anos e realiza números de trapézio e lira nos espetáculos do Circo Zanni, que ocorrem uma vez por ano, no mês de outubro.

Em 2012, o novo espetáculo da trupe do Zanni estreia no dia 11/10, na lona armada no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo. Tem patrocínio da Petrobras e apoio da empresa Ticket, que compra a bilheteria de alguns dias do espetáculo.

Erica é uma dos noves integrantes do Zanni, que existe desde 2003 e nasceu do grupo de artistas que participavam da Central do Circo, onde treinavam e realizavam criações coletivas.

Erica disse que vai apresentar um novo número, de equilíbrio com pratos. O espetáculo será apresentado pelos nove artistas associados – Erica, Luciana Menin, Maíra Campos, Bel Mucci, Fernando Sampaio, Marcelo Lujan, Pablo Nordio, Daniel Pedro e Domingos Montagner. Estão previstos atores convidados.

O picadeiro mostra os números tradicionais, revistos pelo olhar contemporâneo. A lona de 24 metros quadrados do picadeiro abriga 400 pessoas. A trupe mostra números aéreos, de força e equilíbrio, o humor do palhaço e muita música. São esquetes cômicas, números musicais, de trapézio, lira, tecido, arame, corda marinha e malabares.

“A gente tem a sorte de ter o nosso circo e tenta fazer outro estilo de circo tradicional, mas clássico. O Zanni é uma releitura do circo clássico”, diz Marcelo Lujan.

Nesta entrevista, a trapezista Erica Stoppel fala de sua arte e de sua atividade como professora. Conta também como foi sua formação e diz que faz parte de uma família de palhaços. Ela é casada com o ator e palhaço Fernando Sampaio (da cia. La Mínima) e ambos são os pais de Tomaz, de nove anos, que é aprendiz de palhaço e já se apresenta no picadeiro.

 

Novo número de Erica Stoppel no espetáculo

Panis & Circus – O que apresentará no novo espetáculo do Circo Zanni, que estreia em 11 de outubro de 2012?

Erica Stoppel – Vou fazer a técnica de equilíbrio com pratos, que é nova para mim. Não sei o que dizer sobre mudanças estéticas. Nós artistas fazemos, e os teóricos pensam e falam sobre o que fazemos. Depois da estreia, talvez eu tenha alguma impressão sobre o que apresentarei.

Circus – Como começou no Circo Zanni?

Erica – A história do Zanni começou na Central do Circo.

Circus – Você começou junto com seu marido, o Fernando Sampaio?

Erica – Todos nós começamos juntos, o Zanni começa na Central do Circo, que era uma associação [de artistas].

[Para saber mais sobre a história do Zanni, siga os links:

http://www.panisecircus.com.br/domingos-montagner-traca-linha-do-tempo-no-panis-circus/

http://www.panisecircus.com.br/artistas-do-amarillo-participam-da-criacao-do-zanni-que-muda-a-cara-do-circo/

http://www.panisecircus.com.br/bailarina-no-arame-fio-tenso-entre-circo-tradicional-e-nova-linguagem-2/]

Conheça também o trabalho de Luciana Menin e Bell Mucci nos links:

http://www.panisecircus.com.br/jucazecaju-estripulias-aereas-de-tres-amigos-jacares/

http://www.panisecircus.com.br/trixmix-cabaret-com-toques-de-soleil/

 

Erica ministra curso de trapézio fixo em Campo Mourão (PR), em maio de 2012/ Foto Divulgação

 

Artista e professora

Circus – Onde você ministra cursos?

Erica – Em agosto, fui, por exemplo, a Belo Horizonte (MG) dar um curso de trapézio fixo, a partir de um material didático que criei em 2010, com apoio da Funarte Carequinha Módulo Pesquisa. O formato é digital e está disponível no site do Circonteúdo.  Dei esse mesmo curso em Brasília.
No momento não estou dando aulas em São Paulo. Estou focada na estreia do Circo Zanni, em 11 de outubro.
No espaço Fábrica de Cultura, terminei o curso em julho. Desde Janeiro eu fazia um trabalho de orientação aos professores de circo.

Circus – Como é seu material didático?

