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“Coppélia” dança na Sala São Paulo
Dr. Coppelius busca dar vida a uma boneca
Bell Bacampos
Dr. Coppelius é um cientista que está em busca de uma ‘‘alma’’ para dar vida à boneca que criou em sua casa, na cidade de Cracóvia, na Polônia. Essa busca sintetiza “Coppélia”, um dos balés mais famosos do mundo, criado a partir de um conto do escritor alemão E.T.A. Hoffmann, musicado pelo compositor francês Léo Delibes e que estreou em Paris em 1870.
Foi o primeiro balé clássico a incluir danças folclóricas como mazurca (de origem polonesa), “csarda” (húngara), bolero (espanhola) e “gigue” (escocesa).
O balé estreou no Brasil, no Theatro Municipal do Rio, em 9/05 de 1918.
Dançarinos da cia. Brasileira de Danças Clássicas apresentam “Coppélia” ao som da Sinfonieta TUCCA Fortíssima, regida pelo maestro Luís Fidelis, na Sala São Paulo, em 8/06. O espetáculo integra a série Aprendiz de Maestro e tem texto e direção de Paulo Rogério Lopes.
Era uma vez…
O maestro Mauro Wrona conta a história da boneca — que tem mais de cem anos — para as crianças, na Sala São Paulo – sem perder o “pas de deux” do balé. Vamos à história.
Era uma vez uma aldeia com casinhas de um lado e outro da rua. Lá, morava o Dr. Coppelius, cientista um tantinho excêntrico. Ninguém sabia o que se passava dentro da casa dele.
Uma bela manhã, a moça mais bonita da aldeia, Swanilda, prepara-se para se encontrar com o namorado, que se chama Franz. Nada mais gostoso do que namorar na primavera, fala o maestro Mauro Wrona, no palco da Sala São Paulo.
De saia amarela, corpete preto e sapatilhas, a bailarina que representa Swanilda entra no palco e dança a valsa “Scene et Valse de Swanilda”, composta por Léo Delibes (1836-1891). A variação de timbres e nuances praticamente escreve falas para as pantomimas encenadas no palco.
Essa valsa também foi a escolhida pelos atores e palhaços Domingos Montagner e Fernando Sampaio na paródia “As Bailarinas”, criada na década de 1990.
Enquanto Swanilda dança a valsa em “Coppélia”, o maestro conta que “quem primeiro ela encontra não é o seu namorado, mas, sim, uma figura que nunca tinha visto antes. No balcão da casa do Dr. Coppelius, Swanilda vê uma linda moça que lê um livro e não lhe dá a menor bola”.
Depois de fazer “uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravo”, sem ter o que fazer ou com quem conversar, Swanilda resolve ir embora.
Quem aparece no palco é Franz, namorado de Swanilda e querido por todos. Ele não é de meter os pés pelas mãos. Mas perde a cabeça ao ver a bela moça no balcão do Dr. Coppelius. E pensa: “Que ‘xuxuzinho’!”. O que será que ela está fazendo na casa do médico? Franz faz tudo para chamar a atenção da moça.
Mas qual o quê. Ela continua absorta na leitura.
Swanilda assiste a tudo de camarote e fica de mal de Franz.
Os amigos e amigas do casal querem promover o reencontro entre os dois. O prefeito da cidade (vestido de azul) promete um sino para a cidade, caso eles se casem. Em dado momento, no balé, o prefeito pega as mãos de Franz e Swanilda e as entrelaça. O casal dança na praça antevendo os preparativos da festa de casamento.
De repente sons estranhos. “Mas o que será esse barulho atrapalhando a dança? É o Dr. Coppelius. O que será que o Dr. Coppelius está aprontando dessa vez”, questiona o maestro.
“É uma explosão. Ufa!”, diz ele, aliviado. “Ainda bem que ninguém se feriu.
O melhor é deixar o Dr. Coppelius com suas invenções e voltar para a animação da praça”, aconselha o maestro.
Barulhinho bom
“Sabe, crianças, naquela aldeia da Cracóvia, os namorados tinham o hábito de carregar um raminho de trigo. Será que era para espantar mosquitos?”, questiona o maestro. “Não era, não”, ele mesmo responde. O maestro continua a contar a história.
A verdade é que, se um apaixonado balançasse o raminho de trigo na cabeça de sua amada e ela ouvisse sons, como se fosse um sininho de sementes, era sinal de amor e de que seus sentimentos eram correspondidos.
