Arte em Movimento
Festival de Demain completa 40 anos
Ivy Fernandes, de Roma
O Festival Internacional do Cirque de Demain completou 40 anos com a apresentação, em Paris, de jovens artistas provenientes de 25 países. O júri do evento, presidido pela atriz e escritora Anny Duperay, distribuiu vários prêmios, entre eles duas medalhas de ouro, duas de prata e quatro de bronze. Dois brasileiros foram agraciados. Diego Salles, pela performance Gênesis, número de tecido e Caio Sorana, da companhia Sorelino, com o número cômico Excentrique.
Foi um aniversário inesquecível. O festival de Demain foi realizado sob a lona do Cirque Phénix, a maior da Europa com capacidade para receber 4 mil pessoas.
O Demain é um espaço privilegiado para jovens na faixa de 16 a 24 anos mostrarem seus talentos. O sucesso da iniciativa reside na constante renovação, ampliação e mistura artistas de diferentes procedências. Mais de 350 circenses, de países como Rússia, BieloRussia, Suécia, Finlândia, França, China, Japão, Etiópia, Vietnã, Turquia, Coréia, Mongólia, se inscreveram para participar do evento deste ano, realizado de 31 de janeiro a 3 de fevereiro. Desses, foram selecionados pouco mais de 20, que apresentaram 22 performances.
O público pode ver o melhor do circo contemporâneo nas apresentações de acrobatas, trapezistas, clowns, malabaristas, contorcionistas e ginastas, entre outros.
Premiações
O prêmio principal, o Grand Prix, foi entregue ao grupo Scandinaviam Board. Formada por jovens da Suécia, Finlândia e Holanda, a companhia apresentou um número espetacular de báscula. Utilizando três básculas simultaneamente, os atletas pulavam e chegavam a atingir a altura de 8 metros.
As medalhas de ouro foram para o bailarino e trapezista francês Arthur-Van Hyfte, formado na Escola Nacional do Circo de Montreal. Ele apresentou um número de dança no ar que conquistou o público pela poesia e grande habilidade técnica
A outra medalha foi para a Troupe Acrobática Dalian, da China, com o sincronismo perfeito entre técnica e gestos poéticos.
As medalhas de prata foram para os russos Alexey Ishmaev & Pavel Meyer, com faixas aéreas, e para o excelente funâmbulo vietnamita Laurence Tremblay-Vu.
As medalhas de bronze foram para os dois brasileiros e para a japonesa Mizuki Shinagawa, que usou um tecido aéreo como parede, e a Troupe Efimov, formada por acrobatas russos e da Bielo-Rússia.
O casal de acrobatas, Guillaume Paquin e Nicole Faubert também conquistaram o público.
São tantas emoções
O presidente do festival, Alain Pacherie, que também é diretor-geral do Circo Phénix, destacou a importância do evento para a arte circense. “Me emociono ao saber que alguns desses artistas podem iniciar uma carreira brilhante, dar uma reviravolta na vida a partir da apresentação no Demain.”
O diretor-artístico, Pascal Jacob, lembra que o festival nasceu pequeno, com artistas jovens, de áreas próximas de Paris. “Fomos crescendo, procurando atravessar as fronteiras. Os países do Leste Europeu, em 1979, ainda estavam sob o domínio da União Soviética e suas excelentes escolas geravam novos artistas. Com a queda da Cortina de Ferro, em 1989, esses jovens saíram da ex-União Soviética à procura de novos horizontes. A abertura da China também contribuiu para enriquecer o festival. Outro fator determinante foram as escolas de circo do ocidente como Chalons, Bruxelas e Montreal”, afirmou.
Artistas brasileiros emocionam público em Paris
Dois brasileiros brilharam neste ano em Paris. Diego Salles e Caio Sorana ganharam o Palmares de Bronze durante o Festival Interacional de Cirque de Demain.
Caio Sorana viveu entre a Europa e o Brasil. Começou a freqüentar o ambiente circense como malabarista aos 15 anos. Mais tarde foi para a França, onde cursou a Academia Fratellini. Ali conheceu Clement Malin, francês, especialista em evoluções acrobáticas. Em 2015, os dois recém-formados, formaram a companhia Sorelino. Em três anos, realizaram mais de 200 espetáculos em 16 países. A dupla representou a França no festival e foi muita aplaudida com o número cômico, muito original, Excentrique.
Diego Salles apresentou um número aéreo original. Ele estudou na Escola Nacional de Circo e representou o Brasil com a performance Gênesis, que lhe valeu a Palmares de Bronze e o Prêmio da Vila de Paris.
“Foi uma experiência fantástica. Conseguir entrar na severíssima seleção já foi para mim uma vitória, depois de tantos anos de estudo e sacrifícios para aperfeiçoar a arte do tecido”, disse Salles, paulista de Sorocaba que fez 23 anos no dia 31, data da abertura do festival.
Sobre Gênesis, que lhe valeu as duas premiações, Salles disse: “A apresentação foi projetada para promover a questão; masculino/feminino. A procura da identidade para os que não se sentem fechados nestes dois grupos. Tema de grande atualidade, às vezes cômico, outras trágico, que leva o público a examinar e compreender melhor a comunidade LGBT.”