Arte em Movimento
Humor à la carte com os palhaços mudos
A serviço do humor, La Mínima apresentou “À La Carte” e “A Noite dos Palhaços” no Festival do Sesc
Mônica Rodrigues Costa *
Em “À La Carte”, os personagens da dupla de palhaços Domingos Montagner e Fernando Sampaio vivem em uma casa, um quarto/sala, com o mínimo de recursos em uma periferia perdida no espaço e no tempo. O local tem duas camas, um fogão, um rádio. Uma cortina que separa a sala do banheiro é o centro do espetáculo.
Os dois atores representam dois mendigos bem engraçados, o que contrasta com a pobreza e fome em que vivem. Eles têm fome e dividem o que encontram entre muitas trapalhadas.
O site da cia. La Mínima explica o espetáculo: “Por vezes percebe-se a existência de vida fora daquele ambiente devido a algumas interferências sonoras. E algo os une como a verdadeiros irmãos: a fome, quer seja ela de alimento, ou mesmo de dignidade, de poder. Neste terreno impreciso, onde da mesma fonte brotam o alimento e a arma letal, a fantasia se mostra tão fundamental quanto o trigo na composição de um prato que possa saciar a fome, tanto das formigas quanto das cigarras. Até que seja novamente despertada”.
O espetáculo começa com a noite maldormida dos dois mendigos. Eles acordam ao som de um trem que chacoalha a casa. É a hora de ver o que tem para o café da manhã: não há nada. Eles se unem então na busca por alimento.
Sem falas, uma das trapalhadas em cena mostra o mendigo interpretado por Fernando Sampaio entrando em um forno em busca de comida. Quando sai do forno ele está transformado em uma galinha branca, charmosa, que carrega uma bolsa. Ao ver a galinha branca, o outro mendigo, interpretado por Domingos Montagner, pensa em atraí-la para a mesa.
A galinha escapa do garfo e da faca do mendigo e, na confusão, bota um ovo. Some a galinha e resta o ovo, que pode aplacar a fome dos dois mendigos. Esse ovo, por sua vez, se transforma em uma bola. Os dois mendigos colocam bonés e iniciam uma partida.
Em outra trapalhada, acaba a energia elétrica e uma explosão queima a lâmpada. A troca da lâmpada cria situações inusitadas e o mendigo interpretado por Fernando Sampaio acaba por cair do alto de uma escada, estatelado no chão. O outro mendigo, Domingos Montagner, chora e aproxima-se do amigo. Ao constatar que a escada não sofreu nada, deixa seu companheiro largado no assoalho.
Em dado momento, os dois mendigos dançam ao som de “La Vie em Rose”, depois acertam os passos de um tango e mais tarde embarcam no ritmo de “Thriller”. Uma gag engraçada se soma a outra e mais outra, sem parar. Risadas à solta na plateia.
Na luta pela sobrevivência, eles envelhecem e se veem de cabelos brancos. Deitam nas mesmas camas, com a mesma precariedade, mas o som do trem não mais os acorda.
Resta um riso amargo.
A montagem tem direção do italiano Leris Colombaioni e roteiro de Paulo Rogério Lopes. Carla Candiotto assina a direção de ator.
Em 2013, a La Mínima comemorou 15 anos de existência e o lançamento do livro dos integrantes da companhia, a dupla Fernando e Domingos. “La Mínima em Cena” traz o registro de seu trabalho de 1997 a 2012. Os dois são também associados do Circo Zanni, com mais sete artistas, entre eles, Maíra Campos, Marcelo Lujan e Pablo Nordio.
“A Noite dos Palhaços Mudos”
Trata-se de uma parceria do grupo La Mínima com o cartunista Laerte. Nascido numa HQ, o espetáculo “A Noite dos Palhaços Mudos” (2008) também faz alusão ao filme “O Palhaço”, do diretor italiano Fellini e conta a história de dois palhaços que não falam e se comunicam por mímicas.
Criaturas de uma seita malévola os persegue e, na captura, arrancam o nariz de um deles. Com a montagem, Domingos Montagner e Fernando Sampaio ganharam o Prêmio Shell de Melhor Ator. A direção é de Alvaro Assad, que assina a preparação mímica e, com o La Mínima, o roteiro e a adaptação. Na apresentação do Sesc Ipiranga, Domingos foi substituído por Marcelo Castro porque estava gravando as cenas finais da novela “Salve, Jorge”, da rede Globo, em que interpreta o turco “Zyla”.
Através da mímica, dos movimentos calculados, das caras de sustos e das armadilhas que só os palhaços sabem pensar, a dupla usa truques de ilusionismo (Volkcane), que se mistura ao jogo de luz e sombra que a iluminação de Wagner Freire propõe, fazendo os palhaços aparecer e desaparecer dos espaços marcados pela cenografia como se houvesse ali um “deus ex machina”.
Clique aqui para acessar o site do Grupo La Mínima.
* colaborou Bell Bacampos
Postagem: Alyne Albuquerque
Tags: A La Carte, A Noite dos Palhaços Mudos, Alvaro Assad, carla candiotto, domingos montagner, Fernando Paz, fernando sampaio, Fractons, Laerte Coutinho, Leris Colombaioni, Marcelo Castro, Paulo Rogério Lopes
Eles sao muito talentosos e engraçados.Parabéns.Que continuem com esse sucesso por mais 15 anos bjos