Se não fizesse o barulhinho bom, era melhor discutir a relação.
Swanilda, que está aborrecida com Franz, e, por isso, finge que não ouviu as sementinhas de trigo, sai para passear com as amigas.
Cai a noite, e todos voltam a seu lugar. Enquanto vão se divertir, o Dr. Coppelius tem de limpar suas invenções e limpa e limpa até ficar exausto, explica o maestro.
Dr. Coppelius é um cientista meio maluquinho e, quando saiu de casa após a faxina, esqueceu a porta aberta, e “muita coisa pode entrar por uma porta aberta”.
Ao ver o caminho livre, Swanilda teve a perigosa ideia de tirar satisfações com uma moça num balcão. Ela entra na casa do Dr. Coppelius e, em seguida, entram as suas amigas.
Swanilda vê sua rival sentada com um livro, chega perto e descobre, tchã, tchã, tchã, tchã, que a moça do balcão é uma boneca.
O Dr. Coppelius voltou à sua casa, e o maestro, preocupado, adverte: “Fujam”!.
As bailarinas amigas de Swanilda fogem. Mas Swanilda não consegue fugir e se esconde atrás da boneca, que está vestida com uma roupa cor-de-rosa.
Franz resolve ir em busca da amada, que está trancada na casa do Dr. Coppelius, mesmo que, para isso, precise pular a janela.
Ao ser flagrado pelo doutor, Franz mente e diz que está ali para pedir a mão de Coppélia, a boneca, em casamento. Dr. Coppelius fica contente com o pedido e quer mostrar que não é ‘‘o maldoso’’ ou ‘‘maluco’’ que pintam por aí, por isso, convida o jovem para brindar a ocasião.
“Era tudo enganação”
“Era tudo enganação do Dr. Coppelius”, diz o maestro. Ele coloca na bebida de Franz um remédio que dá muito sono.
Com Franz caído, é hora de o Dr. Coppelius colocar em prática um plano maléfico: tirar a alma de Franz para dar vida à boneca de sua criação. Ele carrega para o palco a boneca lendo o livro.
O que o Dr. Coppelius não percebe é que quem está na cadeira sentada é Swanilda. Ela trocou de lugar com a boneca, levanta da cadeira e começa a se mexer com gestos automatizados de quem ficou muito tempo parada.
Para o Dr. Coppelius, Coppélia está viva. Ganhou vida! Ele não cabe em si de tanta alegria.
O doutor exige mais uma prova de que a boneca tem vida. Dr. Coppelius pede que ela dance um bolero espanhol. Ela dança e, em dado momento, tira uma rosa que traz em seu peito, coloca-a na boca com o caule atravessado e joga no final para o Dr. Coppelius. Depois é a vez do “gigue”, dança escocesa. A boneca passa nos testes!
Da janela, Swanilda ouve o burburinho dos amigos e trombetas que anunciam o casamento dela com Franz. Ela resolve fazer a maior confusão e colocar um fim na farsa. Revela ao doutor a verdade: a boneca não tem vida!
Coitado do Dr. Coppelius! Fica sabendo que sua criação não tem alma.
Ao som das batidas de um sino, a aldeia prepara-se porque vai acontecer um lindo casamento. Nem mesmo o Dr. Coppelius é deixado de lado. Será feita uma vaquinha, e o dinheiro será doado para que o cientista continue a inventar.
Fim da história. Tudo é bom quando acaba bem e em festa.
Sala São Paulo parece um palácio
As crianças do Pro Saber (ONG de Paraisópolis) pousaram para as fotos do site Panis & Circus antes de entrar na Sala São Paulo para ver “Coppélia”, em 7/06. Segundo a assistente de coordenação e professora Lia Olival, no começo do espetáculo, elas acharam linda a Sala São Paulo. Para muitas crianças, o espaço parece um palácio. Depois de ver o espetáculo, elas disseram que gostaram do que viram e pediram para voltar. Querem repetir o passeio!
Postagem – Alyne Albuquerque
Tags: Aprendiz de Maestro, cia. Brasileira de Danças Clássicas, Coppélia, Dr. Coppelius, E.T.A. Hoffmann, Léo Delibes, Luís Fidelis, Mauro Wrona, Paulo Rogério Lopes, Sinfonieta TUCCA, Theatro Municipal do Rio