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Bells & Spells: família Chaplin em cena
Ivy Fernandes, de Roma
A 61.ª edição do Festival Spoleto, realizado na cidadezinha de mesmo nome, próxima de Roma, na região da Úmbria, contou neste ano com uma apresentação especial que divertiu e encantou o público italiano: a companhia de Victória Thierrée Chaplin. Também conhecido como Festival de 2 Mundos, a mostra reúne o que de melhor se produz nas artes nas Américas e na Europa.
Da música sinfônica ao balé, passando pelo teatro e as artes circenses, o festival conquistou um lugar de destaque entre os principais eventos artísticos do continente europeu.
O espetáculo Bells and Spells (Sinos e fantasias) é sobre a relação de uma cleptomaníaca com os objetos do desejo. Escrito por Victória Thierrée Chaplin para a filha Aurélia Thierrée apresentado durante o festival, em julho, reúne vários elementos do circo contemporâneo. “Pensei nas pessoas que têm esse impulso de se apropriar de objetos. Especialistas em fazê-los desaparecer. Verdadeiros mágicos que nem se apercebem que se apropriam de objetos que não lhes servem, que não apreciam”, conta Victória.
O espetáculo é uma pantomina moderna que se utiliza de ilusões ópticas, truques, magia, jogos de luzes e cores. Os diálogos são escassos. Os objetos ganham vida diante da protagonista cleptomaníaca, Aurélia.
Segundo Victória, no espetáculo, os objetos ganham protagonismo, têm vida. Não são controlados pelo personagem central. “A minha protagonista não quer roubar objetos. São eles que lhe atraem e a transportam para outros cenários”, explica. “Aurélia é uma ladra involuntária”, afirma.
Graça e leveza
Na montagem apresentada ao público, a protagonista Aurélia fica no palco durante quase todo o espetáculo. Ela canta e dança com graça e leveza. Atores, cenários e roupas estão em movimento contínuo. Objetos voam, se movem, abraçam, assustam, interrogam e respondem à protagonista em diálogos absurdos. As cenas circenses surpreendem e divertem a plateia.
Um mordomo, interpretado por Jaime Martinez, roda o palco usando como chapéu uma pequena cadeira. Ele é acompanhado por uma mulher sem cabeça e um cachorro com uma cabeça humana. Não há um senso determinado, mas uma série de coisas estranhas.
Segundo Victória, o conjunto é o que arrebata o público, pois nada é como parece ser. “No fim do espetáculo a plateia ‘acorda’ como no final de um sonho, quando não se sabe bem o que aconteceu, mas se sabe que foi maravilhoso.”
Le Cirque Invisible e A Rã tinha Razão
O espetáculo lembra apresentação do Cirque Invisible anos atrás no Auditorium, em Roma, quando Victória subiu ao palco com o marido e diretor Jean-Baptiste Thierrée. “Esta também é uma peça complicada, em que a personagem é fascinada pelos objetos que são fascinados por ela.” A família está ligada ao circo contemporâneo. James Thierrée, filho de Victoria e Jean-Baptiste, e irmão de Aurelia, estreou o ano passado Le Grenouille Avait Raison (A Rã Tinha Razão), espetáculo de circo contemporâneo, que foi saudado pela crítica e público.
Clique aqui para ler reportagem do Panis & Circus sobre Le Cirque Invisible.
Clique aqui para ler sobre o espetáculo A rã tinha razão de James Thierrée.
De acordo com Aurélia, a experiência do Cirque Invisible está muito presente no atual espetáculo. “A peça exige muita energia e uma ótima forma física. Tenho de captar todos os movimentos dos meus músculos para contracenar com os objetos que correm, vibram, sobem, descem, se iluminam e se apagam. Um verdadeiro tour de force.”
Durante conversa com jornalistas em Spoleto, Victória disse que é realmente difícil dirigir a própria filha. “Trabalhamos juntas há vários anos e temos uma capacidade de compreensão imediata. Quase um milagre. Mesmo quando há divergência, tudo se resolve.”
A grande família
Victória Chaplin é filha do casal Charles Chaplin e Oona O’Neill – que é filha do dramaturgo e Prêmio Nobel Eugene O’Neill. OOna foi a quarta mulher de Chaplin. Se conheceram durante uma gravação. Ele estava com 55 anos e ela com 18 quando se casaram. Tiveram 8 filhos, que se dedicam ao cinema, circo contemporâneo e teatro.
Nos anos 50, o casal deixou os Estados Unidos e foi viver em Corsier-sur-Vevey, na Suíça. Dessa fase de sua infânica, Victória relembra de participar com os pais de montagem de pequenos espetáculos que eram apresentados na casa da família para os irmãos mais novos.
Victória se dedicou integralmente à vida artística. Casou com o diretor e ator Jean-Baptiste Thierrée, com quem teve dois filhos, James e Aurélia, que são atores e voltados ao circo contemporâneo. Victória e Thierrée criam a sua própria companhia e se apresentam em vários países.
Sobre o avô, as lembranças são poucas, diz Aurélia. “Quando nasci, ele já estava em idade avançada e pouco me lembro. Mas é uma grande responsabilidade e um grande orgulho fazer parte da família Chaplin.”
Legenda Foto de Capa – Cena de Bells & Spells no Festival Spoleto na Itália