Pé na Estrada
Infância em Santos é tema de “Um Sonho Real”
Espetáculo busca inspiração nos tempos de criança
Fernanda Araujo, especial para Panis & Circus
Há quase 20 anos, Gustavo Lobo, jovem de Santos, chamou atenção ao conquistar o ouro em Moscou. Recentemente, trocou a vida na trupe canadense Cirque du Soleil para voltar à cidade natal, para surfar, jogar futebol na praia e fundar a Companhia Rudá. No trabalho de estreia do grupo, “Um Sonho Real”, o artista utiliza recursos de megaprodução do circo contemporâneo para exaltar a alegria da infância em uma pequena cidade.
“Um Sonho Real” transporta um bairro de Santos para dentro do teatro, com um pouco das delícias da infância antiga, como pião, pipa, elástico, pega-pega, pé na bola e amarelinha. Um contraste das brincadeiras de antes com as brincadeiras de hoje. No palco, oito personagens relembram os tempos de criança e traduzem a alegria nostálgica em números de circo, como “Roda Cyr” e “Trampoline Wall”.
O espetáculo se apresenta em São Paulo, nos dias 3 e 4 de dezembro, às 21h, no Teatro do Shopping Frei Caneca. De São Paulo, a cia. Rudá e seu sonho seguem para Curitiba e, em 11 de dezembro, o palco será o do Teatro Ópera de Arame.
Vida de artista
Gustavo Lobo faz questão de dizer que o grupo surgiu sem pressa, maturando os pilares de circo, dança e teatro. Também levou em conta os trâmites jurídicos mais burocráticos, como as questões referentes aos direitos autorais. Para o processo de formação criaram um centro de treinamento em Santos e outro no Rio de Janeiro. O artista se inspirou na família materna para dar o nome de companhia Rudá à trupe. A mãe, Yarian, tem nome de origem Tupi-guarani, assim como todos os tios. “Queria um nome bem nacional. Então pensei em Rudá, deus do amor na mitologia Tupi-guarani, que vive nas nuvens e desperta o amor no coração dos homens”, afirma.
Gustavo demonstrou cedo sua vocação para a arte. Aos seis anos de idade, caiu do muro no qual escalava, fez um corte profundo no freio da boca e estourou o queixo. “Me lembro que não podia tomar anestesia, então me amarraram para dar pontos. Nunca tive medo, mas desde bebê eu dava muito susto na minha mãe”, lembra o filho de um bombeiro com uma dona de casa que vendia salgadinhos para ajudar no sustento da casa. Os pais entenderam, então, que era hora de tomar uma providência: matricularam o garoto no Brasil Futebol Clube, em Santos.
No clube vieram os treinos, as competições e as primeiras conquistas. Em 1998, nos Jogos Mundiais da Juventude, em Moscou, Gustavo foi um dos destaques da delegação brasileira formada por 156 atletas. Na capital russa, o jovem de 17 anos levou o ouro na categoria salto sobre cavalo. O feito foi tão relevante para a ginástica artística nacional que o então presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, convidou os premiados a receberem mais uma medalha, agora de honra, na capital federal. Era o princípio das viagens em equipe, ao lado de nomes como Daniele Hypólito e Daiane dos Santos.
Treinamento intensivo no Soleil
Em 2001, quando já era ginasta do Flamengo, Gustavo fez uma audição para o Cirque du Soleil, passou, mas continuou no Brasil. A decisão de mudança ocorreu um ano depois, na Hungria, quando um olheiro convidou-o para participar da “General Formation” – curso anual de formação da tradicional companhia canadense.
No Cirque du Soleil recebeu instrução polivalente intensiva. Treinou dança, voz, movimentos e números de circo. Durante um ano, a rotina era estudar ginástica artística pela manhã e acrobática à tarde. “Gostava de ‘jeu’ (jogo em francês) e clown, mas principalmente da improvisação com outros artistas, uma mistura de experimentos em que testávamos as emoções, tanto entre nós quanto na arte de provocar o público”, conta Gustavo. No Soleil, entre 2002 e 2013, integrou o elenco de espetáculos como “Corteo” e “La Nouba”. Foi convidado por Daniele Finzi Pasca (criador de “Corteo” e “La Verità”) a participar de uma nova criação, o “Nebbia”, de sua companhia suíça, Teatro Sunil, em co-produção com o Cirque Eloize, do Canadá. Depois de dois anos e meio viajando o mundo com o espetáculo, voltou para o Soleil, onde ficou por mais três anos no espetáculo “La Nouba”, dirigido por Franco Dragone.
Clique aqui para ler a reportagem sobre Daniele Finzi Pasca, criador de espetáculos circenses como “Corteo” e “La Verità”.
Realidade ganha asas
Em 2011, Gustavo volta para o Brasil, mas continua participando de contratos curtos no Soleil. “Ganhava grana, mas não enchia os olhos ter dinheiro, comprar barco e carro do ano. Claro que os canadenses e americanos têm uma qualidade de vida melhor mas, no meu caso, ter a grana somente não era o que eu queria. Tinha saudade de casa, dos amigos, das tardes na praia, do futebol com o pai, do futevôlei, da canoa havaiana e das brincadeiras de stand-up. Queria aproveitar as coisas simples e fazer meus projetos”. E pouco a pouco trocou o salário de 14 mil dólares pelo desafio de fundar em Santos a Companhia Rudá e dirigir e criar “Um Sonho Real”.
Desde abril desse ano, a Companhia Rudá percorreu 15 cidades (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Niterói, Salvador, Recife, Aracaju, Maceió, Campinas, Goiânia, Belém, Salto, Americana, Brasília, São José do Rio Preto e Florianópolis) e foi vista por mais de 20 mil pessoas.
Ficha Técnica: “Um Sonho Real”
Criação e Direção: Gustavo Lobo
Elenco: Erick Santos, Christa Nicole Wilson, Eder Cunha, Gustavo Lobo, Jessica Gardolin, Marcos Porto, Margaretha Nuijten, Willian Kreff e Zeca Padilha
Cenografia: Mauriomar Cid, Marcos Porto e Andre Cajaiba
Figurino: Waldir Correia
Criação de luz: Andre Cajaiba
Realização: Companhia Rudá
Promoção: TV Globo
Patrocínio: Caixa Seguradora
Serviço
Local: Teatro Shopping Frei Caneca – rua Frei Caneca, 569 – Consolação, São Paulo – SP
Datas: 3 e 4 de dezembro
Horário: quinta e sexta, às 21h
Lotação: 600 lugares
Informações: (11) 3472-2229 e (11) 3472-2230 (Atendimento somente nos horários de funcionamento da bilheteria) Vendas Online: Ingresso Rápido – https://www.ingressorapido.
Duração: 90 minutos
Classificação: Livre
Postagem – Alyne Albuquerque