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Bom Bocado

“Brunello di Montalcino”: um tinto de tirar o chapéu

 

Ivy Fernandes, de Roma

Os responsáveis pela produção do vinho tido hoje como o de maior prestígio na Itália, o tinto “Brunello di Montalcino”, virão ao Brasil no início do próximo ano. A informação é de Stefano Campatelli, diretor do consórcio Brunello de Montalcino, do qual fazem parte 250 produtores. O objetivo é promover e divulgar o vinho, importado pelos Estados Unidos e servido para os hóspedes de Barack Obama em várias cerimônias da Casa Branca.

O Brunello é exportado para outros grandes mercados (Austrália, Rússia, China e Japão), além do Brasil. Ao todo, quarenta empresas são afiliadas ao consórcio de produtores.

Seus representantes pretendem visitar várias cidades brasileiras nos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. A primeira viagem dos consorciados às terras brasileiras aconteceu há dois anos, quando o produto foi apresentado ao país. Segundo Campatelli, encontraram ótima receptividade, especialmente em São Paulo, a despeito do valor relativamente alto do vinho, devido ao seu longo processo de envelhecimento.

  Existem dois  tipos do vinho:

       Brunello di Montalcino 
           Brunello di Montalcino Gran Riserva

 

Nas adegas onde o vinho é colocado para envelhecimento após a “vendemia”, a colheita das uvas, tudo é rigorosamente controlado e vigiado. O período de espera até a maturação vai de um mínimo de dez anos até o triplo do tempo, mas não existe um limite para o envelhecimento do Brunello. Por conta do longo processo, algumas garrafas preciosas acabam em leilão, disputadas por experts e vendidas a um preço bastante elevado, dependendo do ano de produção.

 

UM TINTO CUJA ORIGEM REMONTA A 1850

A origem do Brunello remonta a 1850, quando o doutor em química e farmácia Clemente Santi selecionou as uvas “Sangiovenese Grosso” para iniciar sua produção de vinho. Ele vivia na cidade de Montalcino, em cerca de 24 mil hectares de solo fértil margeados pelos rios Ombrone, Asso e Orcia, na região da Toscana. As características geológicas da localidade estão refletidas na qualidade dos vinhos, que atualmente estão à venda com dois rótulos: Brunello di Montalcino e Brunello di Montalcino Gran Riserva.

As primeiras garrafas só foram conhecidas vinte anos depois do ínicio do processo de fabricação do vinho, em 1870, durante  uma  exposição na cidade de Siena. Eram provenientes das safras de 1863 e 1865. A partir daí, as pesquisas para o aprimoramento do produto foram intensificadas.

As safras dos anos  1888 e 1891 decretaram o sucesso do  Brunello. Naquele período, o vinho era  conhecido apenas  por alguns especialistas e foi  somente no inicio de  1900 que ele passou a  ser  engarrafado  e vendido  ao público.

Outra fase marcante para o Brunello aconteceu a partir da década de 40, quando a vinícola atravessou  um  período   de  ostracismo devido  aos problemas  enfrentados  durante  a Segunda Guerra Mundial. Ao fim do conflito, muitos jovens haviam abandonado o  trabalho nas  lavouras  para tentar a vida  nas cidades, e o Brunello voltou  a ser  um vinho  raríssimo  e  muito caro, de consumo restrito.

Seu lançamento definitivo no mercado ocorreu em 1960, na esteira da contribuição  do  Mercado Comum Europeu, o  início dos  incentivos econômicos  para a agricultura  e a entrada em vigor dos chamados produtos “DOC” (Denominação de Origem Controlada).

Seis anos depois, em 1966, foi constituído o consórcio para controlar a produção. Em seguida vieram as empresas responsáveis por expandir a produção e exportar o vinho toscano.

Em 1980, o Brunello ganhou a primeira  classificação “DOCG” (Denominação  de  Origem Controlada e Garantida), um prestigioso reconhecimento que  marcou  mais uma  etapa da popularidade internacional do produto.

