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Emoção e risos no debate de “O Palhaço”

 

 

Os atores e palhaços Domingos Montagner e Teófanes Silveira inauguram o ciclo de exibição de filmes sobre o circo e comentam o longa de Selton Mello 

Bell Bacampos, da Redação

“O Palhaço é uma fábula sobre o circo”, afirma o ator e palhaço Domingos Montagner. 

“É emocionante. Precisei ver o filme mais uma vez, porque na primeira, só chorei”, conta o ator e palhaço Teófanes Silveira.  Os dois comentaram o filme “O Palhaço”, de Selton Mello, e inauguraram o ciclo de exibição de filmes com a temática circo, no Centro de Memória do Circo, na quarta-feira, 20/8, às 19h.

O bate-papo de Teófanes, o Palhaço Biribinha, com Domingos, o Palhaço Agenor, teve como moderadora Verônica Tamaoki, do Centro de Memória do Circo.

 

O Palhaço Biribinha / Foto Asa Campos

 

“Selton Mello disse que é impossível para um circense não se identificar com pelo menos uma cena do filme. Eu não sei qual foi a cena que eu não me identifiquei”, afirmou Biribinha, 63, que começou no circo com 7 anos de idade. Ele relata que viveu um tempo em uma barraca como aquela retratada no filme e que como não era impermeabilizada adequadamente “quando chovia, pingava em todos os lugares. No verão, como o personagem interpretado por Selton Mello no filme, eu também sonhava com um ventilador”.

Biribinha relembra também que quando o circo chegava a uma cidade era recebido com banda de música, autoridades, o prefeito dava as boas-vindas e tinha foguetório, como em cenas de “O Palhaço”. 

Para ele, é um filme de arte. “Poucos diretores/produtores falaram do circo e do palhaço sem mostrar o brilho, a fantasia, o glamour. O Selton Mello mostrou a realidade por trás das cortinas.”

 

O ator e palhaço Domingos Montagner durante o debate / Foto Asa Campos

 

Domingos acredita que “O Palhaço” mostra a história ”fabulosa” do circo pelos olhos de uma criança – que representa a busca de esperança.   

Em dado momento, Verônica destaca que o filme “O Palhaço” é de 2011, época de dois outros filmes sobre circo: “Água para Elefantes” e “Soleil: dois mundos”.

Ela nota a diferença entre o olhar para o circo carinhoso de “O Palhaço” e o olhar ácido sobre o circo tradicional de “Água para Elefante”  – que mostra o dono de um circo cruel até a chegada de alguém do “Greenpeace”, ironiza, que “salva os animais das garras maldosas dos circenses”.

Em “Soleil, dois mundos”, acrescenta, uma moça está diante “de um circo mambembe e de repente entra em um túnel e encontra um circo maravilhoso, o do Soleil”.  

 

Verônica Tamaoki ironiza o filme "Água para Elefantes" / Foto Asa Campos

 

E ela questiona aos dois palhaços: por que há essa diferença de olhar para o circo no Brasil, refletida em filmes e espetáculos, e os da Europa e dos Estados Unidos?

Domingos considera que a pergunta é difícil. Ele diz não saber direito o motivo. Mas assegura que o olhar carinhoso pousado no circo tradicional é um fato no Brasil.

 “O circo tem um papel importante dentro da cultura nacional. A música popular, praticamente, começou no circo. Os primeiros artistas populares tocavam e gravaram no circo. E o circo-teatro é um fenômeno nacional e da América do Sul.  O circo serviu para divulgar a dramaturgia e influenciou a TV e o cinema também”, afirma Domingos.

A gravação de um episódio da série “Retrato Falado”, da TV Globo, sintetiza sua fala. O Circo Zanni (do qual Domingos é um dos fundadores e diretor artístico) estava montado na rua Augusta, centro da cidade, em 2006, e a equipe do programa global foi assistir ao espetáculo e gostou da atmosfera. Por isso resolveu filmar no Zanni o episódio que fala do encontro entre Oscarito e sua mulher no picadeiro. Oscarito, sucesso das telas do cinema brasileiro, veio do circo, e anos depois, um momento importante de sua vida é filmado no Circo Zanni para o “Retrato Falado” da TV. 

Em relação aos americanos, Domingos diz que, às vezes, eles são um pouco “esquisitos”. Mas nota que fizeram grandes filmes como “Trapézio” e o “O maior espetáculo da Terra.”

 

Domingos, do Zanni e La Mínima, e o Palhaço Biribinha falam do filme de Selton Mello / Foto Asa Campos

 

Verônica concorda que são mesmo filmes que se tornaram “cult” mas que, àquela época, anos 50 e 60, não existia a ruptura com o circo tradicional que é um  fato mais recente – e acentua-se nos anos 2000.

Hoje, para europeus e americanos chega até mesmo ser depreciativo falar da estética do circo tradicional.

Pode ser, acrescenta Verônica, que o circo-teatro com a valorização da dramaturgia e da música popular -– e que não fez parte da trajetória circense em terras europeias e americanas -– tenha impedido a ruptura no Brasil entre o circo contemporâneo e o tradicional.  

