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Sucesso do Soleil no fórum mundial de negócios
Ivy Fernandes, de Roma
O World Business Forum 2018, uma cúpula global anual de negócios realizada este mês em Milão, na Itália, nos dias 30 e 31 e dirigido por Daniel Lamarre, o poderoso e criativo CEO do Cirque du Soleil. Pesquisa da Burson-Marsteller classifica o fórum entre os cinco mais influentes locais do mundo para os executivos do C-Suite, ou seja aqueles ligados a importantes cargos de chefia.
O evento, historicamente, é marcado pela diversidade. Reúne executivos e personalidades que se destacam nas mais diversas áreas de atividade como economia, artes, esportes e política. Entre os que já passaram pelo encontro estão Bill Clinton, Kofi Annan, Tony Blair, Colin Powell, Alan Greenspan, Ben Bernanke, Robert Redford, Linda Hill, Phillipe Starck, Barbara Corcoran.
O convite a Lamarre para dirigir o encontro mundial não causou estranheza. Ele é um dos mais destacados executivos do setor de entretenimento e comanda uma empresa singular, um circo com sede na cidade de Montreal, no Canadá, que trabalha com cerca de 5 mil pessoas provenientes de diversos países. Destes, 1.300 são artistas. Os demais membros da equipe são profissionais diversos como técnicos, eletricistas, costureiras, maquiadores, cabelereiros, cozinheiros, supervisores de segurança, entre outros. Uma estrutura que deve funcionar como um relógio suíço.
Desafios, precisão
Os desafios impostos a Lamarre são diários. Os 5 mil trabalhadores do Cirque du Soleil respondem pela viabilização de dez espetáculos em Las Vegas e outros dez que percorrem as mais diversas partes do planeta.
Para Lamarre, o segredo do sucesso do Cirque du Soleil se baseia em dois pilares. O primeiro é o de que na palavra show business, show deve vir sempre ante do business. “Isto significa que é preciso criar um grande espetáculo para conseguir um grande business. É impossível criar um grande e dispendioso show se não tiver os alicerces de um consistente budget (orçamento)”, explica.
“Quando, em 2001, entrei no Cirque du Soleil, a companhia já era famosíssima e realizava shows em 70 cidades. Pouco a pouco foi aumentando e se desenvolvendo. Hoje, apresentamos os nossos espetáculos em 450 cidades. Para conseguir este resultado é indispensável a máxima atenção ao marketing e inventar continuamente novas atrações”, afirma Lamarre.
Atenção aos trabalhadores
O outro pilar é estar bem com os artistas. “Não se pode dirigir uma empresa se não se ama o conteúdo, e, para nós, os artistas são a matéria-prima da qual dependemos 100%”, diz Lamarre.
“Nosso objetivo é montar espetáculos ricos de conteúdo artístico que atraiam um grande público, que pague o ingresso a um preço justo e que volte a ver os nossos espetáculos cada vez que nos apresentamos sempre com novidades e novos artistas que procuramos nos cinco continentes”, afirma o CEO.
“O meu trabalho é igual ao do diretor de um grande jornal, devo estar atento 24 horas por dia, pois o que acontece na Índia, no Japão, na América do Sul pode influenciar ou prejudicar os espetáculos. Um terremoto, um atentado ou um dilúvio podem alterar nossos planos. Devemos estar sempre preparados para inúmeros imprevistos. Ainda mais neste momento, quando estamos concentrados em outros mercados como a China. Queremos aumentar também a nossa presença em Nova York e em Londres, onde a indústria do entretenimento ao vivo está crescendo muito nos últimos anos”, explica Lamarre.
A busca permanente da criatividade
Daniel Lamarre nasceu em Quebec, no Canadá, e tem 65 anos. Discreto, de personalidade forte, lembra fisicamente o ator Dustin Hoffman.
Sua visão de negócio talvez seja a chave para entender o crescimento do Cirque du Soleil e a mais recente investida no mercado da China e a associação com a companhia de cruzeiros MSC. “Acredito piamente que não há empresa sem criatividade. Ela é a alma e o coração de qualquer organização”, afirma.
Casado com a fotógrafa Emmanuelle Duperré, pai de dois filhos, Lamarre passou a vida nos bastidores. Empresariou astros como Michael Jackson, foi CEO da rede de televisão canadense TVA, onde ficou por cinco anos, até 2001, quando reencontrou o amigo e fundador do Cirque du Soleil, Guy Laliberté, que havia conhecido no fim dos anos 90. Nesse reencontro foi convidado a participar da administração da companhia.
Uma das receitas de Lamarre para jovens executivos é a de que devem zelar por seus profissionais e fala de sua experiência no comando da companhia. “Não basta ser o melhor e o mais brilhante presidente sentado em uma poltrona. O que deve funcionar à perfeição são os artistas que, no Cirque Du Soleil, devem se entrosar perfeitamente, pois vivem juntos praticamente 24 horas por dia durante 8 a 10 meses por ano. Mesmo provenientes de países e falando línguas diversas devem funcionar em conjunto. Um depende do outro. Basta um zíper mal colocado para uma trapezista encontrar dificuldade nos movimentos. Todos, mas todos mesmo, são importantes no funcionamento, no equilíbrio do espetáculo e devem ser tratados com o mesmo respeito e consideração.”
Apoio governamanental
O Cirque du Soleil teve o apoio do governo canadense, o que foi fundamental para que o circo se tornasse uma das maiores indústrias de entretenimento do mundo.