Finalmente, em 2006, o Brunello di Montalcino produzido  pela  Casanova Neri, safra de 2001, foi considerado  o melhor vinho  do mundo pela Wine Spectator, revista norte-americana considerada a Bíblia dos vinhos no mundo todo.

As vinhas de Montalcino, região da Toscana (Itália) Foto/Divulgação

 

INVESTIMENTO INTENSO E ETÉREO

Para os degustadores, o Brunello di Montalcino é límpido, brilhante, de colorido vermelho escuro bastante vivo. Tem um perfume  intenso, persistente e etéreo. Pode-se reconhecer ali a madeira aromática, pequenos frutos de bosque e um leve sabor de baunilha. Deve ser mantido em uma adega fresca, de temperatura constante, na penumbra, sem barulho e outras  fragrância. As garrafas, em vidro escuro, devem ser mantidas deitadas.

A uva negra de Sangiovese

 

O  Brunello di Montalcino tornou-se, alguns anos atrás, um  verdadeiro investimento econômico. Em algumas empresas produtoras, é possível  efetuar a compra de  um  lote de Brunello di Montalcino  já  durante  a fase  de  afinamento em madeira ou engarrafamento, mesmo antes de o vinho ser colocado à venda.

As compras antecipadas são definidas como investimento “future”, com os  respectivos lucros e riscos do mercado futuro. É uma boa opção para quem quer dispor de menos recursos e não tem pressa para consumir o produto, pois o Brunello é daqueles vinhos que reforçam a máxima: “Melhora com o tempo”. O valor dele está exatamente na capacidade de exprimir suas características depois de muitos anos de engarrafamento.

O vinho deve passar por um período de envelhecimento de pelo menos dois anos em barris de carvalho, de qualquer dimensão, além de no mínimo quatro meses em garrafa. Não pode ser colocado para consumo antes de 1º de janeiro do ano sucessivo ao término de cinco anos, calculados considerando o ano da safra.

A cotação da garrafa depende do ano da safra e da avaliação feita  pelo  Consórcio do Brunello di Montalcino. O numero de “estrelas” – mínimo de uma e máximo de cinco – em relação  ao ano da safra  é ligado  ao valor do vinho produzido.

 

Vinhas do território de Montalcino, na Toscana (Itália) /Foto Divulgação

 

A qualidade do vinho, sua longevidade e outras características podem variar sensivelmente mesmo dentro da própria safra. A qualidade resulta da variação do clima durante a fase vegetativa (abril-setembro), das chuvas, da temperatura e as variações térmicas durante o dia e a noite, que incidem diretamente no produto final.

Entre as safras excepcionais estão as de 1945, 1955, 1961, 1964, 1970, 1975, 1985, 1988, 1990, 1995, 1997. No período mais recente podem ser citadas as de 2004, 2006 e 2007.

 

MILHÕES DE GARRAFAS

A produção do Brunello impressiona: são engarrafados cerca de 70.000 hectolitros por ano. A  produção do 2012 superou  a cota de  14,1 milhões de garrafas – 9,2 milhões referentes ao Brunello e outras 4,5 milhões relativas ao Brunello Rosso. Na prática, isso representou um faturamento aproximado de 167 milhões de euros, um aumento de 2,5% na comparação com 2011.

 

Barris onde o vinho é colocado para envelhecimento, o "Brunello"

 

A cota de venda para o exterior representa, atualmente, cerca de 65% da receita. Segundo o presidente do Consórcio do Brunello di Montalcino, Fabrizio Bindocci, os Estados Unidos cobrem 25% das aquisições. Existe também um incremento no Sudeste Asiático, no Leste europeu e especialmente no Brasil.

Os executivos informam que a graduação alcoólica é  de, no mínimo, 12% em volume. Caso queira especificar a vinha ou região de produção da uva, o produtor deve assegurar ao vinho uma graduação alcoólica de, no mínimo, 12,50% em volume.

 

Cotação em euros do Brunello di Montalcino da Fazenda Dei Barbi (de 1862 a 1997) 

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