Arte em Movimento
Prêmio contra o preconceito dos “falsos intelectuais”
Palhaço Tiririca é eleito como um dos 25 melhores políticos do Brasil.
Antonio Marcello*
De Brasília
Francisco Everardo Oliveira Silva, ou melhor, Tiririca, nasceu em 1º de maio de 1965. Foi eleito deputado federal (PR) por São Paulo com uma maioria expressiva, apesar de manifestações de preconceitos do tipo: “Palhaço não pode ser deputado”. Ou: “Ele não passa de um analfabeto”.
Em sua atuação na Câmara dos Deputados provou que esses preconceitos não passavam de… preconceitos.
Escolhido para membro da Comissão de Educação e Cultura, recebeu novamente uma chuva de impropérios preconceituosos. Foi em frente. Apresentou projetos. Participou dos debates e, agora, viu seu trabalho coroado pela obtenção do Prêmio Congresso em Foco como um dos 25 parlamentares de melhor atuação na Câmara dos Deputados, tanto por sua assiduidade, apresentação de propostas, quanto pela participação nas votações.
O prêmio, dado pela sétima vez pelo site Congresso em Foco, é resultado da votação livre e aberta de 186 jornalistas que atuam na cobertura da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacional.
Tiririca também ficou entre os seis melhores deputados na votação feita pelos internautas.
Durante a premiação, no Unique Palace, em Brasília, no dia 8 de novembro, para escolher os “melhores parlamentares do país”, Tiririca estava feliz com a conquista do prêmio, conforme mostra o vídeo da capa do site Panis& Circus.
Ele também foi entrevistado pelo repórter Oscar Filho, da equipe do CQC, que perguntou ao deputado que saia do banheiro: “Você foi fazer lá dentro as cagadas que não fez no Congresso?” Tiririca riu e aproveitou a deixa para falar que estava contente com a premiação.
No palco, onde foram entregues os prêmios, o senador petista Eduardo Suplicy (escolhido como melhor senador) e o deputado Tiririca improvisaram um “dueto” e cantaram “Blowing in the Wind”, de Bob Dylan, acompanhados pela banda “Móveis Coloniais de Acaju”.
Tiririca também cantou para o público uma canção de Zeca Pagodinho, “Deixa a Vida me Levar”, e “Florentina de Jesus”.
Único entre os presentes de camisa, sem terno, paletó e gravata, Tiririca brilhou na festa do Congresso em Foco.
Leia a entrevista com o deputado Tiririca a seguir.
Conquista revela resultado de trabalho
Panis & Circus – Qual sua sensação ao ser escolhido pelo prêmio Congresso em Foco como um dos 25 melhores parlamentares do ano?
Tiririca – É fantástico. O resultado de todo o trabalho que estamos fazendo aqui, apesar das dificuldades que enfrentamos. Nós sabemos que há limites para o trabalho parlamentar. A política em si tem limites. Mas nós estamos fazendo um trabalho bacana. Fazemos o mínimo que o parlamentar deve fazer: não faltar às sessões, participar das atividades das comissões e comparecer às votações. Estou firme e forte aí. Somos 513 deputados e eu sou um dos nove que nunca faltaram a uma sessão. Então, acho que ajudo muito o povo que me elegeu apresentando emendas que beneficiam o interior de São Paulo.
Estou muito feliz, muito feliz mesmo.
Circus – Sua atuação na Comissão de Educação e Cultura ajudou?
Tiririca – Pra caramba. Já teve projeto meu aprovado lá, o que me deixa muito feliz, mas acho que não faço nada além do que um parlamentar deve fazer.
Circus – Quando o senhor foi eleito, houve preconceito do tipo: “Palhaço não tem de ser deputado, é um analfabeto etc.”. Sua atuação desmente esses preconceitos?
Tiririca – Acho que sim. Acontece o seguinte: na realidade, sei disso desde que me entendo por gente, o artista popular não é muito valorizado. A não ser que ele seja o Roberto Carlos. Você vê um cara mais discriminado (falo de um artista popular) que o Amado Batista?