Erica – Tenho meu material didático em DVD, mas ele é técnico, dirigido aos artistas circenses que realizam números aéreos e acrobacias. Tenho algumas reflexões sobre a técnica e a arte. Algumas dessas reflexões aparecem no site Circonteúdo [da equipe de Erminia Silva]. No meu TCC de graduação em Buenos Aires, escrevi alguma coisa mais teórica [que usa nas aulas].

 

Erica em número musical de acordeão / Foto Paulo Barbuto

 

Arte aérea e musical traduzida em palavras

Circus – Como explica sua arte, se for possível traduzi-la em palavras?

Erica – o circo é aquele espetáculo polivalente e multifacetado, que reúne várias linguagens. É um pouco parecido com o teatro, mas a narrativa é diretamente relacionada com o aqui e agora. O circo mostra um espetáculo de emoções instantâneas, no qual o que o artista vive é, na mesma hora, transmitido para o espectador, então, ele se engrandece com o instante do riso, do risco, da emoção.

Circus – Quais números você apresenta?

Erica – Normalmente, os aéreos. Até os 27 anos fiz muita acrobacia de solo e um pouco de acrobacia em conjunto. Trabalhei também com malabares, mas hoje me considero uma “aerealista” e pesquisadora de vários aparelhos.

Faço corda indiana, lira, duo na lira. Tenho um solo de lira que é uma gota. Agora faço trapézio e balanço. Estamos montando um trio de trapézio fixo. Toco acordeão e teclado na banda.

Circus – Como constrói os números?

Erica – No momento, questiono isso. Como é ensinar a criação no circo? Ela pode beber nas formas da composição musical, no movimento da dança, na construção de um roteiro teatral.

Do meu ponto de vista de “aerealista”, compro a ideia de um aparelho que faz um tipo de movimento. Então, digo que trabalho com um aparelho que gira, trabalho sobre giros e aí faço um número com a lira ou monto um número em dupla.

Desse modo, monto um “doble” balanço, a partir do que o movimento sugere. O tipo de movimento dá a descrição de uma espécie de disciplina. Às vezes a gente mistura um pouco. Um trapézio pode girar, mas, quando você diz: “Estou montando um trapézio em balanço”, é a partir de uma disciplina que vem a criação.

Parto das possibilidades de movimento que o aparelho dá. Se eu tenho uma ideia para um número, por exemplo, um quarteto aéreo para o circo feminino, ele acontece a partir do movimento que as cordas dão.

Se eu quero fazer um número de giros fora do eixo, penso em realizá-lo com argolas, com trapézio, com lira. Inventei uma espécie de corda, e a gente pesquisa a dinâmica do movimento.

 

Erica no tecido/ Foto Asa Campos

Circo é risco

Circus – Com quais linguagens o circo se comunica?

Erica – Um pouco como o teatro, o circo agrega o trabalho do domínio corporal, das destrezas acrobáticas, tem a presença da música, e, às vezes, algum tipo de narrativa mais linear.

A presença da música e da interpretação ao mesmo tempo compõe o gesto circense. Ele engloba o desafio do artista e a conjunção disso dentro de uma estética, por isso, é multifacetado, tem muitos lados. A música, a cor, o cenário, a coreografia – o movimento corporal. O aspecto coreográfico e o drama estão presentes no mesmo momento nesse ato.

Há um livro interessante, do Emmanuel Wallon, que explica que o risco no circo pode estar manifesto na dissipação da queda. Dissipar a queda pode ser o desafio do artista.

Sinteticamente, o texto diz: um acrobata se lança sobre um cabo e, num salto perigoso, arrisca sua própria vida e volta a ficar em pé no mesmo lugar onde estava antes, e, nesse ato, ele resume a poesia de uma artista circense: colocar-se em risco pela própria vontade e fazer disso o grande drama.

A dramaticidade da sua interpretação resume o que a poesia do circo esconde, mesmo que seja um risco simbólico, como a queda da bola de um malabarista, ou um risco simulado, como na desestabilização de uma cena por um palhaço.

Circus – É muito bonito isso.

