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Zanni: mistura inteligente de estilos e épocas
Música e palhaço Padoca costuram os números com maestria
Mônica Rodrigues da Costa, especial para Panis & Circus *
Os números bem-acabados se sucedem, agradáveis. A música e o palhaço Padoca (Fernando Sampaio), genial, costuram as entrelinhas, os “entrenúmeros”.
A versão deste ano mostra números que se realizam nestes dez anos de Zanni (apareceu em 2004) e também atrações novas ou recriadas. A apresentação é conduzida por quadros musicais, que culminam nas exibições dos palhaços Marcelo Lujan e Pablo Nordio misturando malabarismos e instrumentos musicais para compor números diferentes. Em uma das passagens do show, a dupla introduz no palco uma traquitana que emite sons urbanos, sobressaindo-se os de carros, que se hibridizam com melodias populares e clássicas, circenses e não circenses.
A banda é composta de instrumentos de sopro, teclado, bateria, guitarra, percussão. Entre os músicos convidados, Fernando Paz exibe talento nos instrumentos musicais e na atuação.
Marcelo Lujan, o diretor musical e que neste ano de 2015 assumiu a direção do espetáculo, apresenta misturas inteligentes de estilos e épocas e amplia o repertório musical em territórios que cativam seu público. A banda é acompanhada com maestria pelo baterista Nereu. Lujan, na guitarra, comanda a trupe e faz o esquenta dos números, ao lado de Nordio, Daniel Pedro, Fernando Paz.
Desta vez, a corda marinha, com Lu Menin, é a apresentação que deixa o espectador com mais frio na barriga. Bel Mucci apresenta o número de acrobacias no tecido e todas juntas fazem graciosos, estonteantes e engraçados números, como o da bailarina de oito pernas. As atrações aéreas das atrizes continuam brilhantes, ao lado do bem-sucedido equilibrismo no arame tenso – desta vez com Marcelo Lujan. As ousadias no ar dão a sensação de serem as preferidas do público.
Rogo aos artistas que usem lonjas. O risco das atrações assombra o espectador desde sempre. Essa ousadia é o ponto alto do circo tradicional e o circo novo, com este espetáculo, demonstra que está a fim de dar visibilidade a esta característica.
Há uma dupla de artistas vindos da Espanha que apresenta ginástica de solo e saltos mortais com interpretação cômica. Durante a atração com voluntários, as pessoas selecionadas realizam um entrecho da história de Branca de Neve.
No Zanni, os papéis se misturam e são dinâmicos. A trapezista Erica Stoppel esteve também no teclado e a aramista Maíra Campos, grávida, participou cantando e andando pela casa-instalação que a trupe montou no lugar da tradicional cortina atrás do círculo, ou caminhão do meio, conforme as lonas tradicionais.
Trata-se de uma casa com varandas e janelas abertas, entrada de gato na porta, cores em linhas retas, laje com o percussionista Nereu Ramos e a tecladista. Os artistas entram e saem de cena através destas passagens da instalação entre palco e plateia e o espectador se pergunta, provavelmente: que mundo existe dentro do mundo do espetáculo que se renova sendo igual ano após ano?
Ficha técnica
O Circo Zanni, nessa temporada 2015, é patrocinado pela empresa Ticket. Concepção e direção artística: Domingos Montagner e Marcelo Lujan. Direção musical: Marcelo Lujan. Direção técnica: Pablo Nordio. Direção de produção: Daniel Pedro. Produção executiva: Alessandra Brantes e Carolina Flor Azcuaga. Coordenação geral: Joca Paciello. Elenco: Bel Mucci, Daniel Pedro, Erica Stoppel, Fernando Sampaio, Luciana Menin, Maíra Campos, Marcelo Lujan, Pablo Nordio. Atores convidados: Fernando Paz, Nereu Afonso, Daniela Rocha, Guga Carvalho (Basil/Espanha), Silvia Compte (Espanha). Classificação etária: Livre.
Serviço
Apresentações gratuitas no Memorial da América Latina até 15 de novembro.
Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664 – Barra Funda, São Paulo. Estacionamento: portão 8. Capacidade: 400 lugares. Acesso à lona pelo portão 9. Grátis. Temporada na Semana Ticket de Cultura. Duração: 80 minutos.Sábados, 17h e 19h30 e Domingo, 17h e 19h30
* Mônica Rodrigues da Costa é poeta, jornalista e editora do Publifolhinha