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Palhaça Rubra: 25 anos de incentivo à criatividade, humor e alta tecnologia humana
Fernanda Araújo, especial para Panis & Circus
O Show de 25 anos da Palhaça Rubra começa ao som de “All My Loving”, clássico dos Beatles. A escolha da música balançante, em um palco colorido e luminoso, para uma plateia cheia de crianças, encanta todas as faixas etárias e define exatamente o que o público encontrará nos próximos 50 minutos: um espetáculo envolvente e de bom gosto. A montagem de aniversário da Rubra, personagem da atriz Lu Lopes, segue em cartaz até o dia 25 de março, sábados e domingos, às 16h, no teatro do MorumbiShopping, em São Paulo.
Mas como explicar o fascínio da molecadinha por uma música da qual eles não fazem a menor ideia do que está sendo dito? “Percebemos que quando as crianças vão ao show e vêm os pais felizes há um efeito transformador em toda família. A criança não entende a letra, mas percebe que aquilo pode ser para ela também, pois é algo animado, bacana. Algumas palavras são atemporais, em um formato que pode agradar qualquer idade”, define Lu Lopes.
Assim como em outros espetáculos, a palhaça também canta faixas conhecidas em uma sonoridade semelhante ao japonês, francês e espanhol. Algumas falas seguem a mesma linha de raciocínio, como um jogo de palavras. “A gente se comunica muito na intenção, na expressão. É um tipo de garatuja oral. Uma brincadeira muito conhecida das crianças”, explica a atriz.
Rubra divide o palco com o palhaço-guitarrista Álvaro Lages (Pelancas) e palhaço-baterista Danilo Dal Farra (Palhaço Gastão). No repertório estão música consagradas de sua carreira, como “Eleva o Tórax” e “Miniminimá”, a nova “Planta Seu Pé no Planeta”, além de faixas dos discos “Rubra Pop Show” (Selo SESC) e “Almanaque Da Banda Gigante” (livro-CD/ SESI). O programa inclui também “Um Dia Feliz”, de Angêlo Máximo. Quase no fim do espetáculo, Danilo Dal Farra dá um show à parte ao revelar-se um ótimo intérprete de Elvis Presley.
O público do show atual é formado por crianças pequeninas, muitas delas fãs do “Rubra e as Criaturas”, programa da TV Rá Tim Bum! que resgata a graça e a ingenuidade da infância. Na TV, a palhaça fala da simplicidade da plantinha que nasce no vão da calçada; da formiga que carrega o alimento, da Dona Aranha, teimosa e desobediente, que sobe, sobe, sobe, nunca está contente (como a música). Rubra encanta ao valorizar as coisas que as crianças enxergam no dia-a-dia das e que os adultos já não têm mais a mesma percepção.
No espetáculo, por exemplo, Rubra faz uma série de perguntas e aproveita todas as respostas. Quando o retorno parece incoerente, ela faz com que a reposta fica correta de alguma maneira. E, na maioria das vezes, dá um jeito de transformar a história em música. Em outras palavras, atriz segue uma fórmula bastante sábia: respeita e valoriza o repertório e a faixa etária de cada um, assim, as crianças se sentem compreendidas e os adultos se divertem. Por falar em adultos, eles também participam do show. Alguns, aliás, revelam excelente performance ao bambolê (vá treinado, fica a dica).
No figurino, característico da personagem, Rubra sua colete do renomado estilista João Pimenta, saia da dona Chiquinha (sogra da atriz) e bota da Galeria do Rock. A novidade, como ela informa ao público, é o chapéu (adereço comprado da R. 25 de Março). “Tenho procurado usar mais branco. E para os espetáculos de rua tenho saias menos volumosas”. Sobre a peruca, Rubra não divulgou a fonte (talvez seja secreta).
Rubra: o nascimento da palhaça
“No início eu não tinha nenhuma expectativa. Estava completamente mergulhada em me divertir e encontrar uma liberdade dramatúrgica e autoral, uma autonomia criativa. Queria me comunicar”, conta Lu Lopes sobre o nascimento da personagem que ganhou o nome de Rubra durante uma oficina com a mestre Cristiane Paoli Quito, ao lado de Luciano Bortoluzzi (colega de palhaçaria). Lu tinha cabelo vermelho e gostava de roupa e batom vermelho, daí no nome. Vencendo os obstáculos do mundo machista, a moça fez história. “Como palhaça, criei filho, sustentei casa e conquistei meu espaço”, orgulha-se.
Escalafobéticas
Em um outro espetáculo, “Escalafobéticas”, Rubra só utiliza garatujas orais. “Uma vez, uma professora de francês veio me procurar no fim de um dos shows e disse que minha pronúncia era tão boa que ela levou um tempinho para entender que eu não estava falando nenhuma palavra de francês”. De fato, Rubra é convincente em várias línguas – fluente em inglês, diz que aperfeiçoa a língua assistindo seriados.
Cathum – Casa de Alta Tecnologia Humana
“Eu precisava de um escritório. Queria centralizar meus trabalhos de atriz, roteirista, palhaça e escritora. Então me juntei com meu marido, Fabio Cirelli, que é reflexologista, e convidamos mais uma psicóloga. São técnicas e linguagens que geram autonomia criativa e emocional. A sempre a arte está envolvida de alguma maneira”, explicou Lu Lopes que faz os roteiros para seu programa “Rubra e as Criaturas”, da TV Rá Tim Bum!, e foi convidada para reescrever a série “DJ Cão”, em parceria com Márcio Araújo.
Atualmente, Lu Lopes também escreve “As Trambiqueiras”, uma série de tragicomédia para a TV que fala de uma gangue de mulheres.
A “Cathum”, como ela chama, fica na R. Padre Artur Somensi, 144, V. Madalena, em cima da Papelaria do Tio. “Estamos aos poucos organizando encontro de jovens e educadores para apresentar o movimento de autonomia criativa”. A casa completa um ano em abril e deve planejar novas ações.
Festival Internacional de Circo da Cidade de São Paulo
A palhaça foi convidada para dirigir o Cabaré de Números Tradicionais, na noite dia 13 de abril, no Centro Esportivo Tietê. Seis esquetes serão apresentadas na ocasião.
Vários livros
Novos livros, em breve: “Planta seu Pé no Planeta”, “A Magnífica Caixa de Contação de Histórias” (com material lúdico para educadores e famílias) e “O Menino dos Olhos de Mar” (inspirado nos surfistas Carlos Burle e Maya Gabeira).
Reconhecimento Acadêmico
“Acabei de firmar uma parceria com a Unicamp e farei um trabalho com Marco Bortoleto e Erminia Silva”. Juntos, os três farão um ciclo de pesquisa prática para criar um método fundamentado na autonomia criativa, que é a pesquisa artística desenvolvida pela palhaça há mais de 20 anos em residências que ela ministra pelo mundo (já deu palestra na França a convite do governo francês). “A ideia é criar um livro e uma plataforma digital”.
Na prática, o encontro acadêmico será uma maneira de documentar e validar o método, um grande reconhecimento de sua contribuição ao circo – e em defesa da Alta Tecnologia Humana, como ela gosta de ressaltar.
Serviço
O Show da Palhaça Rubra
Local: Teatro do MorumbiShopping.
Endereço: Av. Roque Petroni Júnior, 1.089, Jd. das Acácias
Temporada: De 3 a 25 de março, às 16h.
Quanto: R$ 25 a R$ 50
Recomendação: livre
Duração: 60 minutos