Erica – É um pensamento também de Philippe Goudart, que está no mesmo livro, “O Circo no Risco da Arte”. A maneira como um artista de circo se apresenta envolve a poesia de várias linguagens que ajudam a descrever esse drama. Pense num circo tradicional. Quando ocorre o triplo salto mortal, o apresentador diz: “E agora, o salto perigoso!”. Aí bateria toca os rufos, a luz pisca ou pode baixar. O espectador olha para o trapezista que está no alto. Então, há uma exacerbação do momento, daquele grande momento que todas as linguagens ajudam a compor.

Circus – Depois entra a dramaturgia ou é só mesmo uma habilidade que vocês mostram?

Erica – Entra o caráter do número, se ele vai ser um número lírico, se vai ser cômico ou lúdico ou de entretenimento, mais ágil. No caso, eu montei um número leve.

Circus – O que vem por último, a música?

Erica – Aí se pode pensar num drama. Quando fiz um número de uma professora de trapézio, tinha um trapézio em balanço e um trapézio fixo, mas havia um fundo teatral, que era meio cômico, em que a professora de trapézio daria uma aula. Ele tinha o intuito de ser um número leve, não era cômico, mas cabiam piadas, brincadeiras, e não era um número de trapézio que pretendia ser de alto impacto, de alto risco, ele pretendia ser um número leve, então, brincava, eu fazia de conta que ia cair.

Você perguntou o que vem por último. Às vezes a gente cria a partir de uma música. Quando a música vira texto e ela tem o conteúdo do dizer, a gente pode pensar num número lírico, em que a música é o que diz, mas, normalmente, quando as composições dentro do circo são armadas por partes, então, tenho um roteiro para criação de números, há um momento de apresentação, uma introdução, tem o desenvolvimento, o momento de grande êxtase, o ponto alto, e o desenvolvimento final. Às vezes há um contraclima e a gente cria ou monta a música para isso.

É uma fórmula, do mesmo jeito que você tem uma fórmula para a sinfonia, para a sonata. Ela varia e você pode variar dentro disso, mas você trabalha em cima de uma forma com criatividade.

 

Da escola de teatro para o circo

Circus – Como começou no circo?

Erica – No circo cheguei depois de grande, eu me interessei pelo circo na Escola de Arte Dramática, quando estudava na Argentina e fazia faculdade de teatro. Eu tinha 18 anos.

Circus – Já se interessava por arte?

Erica – Comecei aos dois anos na minha casa, minha mãe era professora de expressão corporal, tinha um estúdio, e eu sempre fiz aula de expressão corporal e de dança. Eu dizia desde os oito anos que queria ser atriz. Quando terminei o colegial, fui fazer faculdade de teatro e comecei a trabalhar com teatro na Argentina.

Fiz um workshop de acrobacia com um professor, tive uma experiência divertida. Naquele momento foi traumática. O professor me mandou embora na primeira aula. Ele falou que eu não estava disposta a aprender, que eu achava que já sabia tudo sobre meu corpo. Eu voltei e disse que estava disposta, sim, que gostei, queria aprender a fazer aquilo, então, ele me mandou embora de novo e disse que eu não estava aberta: “O que você conhece do seu corpo?”. Aí a reflexão foi mais profunda.

Daí, eu voltei e virei uma discípula dele. Eu tinha resistência ao aprendizado de uma coisa que era diferente do que eu imaginava, meu corpo tinha de se transformar e minha cabeça também para poder aprender, era um mundo de ponta-cabeça.

 

Circo Nacional de Cuba/ Foto Rádio Baracoa

Escola de circo em Cuba

Circus – E depois?

Erica – Foi tão forte o trabalho com esse professor, que foi meu grande mestre de acrobacia, que resolvi virar circense e fui buscar uma escola de circo. Pedi uma bolsa e fui estudar na escola de circo de Cuba por um ano. Era uma escola superior. Depois continuei minha formação.

Circus – Os professores de Cuba eram soviéticos?

Erica – Havia muitos cubanos e soviéticos de famílias tradicionais. Era um momento em que a União Soviética dava apoio a Cuba.  Há muitos circos tradicionais lá e também tinha professor de educação física formado para dar aula na escola, era uma mistura.

Na Argentina não havia escola de circo naquele momento, não tinha nem curso livre. Era uma época em que, no Brasil, o Circo Escola Picadeiro começava suas atividades. Já tinha existido a Escola Picolino, que não cheguei a conhecer, mas funcionava no Pacaembu. Quando saí de Cuba, vim para o Brasil porque minha irmã estava morando aqui. Conheci o Circo Escola Picadeiro e continuei minha formação aqui.