Até hoje ele vende mais discos que o Roberto, mas é discriminado. De um tempo para cá, estão dando uma abertura para o artista popular, mas muito pouca ainda. Eu lembro que para eu chegar a ser um artista a nível nacional foi uma luta muito grande.
Você vê, o próprio Luiz Gonzaga, só depois que morreu, é que deram valor. É coisa que ninguém entende. Eu falo isso e estou todo arrepiado aqui por baixo da roupa, eu acredito demais no artista popular.
Mas a galera tem preconceito contra o artista popular. Estou falando isso porque, para entrar na televisão, foi muito duro. Antes de “Florentina”, que foi a música que me trouxe, eu tinha mandado todo tipo de música de trabalho para todas as emissoras que você imaginar. Todas fecharam as portas. Foi preciso a “Florentina” chegar com a pirataria para acontecer.
Circus – O Selton Mello tem conseguido um belo sucesso com o filme “O Palhaço”…
Tiririca – É uma coisa fantástica e isso me deixa muito feliz. Já comentei isso com meu pessoal. Pode ajudar a diminuir o preconceito. Mas não é o povo que tem esse preconceito, o povo me elegeu.
O preconceito está na cabeça dos falsos intelectuais, dos que se acham grandes, que diziam que eu ia chegar aqui e ia fazer palhaçada e eu estou mostrando que se pode trabalhar. Apresentei vários projetos, se serão aprovados, não sei. Não depende só de mim, então…
Circus – O artista popular continua discriminado?
Tiririca – Principalmente o artista circense. A partir do momento em que eu passei a gritar, a abrir a boca, a coisa começou a mudar. Não é coisa minha só. Você vê o Selton ganhar todos esses prêmios, ir para o Oscar… Isso é maravilhoso, as TVs agora dão abertura para o pessoal do circo. Tem artista deixando de ter vergonha de dizer que tem família de circo. Essa mudança é muito boa. [Está se referindo ao circo tradicional.
Circus – Dentro da Câmara, há preconceito quanto à sua profissão de palhaço?
Tiririca – Não. É interessante isso. Nos três primeiros meses aqui, eu me senti meio perdidão, porque, lá fora, você imagina que aqui é uma coisa organizada, bacana, porque no circo tudo tem de ser organizado, tem uma programação clara, porque aqui entra a bailarina, aqui entra o palhaço, aqui o malabarista… Mas na Câmara, não. Ninguém presta atenção a nada, tudo é feito de repente e, aí, chegaram para mim e disseram: “Não fique assim, senão você vai ficar deprimido; é assim que isso aqui funciona”. Então, estou pegando a mecânica.
Circus – Você parou de ser Tiririca?
Tiririca – Não. É de onde tiro o meu sustento, de onde eu sustento minha família. Fazendo shows. Tenho um contrato com a Record e volto a gravar depois do segundo turno das eleições municipais.
Circus – Voltando a falar sobre o Prêmio…
Tiririca – Estou feliz. Vejo como funciona e quero melhorar minha atuação nos próximos anos. O prêmio Congresso em Foco é muito bacana, é um incentivo.
*Colaborou Bell Campos.
Tags: ASA Campos, bell, brasilia, Congresso em foco, deputado, tiririca
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Sem dúvida, foi um dos prêmios mais merecidos entre os dutados federais. Nós estamos acompanhando seu trabalho. Apresentação de várias propostas em benefício da cultura e algumas já aprovadas. Nada mais é de quem, independente das suas origens, incorpou a responsabilidade de Deputado e a cumpriu magnificamente.
P A R A B É N S
Parabéns, Tiririca!!! Tenho acompanhado seus trabalhos na Câmara e você está muito bem. Foi merecido esse prêmio.
Parabéns ao panis por mais está matéria interessante e esclarecedora!!!
Está equipe é boa mesmo!!!