Pé na Estrada
França inaugura 1ª exposição de trajes circenses
Em desfile, o belo figurino do circo
Ivy Fernandes, de Roma
“En Piste” é a primeira exposição no mundo a exibir mais de 120 figurinos circenses do século 18 até os dias de hoje. Inaugurada em 15 de junho, em Moulins (cerca de 267 quilômetros de Paris), na França, a mostra permanece em cartaz até 5 de janeiro de 2014.
Na exposição, é possível acompanhar a vida no circo nos últimos 200 anos ao observar os curiosos figurinos e adereços como perucas, chapéus, entre outras peças, e até mesmo por potes de maquiagem produzidos para os artistas.
“En Piste” pode ser descrita como uma chuva de cores e lantejoulas que cobriu famosos clowns, acrobatas, trapezistas, domadores e funâmbulos (equilibristas em aparelho de arame armado no alto).
O Centro Nacional dos Costumes em Cena (CNCS) reuniu mais de 120 trajes de circo, acompanhados de seus acessórios. A mostra convida o público a realizar uma viagem visual e sonora pela indumentária do circo tradicional até o circo contemporâneo.
Famílias circenses tradicionais na mostra
Afora os belos figurinos, fazem parte da exposição fotografias, cartazes de propagandas antigas, maquetes, cenários, jogos, produtos de maquilagem, documentos, tecidos e peças audiovisuais.
Alguns figurinos pertencem a famílias circenses de várias partes do mundo, que foram à França para participar do evento: até agora nunca havia sido montada uma exposição do gênero. Estão presentes na mostra as companhias circenses Fratellini, Bouglione, Cirque Plume, Cirque du Soleil, Cirque Phénix, Franco Dragone Entertainment Group, Barnum & Bailey Greatest Show on Earth, entre outras, que conservaram durante anos o material que usavam em cena.
Participam também da mostra as coleções do setor de Artes e Espetáculos da Biblioteca Nacional da França, colecionadores privados, figurinistas e artesões de várias partes do mundo.
Bastidores
A exposição destaca os bastidores do espetáculo, a criação e confecção dos trajes, perucas, máscaras e sapatos, que ressaltam o valor e o talento de artesãos e estilistas. A maquiagem, principalmente a que caracteriza os palhaços, traz até mesmo a marca da fábrica.
Durante a exposição, um ator se apresenta em cena aberta e mostra sua transformação em personagem, pronto para provocar emoções e risadas. Por meio dessa encenação, é apresentada a evolução dos trajes característicos de diversas funções dos artistas, como domador, acrobata e palhaço.
Biblioteca de artes
A Biblioteca Nacional da França (BNF) tem a função de colecionar, conservar, arquivar e tornar acessível ao público em geral e aos estudiosos o acervo dos espetáculos no país. São manuscritos, maquetes, figurinos, objetos de cena, fotografias, audiovisuais, desenhos, programas, críticas de jornais, revistas, livros e outros documentos. Conserva ainda arquivos de diretores teatrais, comediantes, decoradores e estilistas. Tem também antigas maquetes de cenários e ampla documentação sobre festivais.
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Do simples ao excêntrico
Os trajes que aparecem na mostra vão da simplicidade do Cirque de Plume aos excêntricos de Bouglione ou Soleil. Passam pelo traje dourado do palhaço Weber e pelo baú mágico do clown Punch. Entre os estilistas atrás do picadeiro, destacam-se Marie-Paule B. e Phillipe Goudard, que criaram modelos para a dupla de palhaços Motusse e Paillasse. A Maison Vicaire especializou-se em criar trajes inspirados na natureza, com plantas, flores, pássaros e dragões. As indumentárias de Popy Moreni, do Cirque Madona Bouglione, chamam a atenção.
Os figurinos dos personagens poéticos do Cirque Plume e os trajes barrocos da companhia La Tribu Lota marcam a história da roupagem do circo. Na esteira seguem os trajes do clown Punch e do Circo Alexis Gruss.
Merece especial atenção o universo criado pelos estilistas do Cirque du Soleil. O grilo verde, que está na capa dessa edição do Panis & Circus, é um dos mais admirados da mostra.
Figurino alinhado com o espetáculo
A partir de 1968, a criação do figurino contemporâneo associa-se à estética do espetáculo. Ou seja, os circos começaram a apresentar elos entre os números e os estilistas passaram a acompanhar a pesquisa dos personagens, a trabalhar com materiais, cores e temas que compõem o quadro de uma espetáculo, tudo destinado a criar maior harmonia com o espírito do show.
Lentejoulas e strass
Charles Vicaire, da Maison Vicaire, lançou o strass, utilizado em modelos clássicos, como aqueles desenhados para o vaudeville (comédia ligeira) em 1930.
Dezessete anos depois, em 1947, seu filho Gerard Vicaire especializou-se em figurinos exclusivamente para Palhaço Branco, inspirados em motivos abstratos e naturalistas. Desenhou cerca de 400 figurinos e chegou a dedicar até 300 horas de trabalho para confeccionar um deles.
A Maison Vicaire foi fechada em 1993, mas voltou à cena em 2003 pelas mãos de Caroline Valentin, formada por Gerard Vicaire. Ela passou a utilizar o estoque de paetês do antigo ateliê e criou figurinos inspirados na elegante e elaborada confecção da Maison.
História do circo
Alguns pesquisadores consideram que a arte circense no formato conhecido hoje nasceu na Inglaterra na metade do século 18 como elegante espetáculo da arte equestre. Os ingleses, famosos internacionalmente por sua paixão pelo hipismo, iniciavam os espetáculos passeando com os cavalos por uma pista circular. E os militares passaram a ocupar lugar de destaque nas exibições porque eram hábeis na arte de domar cavalos. A primeira apresentação de uma demonstração equestre como espetáculo ocorreu, em 1768, feita pelo oficial inglês Philip Astley.
Em seu desfile, os militares eram acompanhados, muitas vezes, por graciosas bailarinas vestidas com um romântico “tutu” (saiote de tule). Depois começaram a surgir outros personagens, como o palhaço, atual protagonista do circo. O primeiro palhaço chamava-se Burt e dividia o espetáculo com um único saltimbanco.
Em 1864, com Tom Belling, apareceu pela primeira vez o melancólico Clown Blanc: o Palhaço Branco, que explora um gênero específico de humor. É conhecido como “escada” porque procurar controlar o que o palhaço Augusto apronta de confusão.
O circo se difundiu, ampliou seus limites e chegou aos Estados Unidos, à África e à China com espetáculos populares, criados a partir dos elementos que marcaram sua identidade: o picadeiro, o chapiteau (lona), a proeza, o risco e o riso.
Ao longo da história, o circo é movimento e metamorfose ambulante que cria um mundo por meio de sua arte, seus trajes vistosos, técnica, precisão e dedicação. Exige dos artistas, em suas especialidades, um trabalho duro e empenho constante.
Serviço
A exposição “En Piste! – Os Mais Belos Figurinos do Circo” fica em cartaz até 5 de janeiro de 2014. Local: Moulins, França, no bairro de Villars, na estrada Montilly. De segunda a segunda – das 10h às 18h
Foto da capa – O grilo do Cirque du Soleil – O surrealista traje cor de rã, com o corpo revestido por collants e desenhos pintados, com bordados de lantejoulas, é uma das indumentárias mais admiradas da exposição. Foi criada por Liz Vandal especialmente para o Cirque du Soleil em 2009.
Postagem: Alyne Albuquerque
Tags: Centro Nacional dos Costumes em Cena, En Piste, Moulins