 

Primeira experiência com o público

Circus – Como foi a primeira apresentação no circo? Encarar o público?

Erica – Antes de me apresentar com linguagens de circo, eu me apresentei numa boate e, quando subi na lira que eu tinha, gigante, por uma corda, e vi todo mundo lá de cima, não senti medo nenhum, lembro que olhei para todo mundo lá embaixo e vi que era aquilo que eu queria fazer.

Foi minha primeira apresentação circense na Argentina. Depois disso me apresentei no Brasil num circo pequeno, de lona. Era um projeto da Secretaria de Educação, que tinha circos escolas na periferia e os [integrantes do grupo] Fratelli foram fazer um show e eu fiz um número de tango na perna de pau com Felipe Matsumoto, do Fratelli, e um número de corda indiana.

Circus – Foi tranquilo?

Erica – Não foi tão tranquilo. Gostei da apresentação, mas o espaço era pequeno para fazer acrobacia na perna de pau e eu não tinha muita confiança ainda nos meus colegas, eu estava chegando de convidada e era um grupo de oito homens. Eu não estava tão à vontade.

Circus – Sua relação com o público sempre foi tranquila?

Erica – Ah, isso eu já trazia comigo, era tranquila a relação com o público, porque eu me apresentava desde pequena. Eu já tinha feito espetáculo profissional de dança e de teatro na Argentina, tinha feito “Sonho de uma Noite de Verão”, tinha feito coreografias, televisão.

Circus – O que gosta de ver como espectadora no circo?

Erica – Gostei de ver em 2011 um espetáculo de um grupo de aramistas franceses, Les Colporteurs, que quebrou minha cabeça. Eram dez arames estendidos, montados no picadeiro, de tudo quanto era altura e jeito. Havia sete integrantes. Criou-se outra realidade, em que caminhar sobre o cabo era a base, então, era do cabo para a vida. Foi de poesia, porque o espetáculo era altamente simbólico.

 

Circus – Qual número no circo você mais admira?

Erica – Gosto de ver os trapézios de voos, são os grand volant, provocam grandes emoções no circo. Não suporto ver a roda da morte, aquela das motos, que faz muito barulho. Gosto de ver animais no circo, sempre gostei de circo com animais, desde pequena.

Ruby Rowat, em frente à catedral St Mary, no festival de Sidney em 2010/ Foto Craig Jewell/ Flickriver

 

Volta ao mundo no trapézio

Circus – Quais são seus mestres ou pessoas que inspiram você?

Erica – Uma grande inspiradora foi a Ruby Rowat, trapezista canadense da qual fiquei amiga e muito próxima. Ela me inspirou na forma de trabalhar e me ensinou a ensaiar sozinha, sem professor.

Segui muito esse caminho porque, como ela roda o mundo sozinha, ela se vira, põe o trapézio na bicicleta, a barra de instalação, todos os mosquetões, corrente, o que for, põe tudo numa bicicleta, carrega 25 quilos de material, pega a bicicleta e sai por 17 quilômetros na neve e vai ensaiar.

Eu a conheci quando fui fazer um estágio em Montreal, ela veio várias vezes para o Brasil a convite. Ela é meio heroína.

Circus – Quais lembranças do circo você tem de quando era criança?

Erica – Vi muito o Circo de Moscou na Argentina porque era uma grande companhia e outras companhias, que iam para um estádio gigantesco que se chama Luna Parque. Meu pai me levava ao circo e o que mais lembro, e digo que a culpa é toda dele, é que eu gostava muito dos palhaços na adolescência. É engraçado porque, quando eu era pequena, tinha medo de palhaço. Hoje sou casada com um palhaço e tive dois namorados palhaços. Meu filho é palhaço.

Não é que eu tivesse medo de palhaço, agora consigo dizer, eu tinha medo da máscara branca do palhaço, porque tem a ver com o sinistro. Há livros sobre isso, depois entendi. Posteriormente comecei a gostar dos palhaços que a gente chama de clowns, que não usam máscaras, são mais atores.

 

 

Família circense

Circus – Como é para seu filho ter pais que são artistas de circo?

