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Príncipe Tuquinha vai se “materializar” na Sala São Paulo

Paulo Rogério e o pianista Aimar de Noronha Sampaio após o espetáculo “Lendas Amazônicas” na Sala São Paulo / Foto Asa Campos
A afirmativa é de Paulo Rogério Lopes, diretor e autor de textos da série “Aprendiz de Maestro”, da TUCCA
Bell Bacampos, da Redação
O Príncipe Tuquinha, que vive em um planeta muito distante da Terra e que acredita no poder da música para curar doenças e tristezas, vai se “materializar” na Sala São Paulo, no segundo semestre desse ano. A afirmativa é de Paulo Rogério Lopes, diretor e autor de textos da série “Aprendiz de Maestro”, da TUCCA – associação que cuida de crianças e adolescentes com câncer.
O Tuquinha vai ser representado por Tomás Sampaio – que integra o elenco do circo Zanni e foi um dos protagonistas da novela global “Meu Pedacinho de Chão”. “Só não sabemos ainda se o Príncipe Tuquinha vai aparecer no Dia das Crianças ou no Natal. Vamos escolher a data mais impactante”, diz Paulo Rogério.
O diretor conversou com a reportagem do Panis & Circus após o espetáculo “Lendas Amazônicas”, inspirado na obra do compositor Waldemar Henrique, e que inaugurou a temporada 2015 da série “Aprendiz de Maestro”, na Sala São Paulo, no sábado 21/3.
A seguir os principais pontos da entrevista:
Circus: Há quanto tempo você participa do projeto “Aprendiz de Maestro”?
Paulo Rogério: Eu estou no projeto há oito anos – antes eu era assistente de direção. Há quatro, estou na direção e autoria de textos – período em que quis dar uma cara diferente ao projeto, e vocês do site, que acompanham o Aprendiz, sabem que em muitos espetáculos apresentados têm bastante circo.
Circus: Qual é a principal diferença entre o Aprendiz de ontem e o de hoje?
Paulo Rogério: A diferença é que antes tinha um Aprendiz. No começo era um personagem chamado Allegro, um boneco feito de madeira de violinos, que era o aprendiz, e cada episódio tinha um tema. Depois entrou a Operilda, uma feiticeira do bem, e que sempre trazia um problema para o maestro resolver: ‘minha afilhada quer fazer balé, como é que é isso?’ E aí tinha uma explicação no espetáculo.
Preferi com a nova equipe não ter um personagem. O “Aprendiz de Maestro” é um conceito.
No nosso conceito existe um Príncipe Tuquinha (diminutivo de TUCCA), que mora em um planeta muito distante.
E o seu planeta está ficando triste. Ao ouvir as ondas sonoras que se propagam no espaço, o Tuquinha descobriu que a música tem o poder da cura. E ele queria curar a tristeza do seu planeta. O que o príncipe faz? Vem para a Terra, mais precisamente para a Sala São Paulo, em busca da música.
Só que vai demorar uns dois mil anos para ele chegar por aqui e nessa viagem ele vai captando em sua nave os sons que saem da Sala São Paulo.
Circus: E a nave do Príncipe Tuquinha nessa temporada de 2015 está mais próxima da Terra?
Paulo Rogério: Esse ano a gente vai materializar o Príncipe Tuquinha. Não sei se vai ser no episódio do Dia da Criança ou do Natal – o que julgarmos que pode ser o mais impactante para marcar a vinda dele à Sala São Paulo.
Circus: E quem vai ser o Príncipe Tuquinha?
Paulo Rogério: É o Tomas Sampaio. Ele é super simpático, carismático e ótimo ator. Vai ser o Príncipe Tuquinha. Não sabemos ainda se ele vai chegar na Terra e na sala ou vai ser uma holografia.
Circus: Tomás faz parte do elenco do Zanni. E o seu pai, o Fernando Sampaio, também já atuou em vários espetáculos do Aprendiz. Tudo em família?
Paulo Rogério: O Fernando Sampaio é um ótimo ator. Ele e o Domingos Montagner (dupla do La Mínima e sócios do Zanni) já participaram várias vezes do “Aprendiz de Maestro”.
Fernando fez par com Ana Luísa Lacombe, que narra as “Lendas Amazônicas” hoje (21/3). Os dois atuaram no espetáculo “Sansão e Dalila”, aqui na Sala São Paulo, que teve destaque sensacional no Panis & Circus.
Clique aqui para ler a reportagem sobre o espetáculo “Sansão e Dalila”.
Circus: Como surgiu o projeto do espetáculo “Lendas Amazônicas”?
