Comentários
“Jucazécaju”: estripulias aéreas de três amigos jacarés
Saltos de ponta-cabeça, cambalhotas no ar e voos em monociclo e trapézio baixo são brincadeiras em “Jucazécaju”
Num tronco sem folhas, duas jacarés fêmeas dormem, num picadeiro redondo de cimento que faz de conta que é charco. Elas se movimentam com gestos lentos, mas súbitos, típicos desses répteis crocodilianos nas lagoas rasas, de olhos parados, semissubmersos na água.
A coreografia, proposta por Adriana Telg e realizada com charme pelas atrizes Luciana Menin e Manoela Rangel, chama a atenção pela graça com que imita os movimentos dos bichos.
Os personagens têm figurinos de rabos compridos e escamosos, listras vermelhas e braços listrados amarelos-e-marrons.
No conjunto a indumentária possui o tom dos jacarés, que se assemelha à cor dos rios lentos de seu próprio ambiente. O figurino e o cenário são de Marco Lima.
Jacarés e crocodilos são encontrados em todas as regiões mornas do mundo, nos pântanos e também em corredeiras e estuários.
Carla Candiotto, em entrevista ao site Panis & Circus, disse que representou os tocos de árvore lisos, caídos no charco, para tornar presente a destruição das matas e florestas brasileiras.
Ao mesmo tempo são o aparelho para os atores equilibristas realizarem seus fantásticos números aéreos. Também nas cenas fora d’água, as personagens das atrizes Luciana Menin (do Circo Zanni) e Manoela Rangel são ágeis, correm e pulam corda imitando os hábitos dos jacarés, que vivem dentro e fora da água.
A graça do espetáculo está em vários momentos do enredo, que conta a história dos amigos jacarés Jeca, Jaca e Jucazécaju, quando são surpreendidos por dois caçadores na floresta.
O jacaré Juca anda de monociclo – sem errar uma! – e descobre depois que é um dragão. “Ele abre as asas, dá impulso, sente o vento” e voa no monociclo. O personagem é interpretado por Cafi Otta, do grupo Namakaca.
A vida é cheia de brincadeiras na floresta de árvores de onde saem a própria iluminação, em recurso inteligente na iluminação de Wagner Freire.
O ritmo musical da trilha de Hélio Ziskind e Ivan Rocha marcam as cenas e a narrativa segue atraente.
Na cenografia também o passar do tempo é efeito de destaque, que esclarece a narrativa para a criança pequena, espectador alvo de “Jucazécaju” – a recomendação da peça é para o público de três a oito anos. Um imenso sol levanta e se põe na sucessão cronológica dos acontecimentos.
Os amigos viajam de barco, atracam a embarcação e fazem estripulias aéreas, representando o momento de ancorar, de partir, os tropeços nas corredeiras, a pescaria. Mas eis que chegam os caçadores…
A segunda parte do espetáculo encena a expedição e o acampamento deles. Luciana Menin atua com mestria, usa jogos de palavras que fazem todo mundo rir e repete o bordão de caça aos jacarés: “Vou fazer colar, sapato, cinto e ficar rico, e muito bonito!”.
Os caçadores são uma dupla de palhaços em que um deles é subserviente ao outro. Luciana Menin é o mandão, cheio de bússolas, GPS, lanternas. Manoela Rangel tem sotaque português e obedece de forma atrapalhada e engraçada a tudo que ordena o caçador-palhaço representado por Menin.
Seu fraco de fazer xixi toda hora arranca gargalhadas da plateia, que acompanha a musiquinha que Rangel canta várias vezes até que o líder manda parar: “Bermudas ‘lamberdual’, você vai ficar sequinho, você vai ficar legal!”.
A terceira e última parte da peça traz o final da caçada e a metamorfose do jacaré macho em dragão, com mais acrobacias circenses. O personagem de Cafi Otta bate as asas de modo bem divertido enquanto se equilibra em uma roda só, no monociclo.
“As Asas de Crocodilo”, livro de Gilles Eduar, inspirou a peça “Jucazécaju”, adaptada por Rodrigo Matheus (Circo Mínimo) e Carla Candiotto (cia. La Plat Du Jour), que assina a direção.
Carla Candiotto integra a equipe de comediantes do programa “Saturday Night Live” (Rede TV) e tem a cia. Le Plat du Jour com Alexandra Golik.
A diretora e atriz Candiotto é ganhadora dos prêmios FEMSA 2011 pela direção de “Histórias por Telefone” e APCA 2011 por “Histórias por Telefone”, “A Volta ao Mundo em 80 Dias” e “Sem Concerto” (Circo Amarillo) na categoria de Melhor Direção. Matheus é ator e o fundador da cia. Circo Mínimo.
(Mônica Rodrigues da Costa)
Serviço
Em cartaz no Teatro Alfa até 15/07. Link: www.teatroalfa.com.br/?q=node/246
Tags: Cafi, Candiotto, Carla, circo, Jucazécaju, Luciana, Matheus, Menin, Mínimo, Namakaca, Otta, Rodrigo
Espetáculo está lindo, Luzinha tá arrasando junto com o resto do elenco formidável
Que demais quero ir assistir!!!!!!
Monica, adorei o texto. Saudades aqui de longe!
Beijos, fe teixeira
Grata pela leitura, Fernanda!
bjs
Mônica
Deve ser muito bom, pelo menos de quem vieram os comentários, vamos assistir em julho, sem falta. bjs Corelio e Moniquinha
Obrigada pela leitura! bjs