Erica – Meu filho e minha sobrinha, que é minha afilhada, são meus grandes parceiros dentro do circo. Tenho a segunda geração na família que é circense e isso faz com que eu me sinta muito chique. Meu filho, Toáas, de nove anos, está aprendendo como é a vida do picadeiro de uma maneira especial, é um pouco diferente da vida dos filhos de família tradicional circense, que viviam no circo.

Tenho certeza de que ele está próximo de uma possível formação dentro do circo. A gente oferece a ele a experiência do picadeiro. Tomas sempre se apresentou no Zanni e ele gosta muito, ele segue os gostos do pai. Ele se apresenta como palhaço, mas a gente oferece a ele uma formação corporal. Não gostou da ginástica, mas faz kung fu, esportes, música, teatro, é de uma família que flui com a arte.

Ele vê concertos, peças de teatro, circo tradicional, circo contemporâneo, espetáculos de rua, muitos palhaços e filmes relacionados a essa arte. É o que ele mais gosta. Tomas já conviveu com muitos tipos de palhaço e ele é quase considerado da comunidade dos palhaços.

Tomás aos 7 anos e Fernando Sampaio/ Foto revista Crescer

 

Circo é híbrido porque incorpora novidades históricas

Circus – Como o circo caminha?

Erica – Está bem híbrido, junto com outras linguagens e atravessa hoje muitas áreas. Há circo nas escolas, na educação física, tem o circo social. Algumas disciplinas do circo passam a ser parte do cotidiano do jovem. As disciplinas circenses incluem circo, balé, porque as linhas acrobáticas têm novos recursos.

Há circo dentro do teatro e atores que estudam técnicas de circo para ter recursos de acrobacia cômica, recursos do palhaço, e o próprio circo quer incorporar todas as outras linguagens, chama um patinador, um atleta do nado sincronizado, um alpinista. Há violinista que vira de ponta-cabeça.

O circo é uma arte malandra porque sempre se aproveitou, em todas as épocas da história, das novidades. No momento em que o rádio era o grande transmissor de cultura, o circo trouxe os cantores de rádio para dentro do circo. Quando o drama e as comédias eram o atrativo para as famílias, o circo levou o teatro para a lona, e é assim até agora. A dança contemporânea está no circo. Diz aquele livro maravilhoso que restam ao circo a lona para legitimar sua autenticidade e a presença do risco.

Circus – O que mudou no circo desde que você começou até hoje?

Erica – O circo se sofisticou. Hoje, para você trabalhar no picadeiro, precisa de mais nível técnico porque a tecnologia no circo avançou, assim como as técnicas evoluíram. Há máquinas para fazer os artistas voarem. O Cirque du Soleil pesquisa isso, tem muito dinheiro para essa realização.

As ciências aplicadas à arte do movimento deram possibilidades incríveis porque, quanto mais técnicas de segurança foram desenvolvidas, mais os artistas arriscaram, e, quanto mais segurança, mais risco. Também alguns professores, vindos, ou de famílias tradicionais ou da ginástica, têm formações intelectuais diversas, então, eles começaram a ter especificidades.

Na minha área, que é trapézio em balanço, há mestres de trapézio em balanço e muitos estudos. Hoje há dupla pirueta em tudo quanto é número. Na Europa alguns números de dupla pirueta não existiam. 

No circo moderno na Europa do século 18, os trapezistas trabalhavam sem rede e sem corda de segurança, então, não podiam fazer piruetas, porque cairiam. Há um nível de risco aceitável dentro do que o artista pode fazer sem cair. Aconteciam acidentes, mas não podiam ocorrer, por exemplo, três acidentes entre dez acertos.

Circus – Como vê o chamado circo novo?

Erica – Hoje há um leque gigante de coisas que chamamos de circo e elas têm características diferentes. Há espetáculos que utilizam as modalidades circenses de diversas maneiras. Existem espetáculos na lona de circo que são performances teatrais de vanguarda.

Alguns espetáculos se aproximam da linguagem da dança, embora os artistas sejam preparados pelo circo, tenham corpos acrobáticos e modalidades, ou disciplinas, específicas de circo, como trapézio ou um número com malabares, manipulação de objeto com equilíbrio. Mas a linguagem é norteada por outro tipo de composição.

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