Paulo Rogério: Há dois anos, eu desenvolvia o projeto com o pessoal do Projeto Guri. Ele foi idealizado pelo pianista Aimar de Noronha Santinho. Ele tinha uma ideia de fazer um espetáculo com o repertório do Waldemar Henrique – que é um dos compositores mais importantes do país.
Fiquei sabendo, por exemplo, que a primeira versão musical de “Morte e Vida Severina” é do Waldemar Henrique, ele fez antes do que o Chico Buarque. Lá atrás. E Aimar questiona: onde estão essas partituras? Não se encontram… Acho que talvez não existam mais.
A ideia era pegar o repertório do Waldemar Henrique, o álbum “Lendas Amazônicas”, e fazer um concerto sobre isso.
Mas jogou na minha mão: “eu quero fazer uma história”, e surgiu a lenda que fala da paixão de um jovem que é enfeitado pelos pais da moça que ele ama e vira metade boi, do Bumba Meu Boi, e metade gente. Ele vai passar por provas até voltar a ser gente novamente.
Essa lenda não existe. É uma lenda que a gente criou para o espetáculo.
Circus: Como foi seu encontro com as canções de Waldemar Henrique?
Paulo Rogério: Muito bom. Hoje, a molecada não conhece mais o folclore. A minha época era muito regida pelo Monteiro Lobato – uma porta aberta para a gente conhecer outro tipo de fábulas, de lendas, de folclore. E hoje não.
Enquanto criávamos o espetáculo perguntávamos: será que isso chega às crianças?
Será que uma música que fala de um boto tem apelo?
Mas a função do projeto “Aprendiz de Maestro” é essa mesma: não só apresentar a música erudita para as crianças, não só começar a formar um público ouvinte, mas também resgatar repertórios, como é o caso das canções de Waldemar Henrique. Não deixar que ele fique restrito a música de câmara.
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Circus: Waldemar Henrique era um compositor popular?
Paulo Rogério: Certamente. O melhor amigo dele era o Mario de Andrade (escritor), que dizia: “Waldemar volta lá para a roça e vê lá o que os índios caboclos estão cantando e traz aquela cantoria para a gente”.
Mario de Andrade tinha escrito o “Turista Aprendiz” (livro que fala de suas viagens às regiões Norte e Nordeste) e fez a pesquisa amazônica que acabou virando “Macunaíma”.
A nossa função, dizia Mario Andrade para Waldemar, é não deixar esse folclore morrer.
E eu e o Aimar também nos perguntamos: como não deixar o folclore morrer? Não é apenas reproduzindo o que existe, mas criando coisas novas.
Waldemar pegou as canções que faziam parte de sua infância e criou um repertório novo: “Lendas Amazônicas”.
E a nossa ideia era também pegar a obra do Waldemar, criar um espetáculo e ver se ele atingia o público, principalmente o infantil.
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Circus: Como foi a pesquisa para criar uma nova lenda ao som da música de Waldemar Henrique?
Paulo Rogério: O compositor de “Lendas Amazônicas” já dá as pistas do folclore nas letras. Mas ele tem informações herméticas.
Por exemplo, a música Tamba-tajá, eu não tinha a menor ideia da lenda do Tamba-tajá, que falava que o índio carregou sua macuxi para todo lado.
O que é macuxi? Será que é uma mochila?
Aí eu descobri que, segundo um mito amazônico, na tribo dos macuxis havia um índio que amava muito sua mulher e a levava para todo o lugar. Carregou-a até mesmo para a guerra. E ela morreu durante um combate. O índio enterrou-se ao lado dela. No lugar onde os corpos estavam enterrados nasceu um tajá diferente – atrás de cada folha verde nascia outra grudada, o que os tornava unidos para sempre.
E tem nas lendas bichos como a Curupira e a Cobra-Grande.
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Circus: Na lenda criada para o espetáculo do Aprendiz o jovem se transforma em um boi?
Paulo Rogério: Gosto de pesquisar lendas, é a minha praia. Algumas eu conhecia e sobre outras não tinha a menor ideia.
Mas elas levam a um estado de transformação. É um cara que vira um boto, é um índio que vira uma planta. Pensei em fazer uma história de transformação.
Alguém vai se transformar. O Bumba Meu Boi é a história de um sacrifício de um boi que depois renasce. Então, vai ser isso, pensei.
Quem é esse boi? É um cara que se transforma em um boi e a partir daí a história vai para onde a música vai nos levando. E ela levou para a Matinta-Pereira, para três desafios que desembocam das Rolinhas para o ar, do boto para a água e do Tamba-tajá para as plantas.
O desencadear da música já dava um caminho para seguir numa fábula. E ela foi sendo construída assim…
Postagem – Alyne Albuquerque
Que demais, Bel! Adorei! Bjão