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“Pals” é um belo espetáculo”
Espetáculo faz rir mas também chorar
Lu Menin, especial para Panis & Circus
Rodas, eixos e paus, objetos de madeira, vivos, vão se juntando e se transformando sem parar nas mãos de sete pessoas que procuram o lugar para jogar as cinzas de um grande amigo.
Dramaturgia densa que contada através do circo, faz chorar, mas também rir, transpirar as mãos… passar por muitas emoções. Figuras, pessoas e suas diferenças, nada mais circense e democrático como o circo realmente é.
Cada persona tem sua individualidade e juntos se complementam.
O espetáculo é resultado de uma residência artística, coproduzido pelo Festival Grec de Barcelona (Espanha) e pelo Polo Circo, Festival de Buenos Aires, Argentina. Desde janeiro, os artistas estão juntos criando essa história. Notam-se o frescor e a verdade das relações entre eles e do processo.
A música é parte ao vivo e parte gravação, feita pela musicista e pela cantora que estão dentro das cenas, contracenando diretamente com os artistas circenses.
As estruturas utilizadas são de madeira usada em construção rural e fazem parte dos aparelhos circenses.
Cada cena com seu cenário montado ali pelos artistas e pelas musicistas, sem dependência nenhuma do espaço. As estruturas são auto-portantes e também usam contra-peso para a realização dos números. Esse projeto foi idéia de Leandro Mendoza, argentino que vive há 18 anos em Barcelona, Espanha. Ele foi motivado por três estímulos de uma vivência pessoal que passaram a ser estímulos de criação. Primeiro, o mundo técnico do circo, sua trajetória como montador e construtor. Segundo, o artístico, a necessidade de comunicar emoções com a linguagem do circo e, terceiro, sua vivência na vida rural, no campo a 35 km de Barcelona, onde vive com sua família. Aí esses três estímulos se encontraram e nasceu “Pals”.Um jogo poético metafórico sobre a morte. E não é um falar sobre a morte e sim falar como se vive e como se supera, que parte nossa morre com a pessoa que se vai. E como podemos preencher e recriar esse espaço.”Pals” é lindo, bem realizado, verdadeiro, de bom gosto! Um belo espetáculo de circo contemporâneo. Com a linguagem do circo contam uma bonita história!
Elenco é capítulo à parte
Ramón Simó, novo diretor do Grec Festival de Barcelona, que reúne apresentações de dança, teatro, circo e música, destaca que “um dos elementos do circo contemporâneo é a dramaturgia. E o interessante no projeto “Pals” foi a possibilidade de construirmos uma dramaturgia teatral sobre o mundo do circo. É essa mescla entre o teatro e o circo que nos interessa.”Longe da hegemonia de corpos fortes e sarados que sobram em muitos espetáculos circenses, em Pals, a Cia Cíclicus conta com uma cantora de formas arredondadas à la Botero, uma musicista especialista em instrumentos antigos e inusitados, e um senhor que transborda energia pelos poros. Além deles, um típico portô – aquele homem grande e forte que segura todo mundo ou joga os menores pra cima, duas típicas e pequenas volantes – aquelas que são equilibradas e jogadas pra cima pelos homens fortes – e por um levíssimo e também forte acrobata”, descreve o circense Cafi Otta. Por fim, os integrantes de “Pals” encontram o lugar para lançar as cinzas do amigo que morreu, num dos momentos mais bonitos do espetáculo, acrescenta. “Aquele senhor cheio de energia sobe no alto de um imenso carrossel, circundado por todos os seus parceiros que estão dependurados nas pontas da estrutura, e lança no ar os restos de seu companheiro de cena. Eu, como artista, sonho com um final de vida assim, mesmo que efêmero, mas no palco, aos olhos do público uma última vez”.
E o resultado consiente de uma pessoa preparada e sabedora deste quadro que depois de ter lido a gente aprende e entende o conteudo!