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Rastros: lembranças pessoais em movimentos

 

Cena de Rastros no festival do Sesc de Circo / Divulgação

 

Luciana Gandelini, especial para Panis & Circus

A memória dos performers da companhia carioca Circo Crescer e Viver foi a base para a criação do espetáculo Rastros, que integrou a programação do Circos – Festival Internacional de Teatro do SESC.

O Panis & Circus foi conferir a apresentação do dia 16 de junho, realizada no SESC Belenzinho, que contou com a lotação máxima do teatro. Antes do início do espetáculo, o público já observava com curiosidade o cenário intrigante composto de formas surreais. Árvores de perucas, pirâmides de livros, sapatos coloridos contextualizavam o que seria uma apresentação de circo contemporâneo repleta de originalidade, com elementos misteriosos e surpreendentes. 

 

Artistas dançam ao ritmo cosmopolita da música metálica / Divulgação

 

Concebido a partir da reunião de fotografias, poemas e textos coletados pelos integrantes do grupo em suas lembranças pessoais, Rastros combina contorcionismo, acrobacia, trapézio e dança para apresentar uma narrativa surrealista. Os sete artistas se revezam em diversas modalidades e impressionam pela ousadia nos números apresentados. Ao longo da apresentação, demonstram o grau de preparação corporal e o avanço da pesquisa de circo do grupo em sua contemporaneidade, que permite atingir patamares técnicos elevados.

 

Acrobata se equilibra no meio de objetos e livros / Divulgação

 

Aliada as técnicas, o grupo apresenta cenas de estética peculiar, através de figurinos e elementos cênicos. Com uma trilha sonora de música eletrônica, se instaura um clima atual, cheio de mistério, que prende a atenção do público do início ao fim e, por vezes, causa estranheza proposital.

 

Artista se equilibra em cima de livros / Divulgação

 

O suspense se instaura logo na primeira cena, onde uma mulher com um grande vestido vermelho aparece sobre uma pilha de livros em uma imagem repleta de mistério. Após descer da pilha de livros, ela retira a saia de tule e se transforma em uma acróbata que passa a realizar números em uma espécie de âncora gigantesca, suspensa no ar.

 

Cena de trapézio em Rastros / Guilherme Maia

 

Na sequência, um dos artistas vestindo apenas um calção passa a imitar um macaco, que rapidamente se transforma em um exímio contorcionista. Com o corpo quase todo à mostra, é possível observar a precisão no contorcionismo que atinge o grau máximo, no momento, em que de ponta cabeça, com o corpo invertido, ele segura um espelho grande com as costas e se olha nele. O público aplaude.

 

Contorcionismo em meio a vassouras / Guilherme Maia

 

Intercalados aos números de circo, o grupo apresenta números de dança contemporânea ao som de música eletrônica, o que dá ritmo ao espetáculo e remete o público a um ambiente urbano, por vezes, violento, que gera reflexões sobre as relações sociais contemporâneas.

 

Acrobacia com a imagem no espelho / Guilherme Maia


Um acrobata chega sobre uma maca e é içado por outro artista até o alto de uma corda localizada no centro do palco. Dentro de um imenso saco plástico que envolve o seu corpo, ele se contorce e se debate, como quem tenta respirar para se livrar do sufocamento. Com sons que parecem aparelhos de hospital, depois de muito se debater, ele consegue rasgar o plástico, inicia uma série de movimentos de equilíbrio e força na corda, encerrando a cena em uma espécie de agonia eletrizante. Como quem morre ou desmaia, ele sai carregado novamente na maca.

O espetáculo vai sendo conduzido através de cenas que transitam em um imaginário sombrio e poético.

 

Acrobatas em número de mão a mão / Divulgação

 

Um dos artistas, por vezes, entra e transita pelo palco de forma muito rápida, com uma muleta e um chapéu que tampa o seu rosto. Outro, circula com um salto alto, uma capa e um chicote, como uma espécie de domador de leões, que se diverte ao chicotear alguém que vai trocando de máscaras e demonstrando diversas emoções diferentes como medo e raiva. 

Em outra cena, os artistas com máscaras de pássaros parecem alçar voo e alguns deles estão com olhos vendados. O público fica paralisado com a possibilidade do erro, já que na parte de baixo, outros artistas aguardam ansiosos por qualquer vacilo, vestidos com máscaras de abutres e jacarés. Se houver vacilos, serão devorados. Escapam e ganham aplausos da plateia.   

 

Moça com o vestido vermelho e os livros / Guilherme Maia

 


“Gosto muito de circo contemporâneo”, diz o produtor

Carlos Roberto Silva, 33 anos, produtor cultural comenta sobre suas impressões: “Eu gosto muito de circo contemporâneo, por isso fiz questão de vir assistir este espetáculo. Achei de uma beleza estética impactante.”

Maria Isabel dos Santos, 60 anos, secretária diz: “Eu fiquei impressionada com a ousadia de todos os artistas. São números difíceis e é impressionante a criatividade que o grupo teve para montar este cenário. O que eu mais gostei foi o número final!” Silvana Santana, 24 anos, estudante comenta: “Me surpreendeu muito este espetáculo em que a música, o cenário e a performance transformam o que nós imaginávamos ser o circo. É um espetáculo de muita tensão porque os números são bem difíceis. Fiquei apreensiva, mas gostei muito.”

Ficha técnica: Rastros – Festival Internacional Sesc de Circo 

Direção artística: Renato Rocha.Elenco: Ana Clara Nimrichter, Bruno Carneiro, Kleber Santos, Lurian Duarte, Rafael Munhoz, Wanderson Duarte e Washington Duarte. Produção executiva: Lívia Santos. O espetáculo foi apresentado nos dias 15/6 – quinta (feriado), às  18h30; 16/6, às 21h, 17/6, às 21h e 18/6, às 18h30, no Sesc Belenzinho. 

 

 

 

 

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