Biribinha assegura que o circo-teatro tem suas raízes na poesia e que o brasileiro gosta muito do circo, que evolui a cada dia, e quem não valoriza essa arte tradicional são as autoridades que comandam as políticas públicas culturais no Brasil.

E por falar em autoridades, Biribinha não perdeu a chance de lembrar um episódio engraçado de sua carreira. Ele conta que uma vez o circo tinha uma esquete em que mostrava um batalhão de soldados enfrentando um capitão que questionava com quem eles tinham saído, do quartel, na noite passada. E um a um os soldados diziam que tinham saído com a Zenaide. Até que um deles disse que não tinha saído do quartel, e quando o capitão perguntou o nome dele, respondeu com voz de falsete: “Zenaide”.

 

Na plateia, a loira Marlene Querubin, do Circo Spacial, e Biribinha, com as mãos cruzadas / Foto Asa Campos

 

O delegado que estava presente na plateia não achou graça e levou todos para a delegacia. E questionou: “O senhor acha que nas Forças Militares tem veado?”. Por pouco não passaram a noite no xadrez.

Entre risos, aplausos e emoção, os dois palhaços e mais Verônica Tamaoki finalizam o bate-papo com a montagem de um esquete, sob o comando de Biribinha, a respeito de uma dívida de 60 reais, que deixa clara a alegria esperta de um palhaço (conforme pode ser visto no vídeo da capa).

 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

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3 Responses to "Emoção e risos no debate de “O Palhaço”"

  1. Verônica Tamaoki disse:

    Muito boa a reportagem. Parabéns, Panis & Circus! É um luxo para o circo poder contar com um canal de comunicação com essa qualidade. As fotos, os textos, a diagramação, tudo feito com muito capricho e competência. Viva! Viva!! Viva o Panis & Circus!!!

  2. >“Selton Mello disse que é impossível para um circense não se identificar com pelo menos uma cena do filme. Eu não sei qual foi a cena que eu não me identifiquei”, afirmou Biribinha.<

    Concordo e me incluo nessa. Além de meus 46 anos como compositor, 31 como jornalista, 21 como escritor e 39 como tradutor, já contabilizo circo anos como estudioso de música e circo – a partir de uma pesquisa sobre o assunto encomendada a mim pelo Centro de Memória do Circo e que se revelou a maior do gênero em nível mundial – e dois anos como artista circense: em 2012, a convite de Verônica Tamaoki, fiz parte da banda do circo Pindorama, que fez uma temporada de dois meses no terreno do Teatro Oficina em parceria com o projeto Bixigão de assistência a crianças de rua. Toquei violão e contrabaixo, e nem preciso dizer que me identifiquei com o tocador de banjo do filme.

    Por sinal, O Palhaço é um dos melhores filmes brasileiros dos anos 1970, só que feito no século 21. Inclusive, o debate me fez ficar pensando dentro de meu parco entendimento e conhecimento de cinema. Vejamos: até onde sei, filmes estrangeiros com temática circense não estrelados por comediantes (exemplo: Uma Tarde No Circo dos Irmãos Marx) costumam ser dramas ou tragédias (O Maior Espetáculo Da Terra, Trapézio, Circo Dos Horrores, A Estrada Da Vida, O Que Leva Bofetadas, Santa Sangre, o citado Água Para Elefantes); os dois únicos filmes circenses alegres não estrelados por palhaços ou humoristas de que pude me lembrar são brasileiros: Bye Bye Brasil e este O Palhaço.

    E uma coisa que aprendi na vida é que o circo é mais uma de tantas coisas estrangeiras que se abrasileiraram e criaram forma própria. O circo brasileiro é tropicalizado, carnavalizado, tem ginga, tem samba, maracatu, caipirismo, jeitinho… O filme O Palhaço retrata muito bem isso, incluindo até a famosa chula "hoje tem espetáculo".

    Agradeço a Verônica Tamaoki por me convidar a participar do debate e anuncio que estarei presente na próxima edição – já sei, na segunda quarta-feira de setembro! Oh! Sol, oh! Lua, a vida é bela, olha O Palhaço brilhando na tela…

  3. Helga Silveira disse:

    Ah que encontro maravilhoso!Poder apreciar ainda que a distância o olhar de três pessoas com histórias diferentes e que em algum momento da vida se encontram pelo amor ao circo é fascinante. Que arte linda e rica é a nossa! Parabéns Panis & Circus pela bela reportagem! Parabéns querida Verônica por suas ideias brilhantes que fortalecem a cultura circense e enriquecem a vida de quem tem a oportunidade de ver e participar dessas ocasiões! Parabéns Domingos Montagner por ser também um defensor da arte circense e Parabéns pai (Biribinha) por ser quem vc é, por representar tão bem o circo e o circense tradicional ou não, temos muito orgulho de tudo que vc é e faz. E como diz minha amiga Verônica Tamaoki: E Viva o Circo!!!!!

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