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“Mistero Buffo” redimensiona simbologia do palhaço

 

 

Dario Fo, o autor de Misterio Buffo, tem um grande respeito pelos palhaços”, diz Domingos Montagner

Mônica Rodrigues da Costa

O ator, palhaço e diretor Domingos Montagner conversou com a reportagem do Panis & Circus, no camarim do Teatro Sesi, durante a temporada de Mistero Buffo, em abril de 2012. Confira abaixo.

Panis &  Circus – Em “Mistero Buffo” vocês dão distância entre atores e personagens.

Montagner – É de propósito. Há muitos anos, logo quando conheci comecei a ler as peças de Dario Fo, a estudar as técnicas, apareceu a oportunidade de vê-lo fazendo “Mistero Buffo”. Quando li a obra dele, os tratados, os estudos, os próprios textos, eu via uma coisa tão resumida que eu, por instinto, achava que era do palhaço.

 

 

Dario Fo tem grande respeito pelo palhaço, considera o palhaço extremamente complexo, o que é derivado de muitos anos de trabalho, dedicação. Um intelectual e dramaturgo desse porte e que tem respeito pelo palhaço dá uma felicidade para a gente que é palhaço.

Cada vez mais eu me apaixonava pelo trabalho dele. A cada ano que passava eu assistia a mais peças, lia outras peças dele. O desejo de montar uma peça de Dario Fo é antigo. A gente esperava que chegasse a certa maturidade para montar uma peça do Dario Fo.

Circus – Por que assunto de palhaço interessa hoje?

Montagner – O assunto é atual porque, do jeito que é feito, honrando a arte do palhaço, sempre vai ser atual. Não é apenas o que está na memória de um tempo que não existe mais. A arte está cheia de palhaços excelentes, que descobrem a comicidade.

O palhaço não é stand-up, não é só a brincadeira do improviso, isso faz parte da arte do palhaço, o personagem é maior do que tudo isso. A gente tem algumas correntes de comédia que parecem normais de acordo com a sociedade e as pessoas acham que acabou o que havia antes.

Fazendo a peça “Mistero Buffo” como palhaços, a gente vê o quão atual eles são. Os textos complexos do Dario Fo falam sobre religiosidade, distorções da fé, distorções de quem se aproveita da fé.

Você percebe que o personagem do palhaço consegue ter mais eficácia se você fala de maneira literária, textual, e com comicidade, porque o palhaço tem uma simplicidade de alcance popular, ele se aproxima do público, que é seu igual, e joga essa reflexão.

O público se sente capaz de entender da mesma maneira, pois esses personagens são como eles, o discurso tem grande receptividade. A gente vê isso no final do espetáculo.

“Mistero Buffo” é tragicômico. Quando o espetáculo faz uma curva, os espectadores absorvem aquela tragédia, entre a reflexão e a emoção.

Depois de 15 anos de repertório, a cia. La Mínima achou que era o momento de montar “Mistero Buffo”, sei lá, é como se fosse nosso papel, nossa obrigação com a arte do palhaço.

 

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