Riso e drama estão presentes na peça, que brinca com trapézio e pole dance
Janaína Leite
Uma mulher está prestes a morrer em uma cama de hospital. Outra passa os dias entre os livros, a TV e o cachorro. Apesar da diferença de idade, ambas têm muito em comum: são pessoas solitárias, tragadas por imagens difíceis de explicar. O passado ronda as duas e acinzenta o presente, até que um encontro leva a um acerto de contas. Eis a premissa de “Memória Roubada”, espetáculo concebido e dirigido por Mark Bromilow, que estreou 11/10 e ficou em cartaz até 3 de novembro, no Centro Cultural São Paulo.
Bel Mucci, vestida de vermelho, anda de bicicleta no ar / Foto Asa Campos
Ao longo da peça várias técnicas teatrais desfilam diante dos espectadores. Da marionete ao musical, dos exercícios circenses ao teatro de sombras, do drama à comédia pastelão, tudo faz parte de “Memória Roubada”. Textos poéticos intercalam a ação, narrados por Walderez de Barros. Ela não está em cena, mas imprime fragilidade e poesia à voz de Aparecida, a mulher doente. No palco, a personagem é representada por um boneco manipulado por Bruno Rudolf, intensificando a sensação de que Cida já quase não pertence a este mundo. O resultado é de uma beleza tocante.
Cena que satiriza novela protagonizada por Bel Mucci e Ricardo Rodrigues/ Foto Asa Campos
“Estou na água, num mar de lágrimas, passando por ilhas que não posso alcançar”, percebe Aparecida. O texto dança nos ouvidos e quem está lá acredita, fica enternecido com aquele quase eco de Fernando Pessoa. “Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo que assisto sou eu”, escreveu o poeta, entre seus tantos desassossegos.
Enfermeira (Natália) e o técnico (Ricardo) / Foto Asa Campos
Aparecida evoca as nuances da velhice e o esmaecimento progressivo da consciência. Lembranças boas e más sobrepõem-se à aproximação da morte, realidade e delírio animam o corpo exausto, prestes ao último sopro. Já disse um filósofo que a consciência da morte faz com que o tempo que resta seja um tempo para a sinceridade, pois todas as máscaras são como folhas que o vento leva.
Bruno Rudolf dá vida à marionete ao lado de Natalia Presser no papel de enfermeira / Foto Asa Campos
Mas não se engane quem pensa em “Memória Roubada” como uma experiência de tristeza. A risada está presente na maior parte do espetáculo, seja com um ator travestido de cachorro, ou com a sátira de telenovelas, ou com pole dance (tipo de dança feita a partir de movimentos de ginástica em torno de uma barra vertical). A peça é multifacetada e ganha os espectadores.
Ziza Brisola, como bibliotecária e Rudolf como seu “cachorro” / Foto Asa Campos
O contraponto de Aparecida, Renata, a bibliotecária vivida por Ziza Brisola, é bem conduzido. O enfoque na relação conflituosa entre a moça e a mãe, com quem sempre teve uma relação distante, traz ao público uma chance de identificação.
Ricardo Rodrigues como o passageiro ‘zen’ e Ziza, a bibliotecária, no aperto do avião / Foto Asa Campos
Bel Mucci, Natalia Presser e Ricardo Rodrigues cuidam da parte cômica e circense. Os figurinos e o cenário casam perfeitamente com o restante da perfomance, compondo um núcleo consistente para a apresentação.
Pessoas com máscaras preparam-se para receber Renata, a bibliotecária, em Bali / Foto Asa Campos
Problema talvez seja o uso de recursos típicos das novelas de TV para resolver a trama, forçando cruzamentos entre as personagens. O efeito, para alguns, pode empalidecer a profundidade do texto e conduzir a jogos de roteiro um tanto previsíveis. A busca do autoconhecimento termina apresentada de uma maneira superficial e resvala em fórmulas do tipo “Comer, Rezar e Amar”. Mas até sobre isso é possível um segundo olhar, uma vez que a própria peça brinca com as situações absurdas que recheiam capítulos de telenovelas e best sellers de auto-ajuda.
‘Táxi’ de Renata, a bibliotecária, em Bali / Foto Asa Campos
MEMÓRIA ROUBADA no Centro Cultural São Paulo – de 11/10 a 3/11
Sala Jardel Filho
Rua Vergueiro,100 – Liberdade- tel 3397-4002
Ingressos: R$ 20,00 (a bilheteria abre duas horas antes do início do espetáculo)
Sextas e sábados às 21h Domingos às 20h
Gênero: Drama Com: Bel Mucci, Bruno Rudolf, Natalia Presser, Ziza Brisola, Ricardo Rodrigues e outros Duração: 80 minutos Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos Texto, direção e concepção: Mark Bromilow
Números aéreos, equilíbrio, malabarismo e música armam a lona
Até 18/11, tem circo armado na Barra Funda, no Memorial da América Latina, região central da capital paulista. …
Com lotação esgotada, trupe despede-se do público na nova unidade do Sesc, inaugurada em 31/5, com espetáculo do Zanni
Após 11 apresentações, todas com lotação esgotada, …
Oi só vi hoje que tinha essa peça e ontem foi o ultimo dia quando vcs estiverem com ela em outro local podem me avisar por email agradecido